terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Recomeços... com sabedoria

Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”  Miguel Torga


Nesta altura do ano, é inevitável não se pensar ou não se falar em finais e retrospectivas, mas também em recomeços, novos objectivos e metas. Inevitável, nem que seja pelas notícias da televisão e jornais ou pelas 12 passas que alguns obrigatoriamente têm que comer à meia-noite na passagem de ano.

Por estes motivos, porque não pensarmos então realmente num recomeço (apesar de cada dia que nasce ser um recomeço), já que a última folha do calendário vai cair? Mas num recomeço diferente. Não num recomeço de uma página / livro em branco, mas num recomeço de um novo capítulo dando continuidade ao anterior. Um recomeço com consciência das nossas dificuldades, das nossas limitações, do nosso passado, das nossas feridas, das nossas aprendizagens... É essa consciência que nos faz ser capaz de criar objectivos e metas realistas para o ano seguinte, sem chegarmos a Fevereiro frustrados, pelas resoluções do novo ano já terem ido por água abaixo...

A consciência sobre nós próprios faz-nos ser capazes de escolher as metas para o próximo ano que encaixem mais no que desejamos e no que nos faz mais felizes. Ao mesmo tempo que ao nos conhecermos melhor, também sabemos melhor escolher os caminhos que queremos percorrer para atingir essa meta. Quanto mais em sintonia e harmonia estivermos connosco próprios, mais facilmente os objectivos vão sendo concretizados, não porque os problemas ou obstáculos não surjam, mas porque sabemos que vão surgir (tal como em todos os anos anteriores) mas que ao os aceitarmos com naturalidade, menor sensação de angústia e frustração vamos sentir.

Ao olharmos para um futuro em construção constante, ao mesmo tempo que a nossa própria (re)construção vai sendo feita e/ou fortalecida, podemos sentir mais facilmente espaço para sermos e construirmos de forma mais livre o que realmente nos faz sentido e nos faz feliz. Passando por situações que escolhemos, com vontade de aprender, mas também aceitar situações novas que surgem, mas que podem ser abraçadas e vividas de forma positiva, retirando aprendizagens e o acumular dessas aprendizagens facilita-nos a recomeços... com sabedoria.



A equipa da ClaraMente deseja um Novo Ano cheio de recomeços com sabedoria e Bem-Estar Emocional!

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Resoluções de ano novo?!? E por que não gratidões por este?

Comemora-se hoje o solstício de Inverno, o que significa que depois de uns dias que serão mais curtos, estes (com luz solar), e durante seis meses, serão cada vez maiores. Estou grata por isso!
Estamos também a poucos dias do Natal. Seja por motivos religiosos, por tradição cultural, ou outra, esta é uma época em que geralmente se oferece e se recebe: presentes, companhia, memórias, emoções.
O ano de 2016 está quase a terminar, o que faz também, habitualmente, deste um  tempo de balanço e de desejos para o novo ano.
Para muitos de nós é mais fácil olharmos para aquilo que não queremos ver repetido no novo ano que se avizinha, desejar coisas novas, diferentes, melhores, do que focarmo-nos no que passou ou está ainda a passar-se. Como em muitos outros momentos, depositamos o nosso tempo e energia a fazer algo enquanto prestamos atenção noutra coisa qualquer, o que nos faz perder, por um lado, momentos significativos das nossas vidas, e, por outro, a consciência dos julgamentos e escolhas que vamos fazendo no nosso dia-a-dia. Mas, sem estarmos atentos ao presente, como podemos no futuro não repetir os mesmos padrões do passado? Como podemos questionar os julgamentos que vamos fazendo, a forma como agimos, ou duvidar que as nossas crenças podem não corresponder a uma realidade factual e imutável?
Por outro lado, prendermo-nos aos erros do passado, faz com que a auto-critica, aquela vozinha interior, consiga por estes dias um ambiente óptimo para florescer, minando a nossa confiança em nós mesmos, e comprometendo fortemente o nosso bem-estar: “devias ter feito isto e aquilo! Mais um natal em que andas a correr a comprar presentes desinteressantes à última a hora! Muito bem… um ano passou e quantas das tuas resoluções para 2016 concretizaste?”.  Contudo, uma voz construtiva, de aperfeiçoamento, que nos ajude a fazer ajustes, a corrigir o que precisa ser corrigido, é muito bem-vinda.
Esquecemo-nos muitas vezes que a vida é naturalmente imprevisível e imperfeita, e por isso esquecemo-nos também de ficar gratos pelo que temos, ambicionando quase exclusivamente mais e melhor. Experienciar gratidão pelo que temos, na simplicidade de um pôr-do-sol, ou no sorriso de outra pessoa, não faz de nós pessoas ingénuas e/ou pouco ambiciosas... As pessoas que estão gratas pelas e nas suas vidas já passaram, muitas vezes, por momentos de profundo sofrimento e perceberam que, para elas, são as simples mas significativas coisas da vida que fazem com que tudo valha a pena, perceberam que não precisamos de ter medo de viver o momento (pelo contrário), que isso não nos torna mais fracos e vulneráveis, e que nos permite continuar a abraçar (até de forma mais completa e profunda) novos e grandes desafios.
Estarmos gratos não compromete o nosso esforço e empenho no nosso futuro, permite-nos contudo aceitar que temos mais motivos para nos sentirmos satisfeitos e orgulhosos acerca de quem somos e do que alcançámos, do que ousamos habitualmente reconhecer.

Hoje venho propor que possamos olhar com gratidão para o ano que agora encerra: as aprendizagens que fizemos, as pequenas (ou grandes) coisas boas que nos aconteceram, as menos boas que conseguimos evitar ou com as quais soubemos lidar. Difícil?! É comum olharmos para aquilo que esperamos ter ou ver realizado no próximo ano. Mas hoje, ainda em 2016, desafio que nos foquemos no que este ano nos trouxe de bom... E a ficarmos gratos por isso.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Máscaras Sociais: que uso fazemos delas?


Podemos entender as máscaras sociais como os papéis ou as personagens que desempenhamos em diferentes esferas da nossa vida e que são fundamentais para garantir a nossa adaptação social.
 As exigências e as pressões do exterior obrigam-nos a encarnar diferentes personagens, tais como as de profissional, colega, pai, filho, irmão ou amigo e isso traduz-se na tonalidade de voz, no tipo de discurso, na imagem e na expressão corporal que adotamos em diferentes contextos. 
As nossas personagens servem a situação na qual nos encontramos e saber escolhê-las e usá-las, com consciência e responsabilidade, sabendo quem é o nosso verdadeiro Eu e que ele está sempre presente, é um indicador de flexibilidade e saúde mental. 
Por exemplo, se temos de ir a uma festa num dia em que nos sentimos tristes, vamos escolher e usar uma personagem que, por um lado, vai proteger a nossa intimidade do exterior e por outro, irá promover a nossa inserção naquele meio. Não nos deixamos de sentir tristes naquele contexto, mas não é dessa forma que nos queremos apresentar, sendo portanto útil o recurso a uma personagem cortês e bem educada que responda às exigências daquela situação e ao que é esperado pelo coletivo. 
As maiores dificuldades no uso de personagens surgem quando não existe um verdadeiro auto-conhecimento e o Eu fica identificado à personagem,  fazendo com que a pessoa passe a agir sempre em personagem sem ter consciência disso. Exemplo disso é o caso de uma pessoa que passa a falar e a agir identificada à personagem de workaholic e de autoridade  que ocupa no seu trabalho, abordando as outras áreas da sua vida, isto é,  família, amigos e lazer da mesma maneira, como tarefas a cumprir e a encaixar na agenda. Nestes casos, a perda de certos cargos profissionais pode ser sentida como uma perda de uma parte da própria identidade, podendo levar a quadros depressivos graves.  
O uso adequado de máscaras sociais possibilita experimentarmos o mundo de uma forma saudável, sem ficarmos reféns da desajabilidade social e perdermos a nossa identidade entre todos os outros que vão aparecendo na nossa vida. 
Para além disso podemos considerar que também existem máscaras que nos ajudam a reforçar a nossa auto-estima e a desenvolver as nossas potencialidades, quando, por exemplo temos de fazer de conta que estamos seguros, confiantes e à vontade num determinado papel e mais tarde essas características passam efetivamente a fazer parte da nossa identidade.

E você conhece as suas máscaras? Que uso faz delas na sua vida?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

FoMO?!?

« Se quiséssemos ser apenas felizes, isso seria fácil de alcançar. Mas desejamos ser mais felizes do que os outros, e isso é sempre difícil, já que achamos os outros mais felizes do que realmente são.»
(Montesquieu)

“Nem sabes o que perdeste!” (vem, geralmente, acompanhado de uma mistura de entusiasmado, vaidade, de uma quase acusação e até mesmo pena). Às vezes não sabemos mesmo,  não chegamos sequer a saber, e, provavelmente, até aí nem queríamos ter sabido. Contudo, esta é uma frase que nos dias de hoje parece ter uma elevada probabilidade de deixar quem a ouve ansioso, ou mesmo angustiado: O que é que terei perdido? O que é que não ouvi, comi, experimentei? Do que é que fiquei de fora? Onde é que não fui? Este sentir já tem até um nome: FoMO (do inglês Fear of Missing Out – medo de ficar de fora).

Três em cada quatro jovens adultos refere já ter vivenciado momentos de ansiedade mais ou menos evidente com a possibilidade de perder alguma coisa, de ficar de fora de algum acontecimento e/ou informação.

De acordo com Darlem McLaughlin, quando se está tão focado no(s) outro(s), no “melhor” (nas nossas cabeças), olhando quase (ou mesmo) exclusivamente para fora, sem nos determos muito (ou sequer) a olhar para dentro de nós mesmos, perdemos o sentido autêntico do nosso Eu. Como se este medo constante de ficarmos de fora nos mostrasse que não estamos a participar no nosso próprio mundo como pessoas reais. Esta preocupação constante acerca do que está a acontecer, daquilo que “outros” estão a fazer, afasta-nos gradualmente das nossas próprias vidas,  e de nós mesmos.

É verdade que o mundo contemporâneo garante que saibamos sempre o quanto estamos a perder. Somos permanentemente bombardeados com sugestões (indicações?!?) do que devemos fazer, comprar, desejar, de quais as viagens que “precisamos” fazer, dos empregos que devemos escolher, das bebidas que devemos apreciar... ouvimos frequentemente as pessoas que nos rodeiam falarem acerca das coisas incríveis que fizeram ou dos lugares inacreditáveis que vão visitar...

Mas será este medo de ficar de fora apenas um sinal dos tempos modernos? Uma inofensiva consequência da possibilidade de estarmos permanentemente ligados ao mundo? Ou, por outro lado, será que nos diz algo acerca de nós próprios que precisamos saber?

A investigação mostra que este medo de ficar de fora parece estar associado a baixos níveis de humor e de satisfação com a vida em geral e relativamente às necessidades de competência, autonomia e afinidade.


O que não encontramos cá dentro, que procuramos incessantemente lá fora?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

E quando o peso da responsabilidade nos deixa sem forças

E quando o peso da responsabilidade nos deixa sem forças? E quando sentimos que o “dever” de fazer as coisas bem nos vai consumindo e nos retira energia?

É na fase de adulto que se encontram as maiores exigências da vida. Ser adulto implica construir um caminho no sentido da realização profissional, afectiva e familiar. Na área profissional podem surgir algumas questões relacionadas com a satisfação no trabalho, a pressão que se sente para se ser mais competente, a competitividade, o salário, ou a gestão das relações com colegas e chefes. Na área familiar existem as preocupações de se querer constituir família, as relações amorosas, o ser-se pai/mãe, gerir o tempo entre trabalho e família. E também na área pessoal surgem dúvidas: do que é que realmente gosto? O que é que me satisfaz? Como é que me sinto bem? E equilibrar todas estas áreas não é uma tarefa fácil. Por um lado pensar em nós próprios, ao mesmo tempo que se tem que dar respostas aos outros. Por outro lado a necessidade do tempo e do espaço que precisamos para nos sentirmos livres e livrarmo-nos desse peso, ao mesmo tempo o querer criar raízes e construir algo que naturalmente, implica responsabilidade.
Como manter acordada essa criança que está em nós, essa parte mais curiosa, divertida e espontânea, quando se vive num dia a dia de responsabilidades e exigências?

Cada pessoa poderá ter as suas estratégias, cada pessoa encontrará as suas formas, no entanto é importante pensarmos sobre o que nos leva a sentirmo-nos por vezes culpados, por darmo-nos tempo. Consideramos o lazer algo secundário na nossa vida? Consideramos todas as actividades profissionais prioritárias? Quanto tempo por semana me permito não fazer nada? Quanto tempo por semana me permito a fazer algo por mim e para mim apenas? Não, isso não tem que ser egoísmo... Na nossa sociedade cada vez se valoriza mais os resultados e o termos tempo para nós, tende a ser visto negativamente.

Contudo, para não nos deixarmos consumir pelo peso das “tens” e “deves” e até mesmo para que as responsabilidades sejam assumidas de forma mais responsável, é de grande importância, termos a capacidade de procurar formas de equilibrar as nossas necessidades, e de mantermos a nossa criança curiosa e permitir que tenha tempo para brincar. Sim, porque os adultos também se riem, divertem e brincam.

Alguém partilhou esta frase... “o adulto é uma criança que cresceu”. Isto não significa que seremos, no fundo, todos crianças?

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Como podem os pais aliviar a ansiedade dos filhos em relação aos testes?


A pouco tempo de terminar o 1º período, a fase dos testes está agora a tornar-se mais intensa nas escolas, aumentando a pressão emocional nos alunos para tirarem boas notas.
Efetivamente a ansiedade e o stress não são uma realidade exclusiva dos adultos, também os jovens se debatem com desafios e exigências no seu quotidiano, quer sejam matérias complexas, professores, cargas horárias ou até a necessidade de tirarem boas notas. E se a existência de uma ansiedade moderada é positiva e funciona como uma fonte de energia que ajuda o jovem a mobilizar-se para os seus objetivos, já a ansiedade excessiva torna-se disfuncional e bloqueadora, levando o jovem a sentir-se incapaz de atingi-los. Neste último caso, é frequente encontrarmos quadros de preocupação crónica, queixas de dores sem causa aparente, oscilações bruscas de humor, irritabilidade, alterações bruscas do sono ou mesmo recusa em ir para a escola.
O alívio da pressão é fundamental e os pais podem ter aqui um papel fundamental, na medida que desde logo se constituem como modelos de referência e como tal podem ensinar os seus filhos a combater o stress sendo um exemplo disso.
A moderação das expetativas dos pais é outro dos aspetos a ter em conta, na medida em que posturas muitos perfecionistas e voltadas para os resultados, podem promover o desenvolvimento de quadros de ansiedade aliados a sentimentos de insuficiência e incapacidade por parte dos filhos. As crianças são muito sensíveis às expetativas dos pais e têm uma grande necessidade de cumpri-las para se sentirem amadas e fazerem os pais felizes. Quando a criança chega a casa com um resultado negativo e tal não é bem recebido, havendo uma sobrevalorização da falha em vez do sucesso, tal conduz à interiorização de um sentimento de desvalia e incompetência por parte da criança, com prejuízo ao nível da sua auto-estima. Os resultados negativos deveriam ser encarados como oportunidades de aprendizagem no percurso de vida da criança e não como oportunidades de culpabilização e crítica. Tão ou mais importante que elogiar os bons resultados, é elogiar o esforço que foi feito, mesmo que a nota não tenha sido positiva.
No sentido de atenuar a pressão e a ansiedade dos jovens, é muito importante o estabelecimento de uma rotina por parte dos pais na medida em que tal é organizador e transmite segurança e tranquilidade.  
Na rotina diária tem de ser contemplado tempo livre de brincadeira, atividade e lazer, não esquecendo que no mínimo o jovem deve dormir cerca de 8 horas.
Em fase de testes e exames pode ser útil o recurso a um calendário ou agenda, com as suas rotinas e a marcação do dia dos testes, de modo a permitir o planeamento do trabalho  e estudar com antecedência.
Nas maratonas de estudo importa o estabelecimento de pausas para o corpo e a mente recuperarem, sendo igualmente útil a prática de exercício físico na medida em que a ansiedade é canalizada para o esforço físico.

“Mais importante que as notas são os bons alunos. Daqueles que erram e que aprendem. E mais importante, ainda, que os bons alunos são aqueles que, tendo “várias vidas”, são bons alunos, bem educados e boas pessoas.”
Eduardo Sá


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

"É para amanhã... Bem podias viver hoje"

 ... Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que está p'ra durar
(António Variações,  in É p'ra amanhã))


Já escrevi antes sobre Procrastinação, sobre Desprocrastinar... como lidar com esse adiar não produtivo a que por vezes nos entregamos, o protelar das tarefas mais ou menos triviais que vai ganhando espaço nas nossas vidas, roubando-nos tempo e experiências.


Na letra de É pr'amanhã, António Variações parece falar também de procrastinação (É p'ra amanhã/ Bem podias fazer hoje/ Porque amanhã/ Sei que voltas a adiar), destacando o impacto negativo que esta pode ter na vida do procrastinador  (Quando pensares/ No tempo que perdeste/ Então tu queres/ Mas é tarde demais), e na urgência de viver no agora (É p'ra amanha/ Bem podias viver hoje/ Porque amanhã/ Quem sabe se vais cá estar). Mais do que isso, Variações parece ir além do simples adiar de objectivos e obrigações, e antes falar de sonhos, vontades, desejos desperdiçados ao tempo, de projectos, decisões, vidas, que ficam por (se) cumprir.

Mas, então, por que adiamos o que desejamos? O que nos impede de tentar cumprir o que escolhemos? O que fazemos aos nossos sonhos?


Eu sei que tu
Andas a procurar
Esse lugar
Que acerte bem contigo

Estaremos a ser demasiado exigentes? Mas... e quando já sabemos aquilo que queremos, para onde queremos ir... o que nos detém?


Do que aparece
Tu não consegues gostar
E do que gostas
Já está preenchido


Estaremos a arranjar “desculpas” para não avançar? Porquê? Para quem? Quando e se a vida é nossa, e a escolha foi feita por nós...?!?


Há, por vezes, momentos nas nossas vidas em que, depois da dificuldade em escolher o destino, em olhar com clareza o horizonte, e já com uma noção do caminho por onde queremos ir... não vamos. Ficamos. Permanecemos. Não avançamos, mas também não abandonamos o caminho. É como ficar à porta de casa com a mala feita e os bilhetes da viagem na mão. Não vamos, mas também não deixamos de ir.

À medida que o tempo passa, ficamos cada vez mais e mais desconfortáveis nessa posição, e ainda mais por não avançarmos para onde queremos ir. E esse desconforto, a dúvida acerca do motivo, pesa-nos, sobrecarrega-nos, parece fazer-nos sentir que é ainda mais difícil partir...


Por vezes tomamos decisões sem que a emoção e a razão sejam integralmente consideradas (nem tem que assim ser). Contudo, estes são os momentos em que, racionalmente, a decisão que tomámos parece considerar e responder todos os critérios que estipulámos, mas, emocionalmente, não nos sentimos seguros em avançar, as nossas emoções não parecem agradadas com aquilo que a nossa razão escolheu. A mente decidiu, mas o corpo não avança. Procurar alcançar aquilo que se deseja pode ser sentido como insuportavelmente arriscado, como se o desconhecido nos colocasse à mercê do destino, da esperança, do que não podemos controlar, e mesmo da possibilidade de perda. E vem a ansiedade, a tristeza, o medo do que aí vem e que nos paralisa.

Deixemo-los entrar. Aceitemos que podem ser sinais importantes do nosso caminho. Sinais que podem ajudar-nos a perceber, por exemplo, que estamos a tentar caminhar para onde deveríamos ir, e não para onde queremos genuinamente chegar.



Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A Música como recurso para o nosso Bem-Estar

A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição – Aristóteles

A música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas) é uma forma de arte que se constitui na combinação de vários sons e ritmos, seguindo uma pré-organização ao longo do tempo. O campo das definições possíveis é na verdade muito grande, existem definições de vários músicos e de musicólogos, mas podemos considerar segundo estudos, que a música é uma linguagem universal, e faz parte da história da humanidade desde as primeiras civilizações. Não se conhece nenhuma civilização que não possua manifestações musicais próprias. Definir a música não é tarefa fácil porque apesar de ser intuitivamente conhecida por qualquer pessoa, é difícil encontrar um conceito que inclua todos os significados dessa prática. Mais do que qualquer outra manifestação humana, a música contém e manipula o som e o organiza no tempo.

De que forma a música lhe toca? Como é a sua relação com a música? E se tivesse que escolher 10 músicas como a banda sonora da sua vida? Aceita esse desafio?

Existem inúmeros estudos e cada vez mais, que comprovam os efeitos positivos da música no nosso cérebro. E hoje, decidi trazer esta sugestão de reflectirmos e tornarmo-nos mais conscientes sobre a influência que a música tem sobre nós, para a podermos utilizar como um recurso para o nosso bem-estar.

Um dos desafios é recordar de forma cronológica quais as músicas que nos foram marcando na nossa vida, na infância, na adolescência, na juventude, na vida adulta... Um outro é recordar associações de determinados momentos marcantes a determinadas músicas, tal como uma viagem, umas férias, um aniversário, um momento, uma pessoa... Um outro desafio será perceber as sensações que essas recordações nos trazem. O que nos faz sentir quando ouvimos ao vivo aquela banda que seguimos há 30 anos e quando tocam aquela nossa música favorita? Essa sensação é indescritível? Pois é. Será pela sonoridade em si? Será pela história daquela música e banda? Será pela familiaridade do som? Talvez por tudo isto e mais... E qual a sensação quando estamos no meio do trânsito e de repente passa uma das nossas músicas favoritas? Qual a sensação no final de um concerto que simplesmente adorámos? E o que sentimos quando decidimos colocar uma música, que acabámos de conhecer em modo “repeat”?

A música tem a capacidade de alterar o nosso estado de espírito. O corpo reage às vibrações dos sons, são despertadas sensações e emoções que interferem no funcionamento de nosso organismo. Atinge a nossa parte motora e sensorial por meio do ritmo e do som, e por meio da melodia, atinge a afectividade. A música proporciona alegria, melancolia, tensão, energia, motivação, sensualidade, calma, tranquilidade... A música tem um efeito quase mágico sobre as pessoas, algumas músicas motivam-nos para correr uma maratona inteira, outras fazem-nos querer ficar na cama e a chorar, e outras fazem-nos viajar no tempo.

A capacidade que a música tem de despertar sensações e emoções, pode ser a base de um dos seus maiores benefícios e um dos nossos recursos. E se conseguirmos identificar o nosso estado de ânimo (tristes, zangados, desmotivados...), e percebermos que tipo de música nos faz sentir melhor? Não poderemos efectivamente utilizar a música como nossa aliada?

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A arte de sermos nós mesmos



Sermos nós mesmos é algo que a maioria de nós aspira e que relaciona com uma postura de autenticidade, espontaneidade e liberdade perante a vida e os outros.
No entanto, esta autenticidade é muitas vezes confundida com a tendência por parte de algumas pessoas em dizerem tudo aquilo que pensam em relação aos outros, sem se preocuparem se estão a magoá-los ou não. Será isto sermos nós mesmos? Na realidade o que isto revela é sobretudo a existência de um descontrolo dos impulsos agressivos e de uma falha na adequação social mascaradas por detrás da designação de autenticidade mas que em nada se relacionam com ela.
A autenticidade relaciona-se sobretudo e antes de mais com a compreensão do nosso funcionamento, isto é com um auto-conhecimento profundo.
Todos nós, até determinado ponto, somos condicionados, não só pela nossa biologia, isto é pelas nossas características inatas, mas também por fatores culturais. Nascemos e crescemos inseridos numa sociedade e para vivermos integrados nela, é esperado adotarmos e respeitarmos determinados códigos e regras de conduta. Por exemplo, para fins de ordem profissional e de garantia do nosso sustento, temos necessidade de sermos aceites e de incorporar certos limites e condicionalismos que vêm de fora. No entanto, torna-se problemático quando a preocupação pela adesão às normas vigentes é de tal modo excessiva e exagerada que leva o indivíduo a esconder a sua individualidade por medo do julgamento dos outros, vivendo em sofrimento por isso. 
Importa não esquecer que existe sempre um espaço para o exercício da nossa liberdade individual, para nos reinventarmos e sermos criativos e é esse espaço que é necessário ocupar e viver com responsabilidade. É o espaço onde nos descobrimos, quer no que respeita aos valores que nos orientam, à atividade intelectual e desportiva que nos estimulam, ao sentido de humor com o qual nos identificamos, à forma como nos relacionamos, às atividades que escolhemos para lazer, entre outras dimensões da nossa identidade. No fundo, é no exercício deste livre arbítrio, que nos vamos conhecendo e entrando em  contacto com o nosso verdadeiro eu.
Uma das principais dificuldades vividas por muitos de nós está exactamente em explorar e em viver este espaço, quer seja por medo do julgamento do exterior face a eventuais erros ou por receio de sair da zona de conforto à qual estamos habituados. No entanto, se queremos realmente sermos nós mesmos, teremos em primeiro lugar de saber quem somos e arriscarmo-nos a viver nesse espaço de liberdade individual onde,naturalmente, vamos entrar em contacto com as nossas vulnerabilidades e limitações mas também com as nossas forças e potencialidades.
Podemos dizer que a compreensão e a aceitação do verdadeiro eu na sua íntegra, por um lado, e a vivência de acordo com o que se é e acredita, por outro, são duas condições fundamentais na promoção de uma maior harmonia na relação connosco e com os outros e no domínio cada vez melhor na arte de sermos nós mesmos.


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Sem direcção?... e a importância de conhecermos os nossos Valores

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

... cantava José Régio, no Cântico Negro. Muitos de nós já experienciámos esta realidade em alguns momentos das nossas vidas. Não sabemos para onde vamos, o que queremos, sabemos apenas que não é por ali...
Por onde queremos ir, afinal? Por onde é que vamos? Em momentos como estes procuramos por algo que nos oriente, que nos guie, desejamos uma bússola nos indique o caminho... Parecemos esquecer (ou desconhecer) que é em nós que está essa resposta. É dentro de nós que podemos encontrar esse rebuscado instrumento de navegação chamado Valores.
É frequente confundir-se Valores com Objectivos. Os Valores são uma direcção. Os Objectivos são destinos. Quando alcançamos um objectivo, o trabalho está feito, terminámos. Os valores, por seu lado, são viagens de uma vida. Não acabam. Guiam-nos ao longo da vida.
No entanto, e ainda que sejam coisas diferentes, Valores e objectivos estão relacionados. Muitas e diferentes pessoas partilham, por exemplo, o objectivo de fazer um curso superior, e terão chegado a esse “destino” quando tiverem o certificado na mão. Missão cumprida, tarefa concluída, objectivo alcançado! Contudo, diferentes Valores podem aí ter estado envolvidos: alguns fazem-nos por terem a educação, a aprendizagem, como Valor; outros porque Valorizam a possibilidade de um futuro mais estável financeiramente, e ver este como um caminho para lá chegar; outros vivem o Valor da amizade, e a universidade é um contexto facilitador para conhecer novas pessoas e fazer amigos. Não há Valores bons nem maus... são escolhas (não decisões) que não carecem de ser justificadas ou defendidas.
Há também pessoas, ou momentos, em que parece nada ser Valorizado, em que os Valores parecem não existir. Isso acontece, geralmente, em momentos de quase desespero, ou em que nos sentimos profundamente desesperançados e receamos expressar os nossos Valores, ou, tão só, por não termos tido ainda espaço para entrarmos em contacto pleno com os nossos próprios Valores.
Nesse trabalho pode ser importante questionarmo-nos “Isto é algo que me importa, pelo qual me interesso?”, em vez de “Consigo alcançar isto?”. Os Valores são aspiracionais: Quais os Valores aos quais eu aspiro? Que Valores quero que rejam a minha vida?
E quando olhamos para dentro e começamos a encontrar estas direcções, podemos arriscar questionarmo-nos quais desses Valores que encontrámos são verdadeiramente nossos, quais podem ser resultado da pressão social, ou da vontade generosa de agradar outros. Quais quero manter? Por que estou a fazer isto? Faço-o por mim ou por outra pessoa?
Importa não esquecer que o propósito dos Valores tem que ver com (re)descobrir as nossas próprias vidas, (re)descobrirmo-nos a nós mesmos e... escolher por onde vamos.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

(José Régio, in O Cântigo Negro)


Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

E se as nossas necessidades ficarem em segundo plano... quase sempre?

Falei na semana passada da questão da auto-determinação e da heterodeteriminação e da importância de termos consciência dessa tendência, para melhor entendermos de que forma nos afecta a nós e aos outros e de que forma lidamos com as consequências dessa nossa atitude.

E hoje continuando na linha desse mesmo tema, pergunto, sendo nós mais hetero determinados, ou quando decidimos numa determinada situação sê-lo, quando tomamos determinadas opções, tendo em conta a vontade e a necessidade do outro, ficamos à espera de retorno? E caso esse retorno não chegue, o que fazemos a esse mal-estar que isso nos cria?

Quando tomamos a opção de escolher algo que coloca a nossa necessidade ou vontade em segundo plano (porque é uma opção, podemos escolher colocar a nossa vontade em primeiro ou em segundo plano), podemos ficar genuinamente satisfeitos e realizados por vermos a outra pessoa satisfeita e feliz. Mas e se isso for sempre assim? E se nos apercebermos que a nossa posição nas relações tem tendência de ser essa, a de colocarmos a nossa vontade e as nossas necessidades em segundo plano? Mas e se as pessoas se “habituarem” a esta nossa postura e nós aceitarmos o não retorno, porque escolhemos simplesmente ser assim, sem esperar nada em troca... Aguentaremos realmente não receber nada em troca? Ou estaremos no nosso íntimo à espera de que esse retorno chegue entretanto? E se continuar sem chegar? O que fazemos a essa tristeza, angústia, frustração, desilusão, às vezes até culpa...? E o que fazemos se a nossa vontade e necessidades continuarem a não serem consideradas?

Todas as pessoas têm as suas“feridas", que podem provocar padrões de relacionamento mais complicados e conflituosos, e cada pessoa, conforme a sua estrutura, experiências e organização tem formas diferentes de dar e receber amor. E assim existem pessoas que dão muito, pessoas que sentem que dão muito, outras que precisam de receber e dar de forma igualitária, outras que precisam de receber de forma intensa e constante, e muitas outras formas...

Sem dúvida que podemos ter uma determinada tendência, o que é natural, e o primeiro passo é conseguirmos tomar consciência desse padrão, para o conseguirmos "desconstruir”, para construirmos algo que nos seja mais funcional, mais satisfatório, e que nos permita viver de forma mais harmoniosa connosco próprios e com os outros.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 20 de novembro de 2016

Superando a dor da rejeição



A experiência da rejeição é algo que todos nós já vivenciámos ao longo da vida mas nem por isso deixa de ser menos dolorosa quando acontece.
Quem nunca se sentiu, naquele momento da infância, esquecido ou preterido por parte dos pais? E anos mais tarde, quando o amigo mais chegado, começou a dar preferência à companhia de outro? 
Na fase adulta, esta é uma experiência que continua a ser vivida nas mais diversas situações, nomeadamente nas relações amorosas e de amizade mas também no contexto laboral quer em situações de despedimento ou na ausência de reconhecimento das competências para determinado cargo.
O sofrimento associado à experiência da rejeição é profundo, sobretudo face ao abandono e perda de figuras afetivamente significativas, o que poderá dar lugar a marcados sentimentos de tristeza aliados a sentimentos de zanga e revolta. É como se o investimento afetivo depositado naquela pessoa não tivesse sido correspondido, ficando o próprio numa economia de perda em que deu mais afeto que aquele que recebeu. 
É expectável que este seja um momento de dor e como tal é importante que o próprio conceda a si mesmo o tempo necessário para elaborar esses sentimentos, reavaliar a situação e refletir sobre o que aconteceu. Se a elaboração da perda se processa de maneira saudável, a reação depressiva não se prolonga no tempo nem se pauta por uma intensidade marcada, implicando um sentimento depressivo mas também de zanga.  No entanto, em personalidades depressivas, que durante a infância não se estruturaram de forma segura, a tendência centra-se na culpabilização do próprio face à não correspondência afetiva, sendo esta atribuída à falta de qualidades pessoais. Nestes casos, a frustração afetiva, a indiferença ou a rejeição por parte do outro são suscetíveis de levar à instalação de uma depressão mais grave, mais longa e mais intensa, com sentimentos de inferioridade, podendo induzir diálogos internos auto-punitivos tais como “ele deixou-me porque eu não sou suficientemente atraente e inteligente” ou “há pessoas mais interessantes que eu”.  
Por seu lado, os  indivíduos com personalidades mais seguras, quando percebem que não estão a ser correspondidos, tendem a reajustar o seu posicionamento naquela relação ou procuram chegar a uma solução de compromisso satisfatória para ambas as partes. Nos casos em que a separação é inevitável, importa aceitar e lidar com a tristeza que daí decorre para que as expetativas outrora criadas possam ser diluídas e finalmente seja tempo de voltar a investir na realidade externa, em novos projetos e em novas pessoas. 

Podemos então entender a experiência da rejeição como parte integrante do nosso crescimento, sendo mesmo possível ressignificá-la de forma diferente. Se olharmos para ela como o resultado da escolha do outro em seguir um caminho diferente, podemos integrá-la como sendo uma decisão que se prende acima de tudo com o processo pessoal dele e não nos vamos pôr em causa por isso nem interpretá-la como um ataque pessoal. Assim, é possível vivenciar estas experiências de modo mais construtivo e tranquilo, na medida em que prevalece uma atitude de aceitação e respeito, não só pelo outro mas também pelo próprio, na medida em que a existência de uma auto-estima consolidada apenas torna aceitável uma relação em que haja correspondência afetiva. E isto promove a diluição de uma dor, que de outra forma, nos aprisionaria ao passado, penalizando-nos e impedindo-nos de usufruir daquilo que mais importa: o presente.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

“O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho”... e a dificuldade em viver o Presente

Há uma semana foi anunciada a morte de Leonard Cohen, reconhecido cantor, mas também escritor, poeta, e monge budista. E é como se essa variedade e complexidade estivessem presentes nas suas músicas e letras – goste-se ou não, o ritmo que escolhia e as letras que cantava levaram a que Pico Iyer dissesse que “Cohen takes you in, not up.”, ou seja, que as suas canções não são para elevar o ânimo, mas sim canções que nos fazem viajar para dentro de cada um de nós, em profundidade.
Cohen encontrou na meditação e na vivência budista a forma de desacelerar a vida agitada que tinha. Encontrou-se no silêncio, na quietude, arte de parar, de estar no presente. Terá dito que não ir a parte nenhuma foi a grande aventura que faz sentido em qualquer outro lugar.
Apesar de a prática da meditação ser milenar, de tantos exemplos mediáticos (Cohen, Alan Watts...) destacando a importância de vivermos o presente, da possibilidade de encontrarmos sugestões mindfulness em tantas publicações e até mesmo apps... continua a ser-nos terrivelmente difícil habitar adequadamente este lugar a que chamamos Presente. Também no Livro do Desassossego, Fernando Pessoa escreveu: Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Mas a verdade é que a nossa mente parece muito mais passear entre o passado, de um Presente que já foi, e o futuro, que ainda não está aqui, e que não pode, por isso, ser parte da realidade vivida enquanto não for, também ele, Presente.
Estamos desastrosa e quase permanentemente conectáveis; já não há fins de semana; os dias de descanso são só para alguns; dormimos pouco; corremos muito; comemos mal. E, mesmo quando conseguimos fugir desse ambiente de serviço de urgências, e até quando somos presenteados com um sol magnífico (ou uma super-lua!), o céu mais azul que já vimos, o mar de um turquesa encantador, a brisa que refresca e ao mesmo tempo aconchega... a nossa mente consegue fugir para a reunião que vamos ter daí a dois dias, para a discussão da semana passada com o nosso melhor amigo, ou, simplesmente, para as belas fotos que vamos poder publicar nas redes sociais. É como se esse sol, o mar, a brisa que embala, pudessem ser mais reais, e também melhor apreciados, quando já são memória. Porque no Presente são difíceis de experienciar, com tanto ruído que existe em nós.

Contudo, importa estarmos preparados para esta dissonância entre o espaço temporal em que os nossos corpos e as nossas mentes se encontram. Aceitarmos que estas duas partes de nós nem sempre coexistem no mesmo Tempo. E, com isso, lembrarmo-nos também que o mesmo pode acontecer com as outras pessoas – e que, por exemplo, quando parecem não estar a prestar atenção ao que estamos a dizer, podem simplesmente estar a experienciar esta dificuldade.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Autodeterminado? Ou heterodeterminado?

Quantos de nós temos uma maior tendência em ser autodeterminados? Quantos de nós temos a tendência de ser heterodeterminados? Quantos de nós temos a consciência dessa tendência? Quantos de nós ficamos satisfeitos com essa tendência? Quantos de nós conseguimos ir conciliando estas duas abordagens de uma forma satisfatória para si?

A questão da auto ou hetero determinação, não é de todo, qual a mais ou menos correcta e acertada, mas sim, de que forma temos essa consciência, de que forma nos afecta a nós e aos outros e de que forma lidamos com as consequências dessa nossa atitude.

Por exemplo, quando alguém nos diz que esse curso não tem saída e que por isso temos que escolher outra formação que garanta um emprego, ou quando alguém nos diz que temos que manter o casamento porque, casamento é para a vida. Efectivamente podemos aceitar o conselho e tirar um outro curso, como também podemos tentar manter o casamento. Com certeza que serão as opção mais acertadas, se realmente essas forem uma escolha nossa, sentida. Contudo, quantas vezes sentimos que não é uma opção nossa e escolhemos à mesma avançar com ela? O que nos pode levar afinal a seguir a opinião/conselho/orientação/pressão dos outros, quando estamos a decidir algo para a nossa vida? Na verdade a consequência dessa decisão será vivida apenas por nós... E como é suportar uma consequência que não queríamos, mas que nos vimos levados a ela? Quantas vezes nos sentimos desiludidos, angustiados, arrependidos com um peso que não era suposto? Se temos essa tendência e nos apercebemos que o resultado pode ser devastador para nós, o que nos pode levar a manter essa atitude e a não sermos mais autodeterminados?

Mas por outro lado, quantas vezes decidimos não seguir a opinião/conselho dos outros e seguir a nossa vontade? O que sentimos, quando estamos a fazer o que nos faz mais sentido? Mas quantas vezes nos apercebemos que afinal a outra pessoa podia ter tido razão, ou que teve mesmo. Talvez possamos aprender algo com isso, tenho a certeza, no entanto também nos podemos sentir menos boas pessoas por termos seguido a nossa vontade e não o conselho de quem se preocupa connosco. E quantas vezes surge uma vozinha a chamar-nos egoístas? Mas estaremos realmente a ser egoístas quando seguimos a nossa vontade?

A tomada de consciência das nossas necessidades e o desenvolvimento da nossa assertividade (ver artigo sobre assertividade), possibilitar-nos-á uma liberdade na escolha e uma maior capacidade de lidar com as consequências dessa escolha, de forma mais tranquila e menos culpabilizadora.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 13 de novembro de 2016

Como ensinar o meu filho a estudar?

A aquisição de métodos de trabalho eficazes e de competências ligadas ao saber estudar são determinantes para um percurso escolar e académico bem sucedidos.
A aprendizagem destas competências, muitas vezes negligenciada, não só promove a autonomia dos alunos, como também lhes vai exigir menos tempo de estudo e aumentar a eficácia na compreensão e apreensão dos conteúdos.
Para ajudar os seus filhos a alcançar o sucesso escolar, os pais têm um papel fundamental na promoção da autonomia, responsabilidade e motivação dos filhos, assim como no desenvolvimento das estratégias de estudo mais eficazes das quais se destacam as seguintes:
·         Escolher um local de estudo cómodo, tranquilo e bem iluminado, com a temperatura ideal e isento de fatores distratores, no qual todo o material necessário deve estar disponível.
  • Criar uma rotina de estudo, estando definido esse tempo no horário semanal. Não é possível os alunos estudarem apenas o que lhes apetece e quando lhes apetece, sendo fundamental o incentivo dos pais para um estudo regular e frequente já que tal permite ir acompanhando a matéria diária, possibilitando reforços de aprendizagem e esclarecimento de dúvidas.
  • Gerir o tempo de forma equilibrada, sabendo que os períodos de estudo devem ter uma duração de 40-50 minutos, ao fim dos quais importa fazer uma pausa de cerca de 15 minutos. Repartir o esforço por diferentes momentos traz melhores resultados. 
  • Começar a estudar pelas disciplinas mais difíceis, enquanto os níveis de concentração são mais elevados e passar depois para as disciplinas mais fáceis.
  • Ler,explicar e praticar 
Ø  Num primeiro momento o aluno deverá ler com atenção as fontes de informação, realizando uma leitura compreensiva, ou seja, ler a frase completa, fazer breves pausas para pensar no que leu e reler quando não compreender. Durante essa leitura é importante ir sublinhando as ideias principais através das quais pode ir buscar as secundárias.
Ø  Numa segunda fase importa que o aluno reproduza a informação por palavras suas como se estivesse a dar uma aula, porque mais facilmente a informação ficará armazenada na memória a longo prazo, especialmente nos alunos cujo processamento da informação é feito preferencialmente pela via auditiva. Como uma das melhores maneiras de aprender é a ensinar, ao “ensinarem a matéria aos pais” os pais podem assumir um papel importante, nomeadamente fazendo perguntas à criança para aferirem se ela consegue explicar, pedindo pormenores e exemplos ou uma explicação diferente.
A  realização de apontamentos e resumos, reescrevendo por palavras suas os aspectos considerados mais importantes, permite igualmente trabalhar e sistematizar a informação. A elaboração de esquemas de chavetas ou de setas é outra estratégia útil sobretudo nos alunos cujo processamento da informação é feito preferencialmente pela via visual.
Ø  Por último, o estudo implica que o aluno consiga demonstrar o que sabe através de diferentes tipos de exercícios e perguntas, sendo a simulação de teste uma estratégia muito eficaz.

Importa salientar que cada aluno tem o seu próprio perfil de aprendizagem, pelo que devem ser exploradas e encontradas as estratégias de estudo mais eficazes para cada um. A valorização por parte dos pais do esforço, do trabalho e dos progressos dos seus filhos, promove igualmente o sentimento de confiança, de competência e a motivação para os estudos. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A tristeza como um farol...

Um dos meus “mentores” costuma dizer que quem não entristece… deprime. Susan Piver diz que o desespero é consequência de lutarmos contra a tristeza. O desconforto e mal estar associados a quando sentimos tristeza fazem-nos, por vezes, colocar no seu lugar emoções que imaginamos (e, mais do que isso, desejamos) magoarem menos, como raiva, desesperança, desamparo…
Sabemos que esta raiva nos complica frequentemente a relação com os outros, e que a desesperança e o desamparo nos levam, quase irremediavelmente, a refugiarmo-nos na inacção. Nada disto cumpre a sua função inicial, pois não?!? Não ficamos, de todo, menos tristes do que estávamos inicialmente…
Mas, e se encararmos a tristeza que estamos a sentir como uma chamada de atenção? Como o início de um caminho que nos ajudará a sentirmo-nos melhor, mais felizes... Ou seja, olhar a tristeza como uma oportunidade, dolorosa, para vermos aquilo que fomos ignorando e precisamos saber, e que nos levará a uma nova fase de mudança e crescimento.
Não nos iludamos, “abraçarmos” a nossa tristeza, sem a camuflar com outras emoções ou actividades, não nos faz sentir imediatamente bem: é difícil e, por vezes, mesmo doloroso. Mas permite-nos sentirmo-nos vivos, em contacto connosco próprios. Dá-nos a possibilidade de parar, observar, e ganhar consciência acerca do que está mal nas nossas vidas… a única forma de podermos voltar a trazer-lhes equilíbrio. Ao prestarmos atenção às nossas emoções, à nossa mente, é como se estivéssemos a vê-la trabalhar, e isso pode ajudar-nos a não nos sentirmos tão oprimidos pelos nossos pensamentos, e, portanto, mais livres para fazer diferente, para mudar.
Contudo, a sensação de desamparo tem aqui um forte impacto, uma vez que pode fazer-nos sentir que não somos capazes de mudar a nossa situação, e, portanto, a tristeza permanece. Por outro lado, a sensação de esperança, a crença nas nossas capacidades, e a coragem em agir essa autoconfiança, permitem melhorar o nosso humor. Como refere James Gordon,  assim que aprendemos a expressar as nossas emoções, nos comprometemos em nos ajudarmos a nós mesmo, e a chegar aos outros, já estamos no nosso caminho.
Por outro lado, e como já fui falando noutros textos, ao fugirmos de qualquer emoção, neste caso da tristeza (e de qualquer estado a ela associado), corremos o risco de permanecer presos nos mesmos padrões de sempre, nos hábitos, ideias e formas de nos relacionarmos com os outros que se foram deteriorando, que não nos servem.

Este não é, como vemos, um caminho sem obstáculos. A dúvida, a solidão, o orgulho, o ressentimento, a procrastinação, o perfeccionismo, o medo... todos eles podem aparecer, mesmo sem serem convidados. Olhêmo-los antes como desafios, e usêmo-los como faróis que nos ajudam a ver melhor o nosso prório sentido, propósito e direcção.