terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Procura-se: mais Empatia!


Como seria o mundo se fossemos todos um pouco mais empáticos? Como seria a nossa vida, o nosso dia-a-dia, se não levássemos tão a peito cada “falta de respeito” que consideramos dos outros, muitas vezes apenas por agirem de forma diferente? Como seria termos mais empatia pelos outros, e por isso sermos mais tolerantes e aceitantes com o que consideramos “erros” dos outros? Como seria a nossa vida sem o constante julgamento? A empatia, a tolerância e a aceitação andam de mãos dadas.    
    

Tendo em conta que a tolerância se define do latim tolerantĭa (constância em sofrer), “é um termo que define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Do ponto de vista da sociedade, a tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são as normais no seu próprio grupo. Assim, a partir da tolerância, é garantida a aceitação das diferenças sociais e a liberdade de expressão. Tolerar algo ou alguém é permitir que algo prossiga, mesmo que a pessoa não concorde com tal valor, pois é dado o respeito de discordar. Ser tolerante implica aceitar que todos temos a liberdade de escolha das nossas convicções e que todos temos o direito exatamente igual de desfrutar da mesma liberdade”.

A empatia é a nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e conseguirmos ver através do outro, e mesmo que não se partilhe da mesma opinião ou da mesma perspetiva, a empatia é isso mesmo, ver através das suas lentes e compreender então a sua visão. No mesmo nível... nem melhor nem pior. Compreender assim, que pelas diversas razões (educação, aprendizagens, experiência de vida) as pessoas criam e desenvolvem visões e opiniões diferentes, todas elas válidas. Sem dúvida, um exercício de descentração.

Nos últimos tempos, parece-me que temos assistido a um aumento da intolerância social. Violência e atos de intimidação contra pessoas que exercem a sua liberdade de opinião e de expressão. Parece-me que se tem confundido dar opinião com ditar opinião de forma fundamentalista, anulando-se todos os pontos de vista diferentes. E parece-me que isso tem vindo a ganhar espaço sobretudo nas redes sociais, um pouco sobre todos os temas. De repente, temos doutorados e especialistas em todas as matérias, opinando como se cada um, individualmente tivesse a verdade absoluta.

Isso é assustador. Estamos cada um a crescer e a viver na sua própria bolha? Até que ponto a pandemia, ao exigir um maior distanciamento social, em que as pessoas se fecharam mais nas suas casas, também se fecharam mais nas suas redes sociais, na sua bolha, na sua realidade e as suas opiniões se tornaram mais e mais fundamentalistas?

Onde está aqui a empatia!?

É fundamental para uma sociedade harmoniosa, haver a capacidade de reflexão e a capacidade crítica, e isso acontece quando todos podemos partilhar as nossas opiniões e crescermos com essas partilhas, podendo assim evoluirmos como sociedade e como pessoas. Mas nesse processo também faz parte querer ouvir e compreender o outro lado e a outra perspetiva, o querer ouvir e compreender de forma genuína. Mas para conseguirmos fazer isso, temos que desligar o botão do julgamento e da ideia de que a minha perspetiva é melhor que a do outro, ou que eu tenho razão. Um olhar desapossado dos próprios valores e preconceitos, reconhecendo e aceitando que há diferentes maneiras de pensar e agir. E talvez refletir sobre a necessidade de termos razão...!?

Assim, tendo em conta que termos saúde mental também significa termos a capacidade de adaptação e conseguirmos criar relações com pessoas, é essencial olharmos para a nossa capacidade de empatia e tolerância como um aspeto essencial a ser refletido. Uma pessoa mais empática e tolerante tem uma maior flexibilidade mental, tem uma maior capacidade de se adaptar e isso permite com que a pessoa possa lidar melhor com situações inesperadas, de stress e de frustração, vivendo de forma mais tranquila e harmoniosa.

Proponho uma reflexão sobre este tema... Sou tolerante? Sou empático? Quais são as consequências da minha tolerância e empatia ou falta delas, em mim, nos outros e nas minhas relações? Como me poderei tornar mais empático e tolerante e como isso me faria sentir? Sugiro que numa próxima conversa faça esse exercício, escutar genuinamente essa pessoa e colocar-se no lugar dela, compreender. Sem dúvida que as diferenças serão mais facilmente compreendidas e será mais tolerante e aceitante, mesmo sem concordar. Mas não se sente mais próximo dessa pessoa?

Artigo publicado na Revista Psicologia na Actualidade, Psychology Now, nº 60 Jan-Fev-Mar 2023.