domingo, 26 de novembro de 2017

Empatia e Simpatia: qual a diferença?




Os conceitos de simpatia e empatia, apesar de muito utilizados, continuam a ser objeto de confusão e nem sempre são empregues da forma mais adequada.
Podemos entender a simpatia como um sentimento de afinidade com determinada pessoa, que leva o indivíduo a estabelecer uma harmonia no encontro com ela. Simpatizamos com amigos e com as pessoas com quem partilhamos afinidades, interesses e valores e nas quais reconhecemos alguma compatibilidade e complementaridade com o nosso funcionamento.
Por seu lado, a empatia implica a capacidade de nos posicionarmos no lugar do outro para compreendermos a sua realidade interna, independentemente da pessoa em questão, de estarmos ou não de acordo com ela ou de simpatizarmos ou não com ela. A empatia genuína está ao serviço da comunhão emocional, da aceitação e do respeito pelo outro e pela sua realidade, o que implica uma atitude de não julgamento e de despojamento de preconceitos.
Demonstrar simpatia por alguém, isto é, gentiliza e amabilidade, sendo-se amistoso, agradável e educado, não implica necessariamente que também se seja empático. Muitas vezes, a simpatia pode até esconder uma empatia diminuta, nos casos em que a simpatia é utilizada para agradar e estimular no outro sentimentos positivos em relação a nós, com o intuito de se obter algum tipo de aprovação e valorização narcísica.
Quando somos empáticos, posicionamo-nos no lugar do outro para nos sentirmos em sintonia com as suas emoções e acedermos à compreensão do seu funcionamento. Este movimento empático implica olhar o outro com isenção, isto é, um olhar despojado dos próprios valores e preconceitos, reconhecendo e aceitando que há diferentes maneiras de operar.
A boa capacidade empática pode ser entendida como a capacidade de entender o outro tendo como enquadramento a realidade deste e nunca utilizando como referência a nossa experiência subjetiva. Quando colocamos os próprios sentimentos no outro, acabamos por incorrer numa confusão entre o eu e o outro. Exemplo disso, é o caso da pessoa que fica muito aflita ao percecionar o sofrimento de um animal que está com frio, ou que lhe prepara uma festa de anos como se isso tivesse significado para ele,  na medida em que já o vê na perspetiva de um humano e não enquanto um animal. Neste tipo de situações, em que a pessoa transporta para o outro a sua realidade, fica dificultada a possibilidade de conhecer e entender o outro tal como ele é, na sua alteridade e singularidade. As dificuldades de comunicação nas relações interpessoais, traduzem muitas vezes lacunas na empatia que não permitem a uma das partes colocar-se no lugar da outra, impondo ao invés a sua maneira de ser e estar na vida.

Na psicoterapia, o movimento empático é fundamental para se entrar em sintonia com o sofrimento do paciente mas importa não se tomar essas dores ou se ficar colado a elas, já que tal diminui a capacidade de ajuda. Depois de se ter captado essa informação, importa ao psicoterapeuta fazer o movimento de retorno à sua posição e a partir do seu ângulo poder devolver um sentido ao que está a ser manifestado, de uma forma mais clara, nítida e ajustada à pessoa em questão. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Viver com uma doença crónica

A doença crónica é definida por ser uma doença que persiste por um longo período e não se resolve num curto espaço de tempo. Há centenas de doenças crónicas conhecidas, e cada uma afecta o corpo de forma diferente. Alguns exemplos de doenças crónicas são: diabetes, doença de Alzheimer, hipertensão, asma, sida, cancro e doenças autoimunes.

As doenças crónicas podem acompanhar durante muito tempo a vida de uma pessoa ou toda a sua vida, e neste último caso não há cura, apenas tratamentos periódicos, tornando-se assim numa ameaça ao bem-estar e na qualidade de vida. Existem as que são potencialmente ameaçadoras à vida, e as que não apresentam risco mas podem ter o potencial de serem fisicamente debilitantes. Além da parte física, as doenças crónicas também apresentam efeitos emocionais e psicológicos que podem ser devastadores e até influenciarem o processo de tratamento. As doenças crónicas naturalmente provocam mudanças na vida da pessoa, para além dos condicionamentos do dia-a-dia, obrigam a tomadas de decisões e à exploração de novos caminhos desconhecidos até então.

Cada doença tem as suas especificidades, seja o número de horas que a pessoa tem de passar em serviços de saúde, as alterações na alimentação, o tempo recomendado de descanso, a possível ausência do trabalho, menos rendimento, modificações nos papéis sociais, alteração de hábitos, dependências e interdependências de outras pessoas. Nas situações em que a pessoa precisa de alguém para se deslocar ou para realizar alguma atividade do quotidiano, as dificuldades emocionais da gestão da doença tendem a piorar.

Perante esta situação, existem algumas questões fundamentais, que ajudam a uma maior aceitação da doença e a uma maior procura de alternativas que aumentam o bem-estar apesar da doença:

- Aprender o máximo que puder sobre a doença – Quanta mais informação se tiver, melhor se lida com os sintomas e tratamentos.

-Procurar um médico com o qual se identifique e procurar fazer todas as questões que tiver e tomar as decisões sobre os tratamentos com o médico, e seguir o tratamento de forma adequada.

- Juntar-se a um grupo de apoio e assim perceber que não está sozinho com a doença e que há várias pessoas na mesma situação. Pode receber informações de outras pessoas que vivem com a doença há mais tempo.

- Manter um exercício físico regular adequado à sua situação clínica, um dieta equilibrada e cuidados preventivos, além do tratamento clínico.

- Manter-se activo socialmente, permitindo a aproximação de familiares e amigos e participar em actividades que promovam o bem-estar psicológico.

- Reconhecer e aceitar que, durante o tratamento, poderão haver dias bons e maus.

- Lembrar-se sempre que as pessoas são muito mais do que a sua doença. Pode ter uma doença crónica, mas isso é uma parte da sua pessoa. Além disso também é um pai fantástico, um melhor amigo de alguém, uma mãe dedicada, um avô carinhoso, um excelente profissional, …

- Procurar apoio psicoterapêutico pode ajudar, mesmo quando se sente que tem bom suporte familiar e de amigos, a ajuda de um profissional de saúde mental pode ser necessária e também é muitas vezes aconselhável para os membros da família que lidam com a doença de um ente querido.

                     Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Mental – o Festival que leva a Saúde Mental a todos




Decorreu na semana passada, de 9 a 12 de Novembro a primeira edição do Mental – Festival de Saúde Mental, cujo propósito pretende combater o tabu e o estigma que envolve a saúde mental, trazendo-a à discussão popular através do cinema, das artes e da informação.
Esta foi uma iniciativa inédita em Portugal, inspirada pela dinâmica do festival escocês SMHAFF – Scottish Mental Health Arts and Film Fest – que tem mais de uma década e que conta com provas dadas no que respeita à importância de incrementar uma abordagem destigmatizada da saúde mental.
Este festival pretende que a saúde mental deixe de ser um tema confinado às esferas institucionais ou debatido apenas ocasionalmente ou em situações específicas e que passe a ganhar a mesma visibilidade publica e destaque que os temas relacionados com a saúde física, já que ambas as dimensões se relacionam com o ser humano e são igualmente importantes.
Este primeiro Mental contou com documentários premiados pelo IFF – Internacional Film Fest - e filmes relacionados com as temáticas escolhidas para este ano: Borderline, Prevenção, Alheimer e Alccolismo. Destacaram-se ainda as M-Talks com convidados de renome nas várias áreas cientificas e pedagógicas.
O grande mérito deste festival é levar os temas da saúde mental a todas as pessoas exactamente porque este é um tema que diz respeito a todos nós e não apenas a alguns.
 Disponibilizando informação e promovendo o esclarecimento, a compreensão e a educação do grande púbico, o festival procura incrementar a mudança de mentalidades, erradicando o estigma e o preconceito ainda muito associado à doença mental e que, em muitas famílias, se traduz na tendência para esconder ou ignorar o problemas, pelo medo da rejeição. Neste silêncio, muitos são os casos de pessoas cujos quadros clínicos se agravam e que não procuram ajuda, o que se constitui como uma barreira na recuperação e no risco de isolamento. Numa situação de crise ou de perda significativa, o risco de desenvolvimento de uma doença do foro mental é uma realidade e a existência de suporte familiar e social é fundamental, nomeadamente na procura de tratamento especializado e atempado determinante para uma recuperação efetiva. 
O Mental procura tornar as pessoas mais atentas, conscientes e informadas, visando abolir conceitos errados e transformar a relação das pessoas com a saúde mental,  nomeadamente no que respeita à identificação de sinais de alerta e diagnóstico precoce, à procura dos serviços de saúde e tratamento adequados, à sensibilização quanto à importância do suporte social e familiar, assim como da comunidade em geral na criação de condições para a reinserção destas pessoas na vida ativa, como membros produtivos, auto-confiantes e capazes de desenvolverem todo o seu potencial.