domingo, 14 de abril de 2019

A Importância da Coerência entre as Palavras e os Comportamentos




A coerência associada à previsibilidade e à constância dos cuidados maternos é uma condição que desde cedo se coloca como fundamental para o desenvolvimento psico-emocional da criança. Uma vinculação segura só é possível se a criança usufruir de uma experiência de confiabilidade, a partir da qual pode depender da resposta ajustada da mãe às suas necessidades, o que  lhe vai promover a segurança necessária para explorar o mundo ao seu redor.
Ao longo da vida a perceção de coerência também é fundamental para o desenvolvimento das relações entre as pessoas, isto é, a segurança de se saber com o que se pode contar da parte do outro.
A perceção de falta de concordância entre o que é dito e os comportamentos adotados, levam muitas vezes a uma falência da credibilidade e da confiabilidade, com prejuízo para a relação. Um exemplo disso é o caso de pessoas que dizem gostar de outras e serem suas amigas mas nunca estão disponíveis para falar, ouvir, prestar suporte, estar presente ou cumprir com o combinado, pois existem sempre outras prioridades. Outros exemplos são as pessoas que defendem valores como solidariedade e generosidade mas que depois vivem de uma forma completamente egocêntrica ou situações de incoerência na educação parental quando por exemplo um pai ensina ao filho que deve pedir licença para se levantar da mesa mas ele próprio não o faz.
Lidar com alguém que transmite mensagens antagónicas, quer entre palavras e comportamentos, ou entre linguagem verbal e não verbal,  é gerador de desconforto, podendo levar a um estado de alerta, que tornando-se constante, gera stress e ansiedade.
Se em certas situações esta incoerência é consciente por parte do seu protagonista, outras vezes há em que o próprio nem sequer reconhece os sentimentos antagónicos que lhe estão a causar desconforto e incoerência nele próprio e consequentemente nos outros.
Por exemplo, mediante uma escolha afetiva relacionada com o ir ou não ir viver maritalmente com alguém, a pessoa em questão afirma que deseja essa união mas adia-a sistematicamente, alegando as mais diversas justificações para tal,  porque na realidade está a evitar reconhecer e lidar com eventuais sentimentos contraditórios.  
A disponibilidade para “ouvir” com sinceridade o que cada uma das partes internas do conflito tem para nos dizer é fundamental, só assim é possível reconhecermos e compreendermos as razões do “sim” e as do “não” e colocá-las a dialogar uma com a outra para chegarem a acordos.  
O não permitir esta escuta interna para evitar o desconforto de lidar com sentimentos antagónicos, acaba por se traduzir em reações de incoerência geradores de sofrimento não só para o próprio mas também para o outro. 

Artigo publicado na Revista Psicologia da Atualidade, Psychology Now, n.º43 Out-Nov-Dez 2018