Um
dos meus “mentores” costuma dizer que quem não entristece… deprime. Susan Piver
diz que o desespero é consequência de lutarmos contra a tristeza. O desconforto
e mal estar associados a quando sentimos tristeza fazem-nos, por vezes, colocar
no seu lugar emoções que imaginamos (e, mais do que isso, desejamos) magoarem
menos, como raiva, desesperança, desamparo…
Sabemos
que esta raiva nos complica frequentemente a relação com os outros, e que a
desesperança e o desamparo nos levam, quase irremediavelmente, a refugiarmo-nos
na inacção. Nada disto cumpre a sua função inicial, pois não?!? Não ficamos, de
todo, menos tristes do que estávamos inicialmente…
Mas,
e se encararmos a tristeza que estamos a sentir como uma chamada de atenção?
Como o início de um caminho que nos ajudará a sentirmo-nos melhor, mais
felizes... Ou seja, olhar a tristeza como uma oportunidade, dolorosa, para
vermos aquilo que fomos ignorando e precisamos saber, e que nos levará a uma
nova fase de mudança e crescimento.
Não
nos iludamos, “abraçarmos” a nossa tristeza, sem a camuflar com outras emoções
ou actividades, não nos faz sentir imediatamente bem: é difícil e, por vezes,
mesmo doloroso. Mas permite-nos sentirmo-nos vivos, em contacto connosco
próprios. Dá-nos a possibilidade de parar, observar, e ganhar consciência
acerca do que está mal nas nossas vidas… a única forma de podermos voltar a
trazer-lhes equilíbrio. Ao prestarmos atenção às nossas emoções, à
nossa mente, é como se estivéssemos a vê-la trabalhar, e isso pode ajudar-nos a
não nos sentirmos tão oprimidos pelos nossos pensamentos, e, portanto, mais
livres para fazer diferente, para mudar.
Contudo,
a sensação de desamparo tem aqui um forte impacto, uma vez que pode fazer-nos
sentir que não somos capazes de mudar a nossa situação, e, portanto, a tristeza
permanece. Por outro lado, a sensação de esperança, a crença nas nossas
capacidades, e a coragem em agir essa autoconfiança, permitem melhorar o nosso
humor. Como refere James Gordon, assim
que aprendemos a expressar as nossas emoções, nos comprometemos em nos
ajudarmos a nós mesmo, e a chegar aos outros, já estamos no nosso caminho.
Por
outro lado, e como já fui falando noutros textos, ao fugirmos de qualquer
emoção, neste caso da tristeza (e de qualquer estado a ela associado), corremos
o risco de permanecer presos nos mesmos padrões de sempre, nos hábitos, ideias e
formas de nos relacionarmos com os outros que se foram deteriorando, que não nos
servem.
Este
não é, como vemos, um caminho sem obstáculos. A dúvida, a solidão, o orgulho, o
ressentimento, a procrastinação, o perfeccionismo, o medo... todos eles podem
aparecer, mesmo sem serem convidados. Olhêmo-los antes como desafios, e
usêmo-los como faróis que nos ajudam a ver melhor o nosso prório sentido, propósito
e direcção.
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