domingo, 28 de agosto de 2016

Stress pós-férias? Como evitá-lo no regresso ao trabalho



Para muitos, o final do mês de Agosto marca também o final das férias e a preparação para o regresso ao trabalho no início de Setembro.
Normalmente as férias representam a libertação temporária das responsabilidades, horários e obrigações laborais, assim como a quebra da rotina, o descanso e a entrega a momentos de lazer e descontração com a família e amigos, trazendo muitos benefícios para a saúde. Sair deste registo de tranquilidade e retomar novamente aquele ritmo mais acelerado e direcionado para o dever, poderá desencadear algumas reações indicadoras de stress e ansiedade, sendo frequentes as manifestações de tristeza, irritabilidade, cansaço e alterações no apetite e no sono.
O nível de ansiedade sentido depende igualmente da forma como o trabalho é percepcionado, nomeadamente do grau de descontentamento ou de incerteza que existe em relação ao emprego, bem como do nível de exigência percebido e da qualidade das relações com colegas e superiores hierárquicos. Quando o stress depois das férias é muito intenso e prolongado, isso pode ser um indicador de insatisfação em relação ao local de trabalho e, em alguns casos, à própria profissão, obrigando a um balanço ponderado e a um reequacionamento do rumo laboral a seguir.
No entanto, em proporções moderadas, o stress que costuma marcar o regresso ao trabalho depois das férias, é uma reação normal de adaptação ao dever. Depois da habituação a um ritmo mais lento durante as férias, gerador de bem estar e satisfação quer do ponto de vista físico e emocional, é normal sentirmos resistência em acelerar novamente e regressar à rotina laboral e familiar.
No entanto, existem várias estratégias que poderão ser adotadas no sentido de minorar os sintomas de stress associados ao regresso à rotina laboral, contribuindo para uma adaptação mais eficaz ao ritmo de trabalho:
    • Marcar o regresso a casa um ou dois dias antes da data em que começa a trabalhar para ter tempo para arrumar tudo e preparar-se para retomar a rotina.
    • No regresso à rotina doméstica, dividir as tarefas pelos dias da semana e dar prioridade ao que é realmente urgente, sendo de evitar fazer tudo ao mesmo tempo e cair na exaustão.
    • Tentar deitar-se mais cedo nos dias anteriores ao regresso ao trabalho e dormir 7 a 8 horas, para que a transição para a obrigação no cumprimento de horários seja mais gradual e menos stressante.
    • Transformar o fim das férias num momento de alegria, marcando jantares com amigos, partilhando as experiências de férias, as fotografias e recordando os momentos agradáveis.
    • Tentar chegar mais cedo no seu primeiro dia de regresso ao trabalho para ficar com mais tempo para conseguir planear o seu dia e ajustar-se à rotina. Tentar conversar com os colegas que vão chegando para se atualizar e saber o que aconteceu durante o período que esteve fora.
    • Fazer uma triagem do trabalho acumulado e estabelecer prioridades. Querer resolver todos os assuntos pendentes, o mais rapidamente possível é facilitar a instalação do stress
    • Terminar os primeiros dias do regresso ao trabalho com caminhadas regulares ou com um convívio entre amigos para alivio do stress associado à mudança de rotina.
    •  Procurar incluir na sua agenda semanal algo que lhe dê prazer e seja para si um gerador de emoções positivas ( ginásio, dança, natação, pintura, etc.)
Retomar rotinas e horários gradualmente e reviver emoções positivas associadas ao período de descanso são pois a chave para regressar ao trabalho de uma forma mais ajustada e menos stressante.


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Consciência com música, música com Capicua - Medo do Medo

O mês de Agosto é para muitos de nós aquela altura do ano, em que, independentemente de estarmos a trabalhar ou de férias, temos mais vontade de apanhar sol, de ir a uma esplanada, de ir à praia, de lermos algum ou alguns livros na tentativa de colocarmos a leitura em dia, de ouvirmos música, descobrir alguma música nova ou ouvir as nossas favoritas, ou simplesmente ouvir com mais atenção a letra.

Esta leveza de estar, por termos roupas leves, por os dias serem mais longos, por tudo andar a meio gás, pode-nos permitir estar mais connosco e com os outros, de uma forma mais genuína e total. Também ao ouvirmos uma música essa pode ser mais explorada, mesmo que já a tenhamos ouvido antes. Ouvir a letra, ouvir os instrumentos, ouvir cada pequena parte que constitui a música e ouvir o todo, como se a estivéssemos a ouvir pela primeira vez...

Este mês decidi trazer uma música, “O medo do medo”, da Capicua. 

Admito que não sigo muito este género de música, mas quando a ouvi pela primeira vez achei-a fantástica, com uma mensagem muito forte. Capicua despe a sociedade das suas máscaras, e sem preconceito, de forma nua e crua descreve algo que a maioria não quer admitir: os seus medos e a forma como lida com eles.

O medo está presente em todos nós, “é a resposta emocional a uma ameaça iminente real ou percebida, com pensamentos de perigo imediato e comportamentos de fuga, podendo o nível de medo ser reduzido por comportamentos constantes de esquiva” (DSM-V - Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5ª edição).

É importante aceitar que o medo faz parte de nós e que é adaptativo, contudo, de uma forma exagerada é algo muito limitativo, que pode condicionar a nossa forma de viver. Muitas vezes para evitarmos o que nos causa medo, fugimos de situações e criamos estratégias que se vão incorporando em nós, muitas vezes criando a ideia ilusória de que não temos medo nenhum, mas que optamos apenas por não ir ao encontro daquela determinada situação. Naturalmente ajudará aceitarmos que temos esse medo, para caso estejamos dispostos, em algum momento o podermos confrontar, e assim desenvolver estratégias para lidar com a situação e não continuarmos condicionados.

Capicua, nesta letra, consegue retratar de uma forma muito clara os medos mais sentidos por todos nós. Desde o medo natural de adaptação às fases da vida, do crescer, da rotina e da responsabilidade, do envelhecer, da solidão; das doenças; do medo de falhar as nossas expectativas e a dos outros; medo que os outros nos façam mal; medo de nós próprios, do nosso medo, da loucura.

Relativamente ao medo e à forma como ele se alimenta a si próprio, vou dar um exemplo. Vamos de férias e estamos muito entusiasmados com o local novo que vamos conhecer. Ao mesmo tempo, e apesar de algumas vezes não nos darmos conta, há uma pequena parte do nosso cérebro (a parte mais instintiva, essencial para a sobrevivência) que se activa para analisar todo o tipo de ameaças possíveis (desde da queda do avião, ao mosquito, etc.) e ambas as informações se vão unir, comunicar e influenciar uma à outra. Podemos efectivamente pensar que é um medo natural por andarmos poucas vezes de avião, ou porque é um sítio novo e é natural estarmos um pouco preocupados em termos mais informação (essa é a parte mais adaptativa do medo). Mas também podemos não aceitar de forma natural esse medo e ficarmos alarmados por o ter, e juntamente com a influência das outras pessoas e dos media, cada vez que nos lembramos, ou somos lembrados da possível ameaça, mais medo iremos sentir, independentemente do real perigo. E tendo em conta que o medo é contagiante e que ao nos focarmos no medo, ele vai-se tornar cada vez mais real, leva-nos a um medo cada vez mais intenso e exagerado.

Assim, também me parece importante reflectirmos sobre o próprio marketing e publicidade que as várias empresas de qualquer tipo nos incutem diariamente, em que muitas das vezes se baseiam no medo, e a influência que daí permitimos aceitar. O perfume da moda, a roupa da moda, o telefone da moda, incute-nos tão simplesmente o medo de não pertencermos a um grupo, de não sermos bem vistos, de sermos rejeitados pelos outros (medo que nos apontem o dedo – rejeição social).

Será que ao estarmos atentos e apercebermos-nos da certa “manipulação” publicitária podemos evitar sentir essa necessidade? Será que uma maior consciência dos nossos medos nos permite aceitá-los como adaptativos sem nos limitar?

Obrigada Capicua por esta letra fantástica que nos permite tanta reflexão!

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Só podemos mudar o que conhecemos



“Insanity: doing the same thing over and over again and expecting different results.”
( Albert Einstein ? )

Em tarefas mais ou menos simples, no nosso trabalho por exemplo, é relativamente frequente entrarmos em “piloto automático” – desempenhamos algo que já fizemos tantas e tantas vezes que acabamos por, pressionados por diversas exigências, nos deixarmos inundar por um excesso de confiança que leva a que a nossa resposta aos problemas seja automática. Mas, mesmo assim, sabemos que decisões tomadas em cima do joelho podem levar a graves erros no desempenho das nossas tarefas. A ideia do “fazemos assim porque foi sempre assim que foi feito” parece, felizmente, cair cada vez mais em desuso no competitivo meio empresarial. Mas, então, por que parece continuar a ser, para muitos de nós, uma espécie de mantra da nossa vida pessoal, da nossa resposta emocional aos desafios com os quais nos vamos deparando?
É verdade que se temos uma resposta emocional adequada a determinadas situações, e o nosso comportamento parece ser adaptativo face ao contexto, essas são aprendizagens a repetir. Falo aqui de quando não é isso que acontece... de quando a nossa resposta emocional ou o nosso comportamento não são de todo prazerosos, nem tão pouco, adaptativos ou nos trazem crescimento. Refiro-me aqui a quando repetimos o erro... e, pior, esperamos que o resultado seja diferente.
Só o autoconhecimento nos permite ver os “ângulos-mortos” do nosso comportamento... as situações em que tendemos a ter esta resposta automática e repetida. Este conhecimento implica ampliarmos o conhecimento de nós próprios, estarmos atentos aos nosso processos internos, num processo de auto-observação, amparados por alguém que nos acompanhe e oriente nesse processo, e/ou até mesmo ouvindo as perspectivas e opiniões dos outros acerca do nosso Eu. Contudo, tendemos a evitar este crescimento. Esta é uma tarefa frequentemente pouco confortável... não nos esqueçamos que, em parte, estamos à procura de “falhas no sistema”, de aspectos a corrigir, a melhorar, e isso pode ser doloroso. Olharmos para o nosso verdadeiro Eu, para a verdade dos outros acerca de nós, pode ser bastante assustador: “E se eu não gostar do que vir? E se for mau? E, depois, o que faço com a informação...? Não são mais felizes os ignorantes?”. A verdade pode, efectivamente, assustar... mas só ao tomarmos consciência daquilo que não gostamos em nós, daquilo que sentimos que não nos pertence, daquilo que não nos permite avançar, aceitando que, neste momento, também isso faz parte de nós, podemos mudar. Se não, permanecemos numa batalha em que não conhecemos o inimigo...
E, quando finalmente alcançamos essa consciência, por que continua a ser tão difícil mudar?
Em parte, porque muitos de nós, com maior ou menor consciência disso, crescemos com a ideia de que aquilo que sentimos como sólido e seguro nas nossas vidas hoje, permanecerá sólido e seguro amanhã. Isso faz com que, quando a mudança acontece, e porque não estávamos a prevê-la, não antecipámos que pudesse acontecer, sentimos que somos apanhados desprevenidos, e os efeitos são sentidos, muitas vezes, de forma negativa. Contudo, e infelizmente, o que parecemos aprender muitas vezes nessas situações é que a mudança é má, quando poderíamos antes ouvir “o que é familiar e aparentemente estável também muda!”.
Quase por oposição, muitas vezes tendemos a ter expectativas demasiado elevadas relativamente à mudança – frequentemente, esperamos mais do que ela pode efectivamente “oferecer-nos”. Mas este é um erro natural e compreensível, uma vez que nos serve de bengala na luta contra a inércia: por vezes aumentamos mentalmente os efeitos que uma mudança nos pode trazer, para que consigamos reunir a energia e motivação para avançar. Um dos problemas é que, ao esperarmos demais, perdemos a oportunidade de apreciar as menos fantásticas mas mais reais (e realistas) vantagens da mudança – se esperamos fogo de artifício, uma luz ao fundo do túnel vai desiludir-nos, saber a pouco (mesmo que seja isso aquilo de que estamos a precisar). Assim, ajustarmos as nossas expectativas relativamente à mudança poderá permitir-nos não só apreciá-la melhor mas também encará-la como menos assustadora.
Há ainda outro aspecto que parece afastar-nos da ideia (ou da realidade) de fazermos diferente: a mudança é lenta! E sentimos muitas vezes que não podemos esperar, ou que, na verdade, nada mudou...
Quando uma onda rebenta nas rochas da praia o que vêem? Água a bater nas pedras?!? A subida e descida da maré?!? Ainda que o saibamos em teoria, por vezes parece-nos ser pouco intuitivo que a areia resulte daquele acontecimento, das pequenas e quase imperceptíveis mudanças que acontecem, dia após dia, ao longo do tempo, que uma maré calma repetida vezes suficientes possa ter um efeito tão grandioso.
Também as grandes mudanças em nós, aquelas que são estruturais (e estruturantes), fazem-se de pequenas mudanças. Mudarmo-nos para o outro lado do mundo pode parecer rápido, visível e imediato, mas pode também não contribuir muito para o nosso bem-estar interior, se ignorarmos as pequenas, lentas, mas mais duradouras, mudanças de que precisamos dentro de nós.

Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.