terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Recomeços... com sabedoria

Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”  Miguel Torga


Nesta altura do ano, é inevitável não se pensar ou não se falar em finais e retrospectivas, mas também em recomeços, novos objectivos e metas. Inevitável, nem que seja pelas notícias da televisão e jornais ou pelas 12 passas que alguns obrigatoriamente têm que comer à meia-noite na passagem de ano.

Por estes motivos, porque não pensarmos então realmente num recomeço (apesar de cada dia que nasce ser um recomeço), já que a última folha do calendário vai cair? Mas num recomeço diferente. Não num recomeço de uma página / livro em branco, mas num recomeço de um novo capítulo dando continuidade ao anterior. Um recomeço com consciência das nossas dificuldades, das nossas limitações, do nosso passado, das nossas feridas, das nossas aprendizagens... É essa consciência que nos faz ser capaz de criar objectivos e metas realistas para o ano seguinte, sem chegarmos a Fevereiro frustrados, pelas resoluções do novo ano já terem ido por água abaixo...

A consciência sobre nós próprios faz-nos ser capazes de escolher as metas para o próximo ano que encaixem mais no que desejamos e no que nos faz mais felizes. Ao mesmo tempo que ao nos conhecermos melhor, também sabemos melhor escolher os caminhos que queremos percorrer para atingir essa meta. Quanto mais em sintonia e harmonia estivermos connosco próprios, mais facilmente os objectivos vão sendo concretizados, não porque os problemas ou obstáculos não surjam, mas porque sabemos que vão surgir (tal como em todos os anos anteriores) mas que ao os aceitarmos com naturalidade, menor sensação de angústia e frustração vamos sentir.

Ao olharmos para um futuro em construção constante, ao mesmo tempo que a nossa própria (re)construção vai sendo feita e/ou fortalecida, podemos sentir mais facilmente espaço para sermos e construirmos de forma mais livre o que realmente nos faz sentido e nos faz feliz. Passando por situações que escolhemos, com vontade de aprender, mas também aceitar situações novas que surgem, mas que podem ser abraçadas e vividas de forma positiva, retirando aprendizagens e o acumular dessas aprendizagens facilita-nos a recomeços... com sabedoria.



A equipa da ClaraMente deseja um Novo Ano cheio de recomeços com sabedoria e Bem-Estar Emocional!

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Resoluções de ano novo?!? E por que não gratidões por este?

Comemora-se hoje o solstício de Inverno, o que significa que depois de uns dias que serão mais curtos, estes (com luz solar), e durante seis meses, serão cada vez maiores. Estou grata por isso!
Estamos também a poucos dias do Natal. Seja por motivos religiosos, por tradição cultural, ou outra, esta é uma época em que geralmente se oferece e se recebe: presentes, companhia, memórias, emoções.
O ano de 2016 está quase a terminar, o que faz também, habitualmente, deste um  tempo de balanço e de desejos para o novo ano.
Para muitos de nós é mais fácil olharmos para aquilo que não queremos ver repetido no novo ano que se avizinha, desejar coisas novas, diferentes, melhores, do que focarmo-nos no que passou ou está ainda a passar-se. Como em muitos outros momentos, depositamos o nosso tempo e energia a fazer algo enquanto prestamos atenção noutra coisa qualquer, o que nos faz perder, por um lado, momentos significativos das nossas vidas, e, por outro, a consciência dos julgamentos e escolhas que vamos fazendo no nosso dia-a-dia. Mas, sem estarmos atentos ao presente, como podemos no futuro não repetir os mesmos padrões do passado? Como podemos questionar os julgamentos que vamos fazendo, a forma como agimos, ou duvidar que as nossas crenças podem não corresponder a uma realidade factual e imutável?
Por outro lado, prendermo-nos aos erros do passado, faz com que a auto-critica, aquela vozinha interior, consiga por estes dias um ambiente óptimo para florescer, minando a nossa confiança em nós mesmos, e comprometendo fortemente o nosso bem-estar: “devias ter feito isto e aquilo! Mais um natal em que andas a correr a comprar presentes desinteressantes à última a hora! Muito bem… um ano passou e quantas das tuas resoluções para 2016 concretizaste?”.  Contudo, uma voz construtiva, de aperfeiçoamento, que nos ajude a fazer ajustes, a corrigir o que precisa ser corrigido, é muito bem-vinda.
Esquecemo-nos muitas vezes que a vida é naturalmente imprevisível e imperfeita, e por isso esquecemo-nos também de ficar gratos pelo que temos, ambicionando quase exclusivamente mais e melhor. Experienciar gratidão pelo que temos, na simplicidade de um pôr-do-sol, ou no sorriso de outra pessoa, não faz de nós pessoas ingénuas e/ou pouco ambiciosas... As pessoas que estão gratas pelas e nas suas vidas já passaram, muitas vezes, por momentos de profundo sofrimento e perceberam que, para elas, são as simples mas significativas coisas da vida que fazem com que tudo valha a pena, perceberam que não precisamos de ter medo de viver o momento (pelo contrário), que isso não nos torna mais fracos e vulneráveis, e que nos permite continuar a abraçar (até de forma mais completa e profunda) novos e grandes desafios.
Estarmos gratos não compromete o nosso esforço e empenho no nosso futuro, permite-nos contudo aceitar que temos mais motivos para nos sentirmos satisfeitos e orgulhosos acerca de quem somos e do que alcançámos, do que ousamos habitualmente reconhecer.

Hoje venho propor que possamos olhar com gratidão para o ano que agora encerra: as aprendizagens que fizemos, as pequenas (ou grandes) coisas boas que nos aconteceram, as menos boas que conseguimos evitar ou com as quais soubemos lidar. Difícil?! É comum olharmos para aquilo que esperamos ter ou ver realizado no próximo ano. Mas hoje, ainda em 2016, desafio que nos foquemos no que este ano nos trouxe de bom... E a ficarmos gratos por isso.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Máscaras Sociais: que uso fazemos delas?


Podemos entender as máscaras sociais como os papéis ou as personagens que desempenhamos em diferentes esferas da nossa vida e que são fundamentais para garantir a nossa adaptação social.
 As exigências e as pressões do exterior obrigam-nos a encarnar diferentes personagens, tais como as de profissional, colega, pai, filho, irmão ou amigo e isso traduz-se na tonalidade de voz, no tipo de discurso, na imagem e na expressão corporal que adotamos em diferentes contextos. 
As nossas personagens servem a situação na qual nos encontramos e saber escolhê-las e usá-las, com consciência e responsabilidade, sabendo quem é o nosso verdadeiro Eu e que ele está sempre presente, é um indicador de flexibilidade e saúde mental. 
Por exemplo, se temos de ir a uma festa num dia em que nos sentimos tristes, vamos escolher e usar uma personagem que, por um lado, vai proteger a nossa intimidade do exterior e por outro, irá promover a nossa inserção naquele meio. Não nos deixamos de sentir tristes naquele contexto, mas não é dessa forma que nos queremos apresentar, sendo portanto útil o recurso a uma personagem cortês e bem educada que responda às exigências daquela situação e ao que é esperado pelo coletivo. 
As maiores dificuldades no uso de personagens surgem quando não existe um verdadeiro auto-conhecimento e o Eu fica identificado à personagem,  fazendo com que a pessoa passe a agir sempre em personagem sem ter consciência disso. Exemplo disso é o caso de uma pessoa que passa a falar e a agir identificada à personagem de workaholic e de autoridade  que ocupa no seu trabalho, abordando as outras áreas da sua vida, isto é,  família, amigos e lazer da mesma maneira, como tarefas a cumprir e a encaixar na agenda. Nestes casos, a perda de certos cargos profissionais pode ser sentida como uma perda de uma parte da própria identidade, podendo levar a quadros depressivos graves.  
O uso adequado de máscaras sociais possibilita experimentarmos o mundo de uma forma saudável, sem ficarmos reféns da desajabilidade social e perdermos a nossa identidade entre todos os outros que vão aparecendo na nossa vida. 
Para além disso podemos considerar que também existem máscaras que nos ajudam a reforçar a nossa auto-estima e a desenvolver as nossas potencialidades, quando, por exemplo temos de fazer de conta que estamos seguros, confiantes e à vontade num determinado papel e mais tarde essas características passam efetivamente a fazer parte da nossa identidade.

E você conhece as suas máscaras? Que uso faz delas na sua vida?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

FoMO?!?

« Se quiséssemos ser apenas felizes, isso seria fácil de alcançar. Mas desejamos ser mais felizes do que os outros, e isso é sempre difícil, já que achamos os outros mais felizes do que realmente são.»
(Montesquieu)

“Nem sabes o que perdeste!” (vem, geralmente, acompanhado de uma mistura de entusiasmado, vaidade, de uma quase acusação e até mesmo pena). Às vezes não sabemos mesmo,  não chegamos sequer a saber, e, provavelmente, até aí nem queríamos ter sabido. Contudo, esta é uma frase que nos dias de hoje parece ter uma elevada probabilidade de deixar quem a ouve ansioso, ou mesmo angustiado: O que é que terei perdido? O que é que não ouvi, comi, experimentei? Do que é que fiquei de fora? Onde é que não fui? Este sentir já tem até um nome: FoMO (do inglês Fear of Missing Out – medo de ficar de fora).

Três em cada quatro jovens adultos refere já ter vivenciado momentos de ansiedade mais ou menos evidente com a possibilidade de perder alguma coisa, de ficar de fora de algum acontecimento e/ou informação.

De acordo com Darlem McLaughlin, quando se está tão focado no(s) outro(s), no “melhor” (nas nossas cabeças), olhando quase (ou mesmo) exclusivamente para fora, sem nos determos muito (ou sequer) a olhar para dentro de nós mesmos, perdemos o sentido autêntico do nosso Eu. Como se este medo constante de ficarmos de fora nos mostrasse que não estamos a participar no nosso próprio mundo como pessoas reais. Esta preocupação constante acerca do que está a acontecer, daquilo que “outros” estão a fazer, afasta-nos gradualmente das nossas próprias vidas,  e de nós mesmos.

É verdade que o mundo contemporâneo garante que saibamos sempre o quanto estamos a perder. Somos permanentemente bombardeados com sugestões (indicações?!?) do que devemos fazer, comprar, desejar, de quais as viagens que “precisamos” fazer, dos empregos que devemos escolher, das bebidas que devemos apreciar... ouvimos frequentemente as pessoas que nos rodeiam falarem acerca das coisas incríveis que fizeram ou dos lugares inacreditáveis que vão visitar...

Mas será este medo de ficar de fora apenas um sinal dos tempos modernos? Uma inofensiva consequência da possibilidade de estarmos permanentemente ligados ao mundo? Ou, por outro lado, será que nos diz algo acerca de nós próprios que precisamos saber?

A investigação mostra que este medo de ficar de fora parece estar associado a baixos níveis de humor e de satisfação com a vida em geral e relativamente às necessidades de competência, autonomia e afinidade.


O que não encontramos cá dentro, que procuramos incessantemente lá fora?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

E quando o peso da responsabilidade nos deixa sem forças

E quando o peso da responsabilidade nos deixa sem forças? E quando sentimos que o “dever” de fazer as coisas bem nos vai consumindo e nos retira energia?

É na fase de adulto que se encontram as maiores exigências da vida. Ser adulto implica construir um caminho no sentido da realização profissional, afectiva e familiar. Na área profissional podem surgir algumas questões relacionadas com a satisfação no trabalho, a pressão que se sente para se ser mais competente, a competitividade, o salário, ou a gestão das relações com colegas e chefes. Na área familiar existem as preocupações de se querer constituir família, as relações amorosas, o ser-se pai/mãe, gerir o tempo entre trabalho e família. E também na área pessoal surgem dúvidas: do que é que realmente gosto? O que é que me satisfaz? Como é que me sinto bem? E equilibrar todas estas áreas não é uma tarefa fácil. Por um lado pensar em nós próprios, ao mesmo tempo que se tem que dar respostas aos outros. Por outro lado a necessidade do tempo e do espaço que precisamos para nos sentirmos livres e livrarmo-nos desse peso, ao mesmo tempo o querer criar raízes e construir algo que naturalmente, implica responsabilidade.
Como manter acordada essa criança que está em nós, essa parte mais curiosa, divertida e espontânea, quando se vive num dia a dia de responsabilidades e exigências?

Cada pessoa poderá ter as suas estratégias, cada pessoa encontrará as suas formas, no entanto é importante pensarmos sobre o que nos leva a sentirmo-nos por vezes culpados, por darmo-nos tempo. Consideramos o lazer algo secundário na nossa vida? Consideramos todas as actividades profissionais prioritárias? Quanto tempo por semana me permito não fazer nada? Quanto tempo por semana me permito a fazer algo por mim e para mim apenas? Não, isso não tem que ser egoísmo... Na nossa sociedade cada vez se valoriza mais os resultados e o termos tempo para nós, tende a ser visto negativamente.

Contudo, para não nos deixarmos consumir pelo peso das “tens” e “deves” e até mesmo para que as responsabilidades sejam assumidas de forma mais responsável, é de grande importância, termos a capacidade de procurar formas de equilibrar as nossas necessidades, e de mantermos a nossa criança curiosa e permitir que tenha tempo para brincar. Sim, porque os adultos também se riem, divertem e brincam.

Alguém partilhou esta frase... “o adulto é uma criança que cresceu”. Isto não significa que seremos, no fundo, todos crianças?

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Como podem os pais aliviar a ansiedade dos filhos em relação aos testes?


A pouco tempo de terminar o 1º período, a fase dos testes está agora a tornar-se mais intensa nas escolas, aumentando a pressão emocional nos alunos para tirarem boas notas.
Efetivamente a ansiedade e o stress não são uma realidade exclusiva dos adultos, também os jovens se debatem com desafios e exigências no seu quotidiano, quer sejam matérias complexas, professores, cargas horárias ou até a necessidade de tirarem boas notas. E se a existência de uma ansiedade moderada é positiva e funciona como uma fonte de energia que ajuda o jovem a mobilizar-se para os seus objetivos, já a ansiedade excessiva torna-se disfuncional e bloqueadora, levando o jovem a sentir-se incapaz de atingi-los. Neste último caso, é frequente encontrarmos quadros de preocupação crónica, queixas de dores sem causa aparente, oscilações bruscas de humor, irritabilidade, alterações bruscas do sono ou mesmo recusa em ir para a escola.
O alívio da pressão é fundamental e os pais podem ter aqui um papel fundamental, na medida que desde logo se constituem como modelos de referência e como tal podem ensinar os seus filhos a combater o stress sendo um exemplo disso.
A moderação das expetativas dos pais é outro dos aspetos a ter em conta, na medida em que posturas muitos perfecionistas e voltadas para os resultados, podem promover o desenvolvimento de quadros de ansiedade aliados a sentimentos de insuficiência e incapacidade por parte dos filhos. As crianças são muito sensíveis às expetativas dos pais e têm uma grande necessidade de cumpri-las para se sentirem amadas e fazerem os pais felizes. Quando a criança chega a casa com um resultado negativo e tal não é bem recebido, havendo uma sobrevalorização da falha em vez do sucesso, tal conduz à interiorização de um sentimento de desvalia e incompetência por parte da criança, com prejuízo ao nível da sua auto-estima. Os resultados negativos deveriam ser encarados como oportunidades de aprendizagem no percurso de vida da criança e não como oportunidades de culpabilização e crítica. Tão ou mais importante que elogiar os bons resultados, é elogiar o esforço que foi feito, mesmo que a nota não tenha sido positiva.
No sentido de atenuar a pressão e a ansiedade dos jovens, é muito importante o estabelecimento de uma rotina por parte dos pais na medida em que tal é organizador e transmite segurança e tranquilidade.  
Na rotina diária tem de ser contemplado tempo livre de brincadeira, atividade e lazer, não esquecendo que no mínimo o jovem deve dormir cerca de 8 horas.
Em fase de testes e exames pode ser útil o recurso a um calendário ou agenda, com as suas rotinas e a marcação do dia dos testes, de modo a permitir o planeamento do trabalho  e estudar com antecedência.
Nas maratonas de estudo importa o estabelecimento de pausas para o corpo e a mente recuperarem, sendo igualmente útil a prática de exercício físico na medida em que a ansiedade é canalizada para o esforço físico.

“Mais importante que as notas são os bons alunos. Daqueles que erram e que aprendem. E mais importante, ainda, que os bons alunos são aqueles que, tendo “várias vidas”, são bons alunos, bem educados e boas pessoas.”
Eduardo Sá


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

"É para amanhã... Bem podias viver hoje"

 ... Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que está p'ra durar
(António Variações,  in É p'ra amanhã))


Já escrevi antes sobre Procrastinação, sobre Desprocrastinar... como lidar com esse adiar não produtivo a que por vezes nos entregamos, o protelar das tarefas mais ou menos triviais que vai ganhando espaço nas nossas vidas, roubando-nos tempo e experiências.


Na letra de É pr'amanhã, António Variações parece falar também de procrastinação (É p'ra amanhã/ Bem podias fazer hoje/ Porque amanhã/ Sei que voltas a adiar), destacando o impacto negativo que esta pode ter na vida do procrastinador  (Quando pensares/ No tempo que perdeste/ Então tu queres/ Mas é tarde demais), e na urgência de viver no agora (É p'ra amanha/ Bem podias viver hoje/ Porque amanhã/ Quem sabe se vais cá estar). Mais do que isso, Variações parece ir além do simples adiar de objectivos e obrigações, e antes falar de sonhos, vontades, desejos desperdiçados ao tempo, de projectos, decisões, vidas, que ficam por (se) cumprir.

Mas, então, por que adiamos o que desejamos? O que nos impede de tentar cumprir o que escolhemos? O que fazemos aos nossos sonhos?


Eu sei que tu
Andas a procurar
Esse lugar
Que acerte bem contigo

Estaremos a ser demasiado exigentes? Mas... e quando já sabemos aquilo que queremos, para onde queremos ir... o que nos detém?


Do que aparece
Tu não consegues gostar
E do que gostas
Já está preenchido


Estaremos a arranjar “desculpas” para não avançar? Porquê? Para quem? Quando e se a vida é nossa, e a escolha foi feita por nós...?!?


Há, por vezes, momentos nas nossas vidas em que, depois da dificuldade em escolher o destino, em olhar com clareza o horizonte, e já com uma noção do caminho por onde queremos ir... não vamos. Ficamos. Permanecemos. Não avançamos, mas também não abandonamos o caminho. É como ficar à porta de casa com a mala feita e os bilhetes da viagem na mão. Não vamos, mas também não deixamos de ir.

À medida que o tempo passa, ficamos cada vez mais e mais desconfortáveis nessa posição, e ainda mais por não avançarmos para onde queremos ir. E esse desconforto, a dúvida acerca do motivo, pesa-nos, sobrecarrega-nos, parece fazer-nos sentir que é ainda mais difícil partir...


Por vezes tomamos decisões sem que a emoção e a razão sejam integralmente consideradas (nem tem que assim ser). Contudo, estes são os momentos em que, racionalmente, a decisão que tomámos parece considerar e responder todos os critérios que estipulámos, mas, emocionalmente, não nos sentimos seguros em avançar, as nossas emoções não parecem agradadas com aquilo que a nossa razão escolheu. A mente decidiu, mas o corpo não avança. Procurar alcançar aquilo que se deseja pode ser sentido como insuportavelmente arriscado, como se o desconhecido nos colocasse à mercê do destino, da esperança, do que não podemos controlar, e mesmo da possibilidade de perda. E vem a ansiedade, a tristeza, o medo do que aí vem e que nos paralisa.

Deixemo-los entrar. Aceitemos que podem ser sinais importantes do nosso caminho. Sinais que podem ajudar-nos a perceber, por exemplo, que estamos a tentar caminhar para onde deveríamos ir, e não para onde queremos genuinamente chegar.



Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.