Sermos
nós mesmos é algo que a maioria de nós aspira e que relaciona com uma postura
de autenticidade, espontaneidade e liberdade perante a vida e os outros.
No
entanto, esta autenticidade é muitas vezes confundida com a tendência por parte
de algumas pessoas em dizerem tudo aquilo que pensam em relação aos outros, sem
se preocuparem se estão a magoá-los ou não. Será isto sermos nós mesmos? Na
realidade o que isto revela é sobretudo a existência de um descontrolo dos
impulsos agressivos e de uma falha na adequação social mascaradas por detrás da
designação de autenticidade mas que em nada se relacionam com ela.
A
autenticidade relaciona-se sobretudo e antes de mais com a compreensão do nosso
funcionamento, isto é com um auto-conhecimento profundo.
Todos
nós, até determinado ponto, somos condicionados, não só pela nossa biologia,
isto é pelas nossas características inatas, mas também por fatores culturais.
Nascemos e crescemos inseridos numa sociedade e para vivermos integrados nela,
é esperado adotarmos e respeitarmos determinados códigos e regras de conduta.
Por exemplo, para fins de ordem profissional e de garantia do nosso sustento,
temos necessidade de sermos aceites e de incorporar certos limites e
condicionalismos que vêm de fora. No entanto, torna-se problemático quando a
preocupação pela adesão às normas vigentes é de tal modo excessiva e exagerada que
leva o indivíduo a esconder a sua individualidade por medo do julgamento dos
outros, vivendo em sofrimento por isso.
Importa
não esquecer que existe sempre um espaço para o exercício da nossa liberdade
individual, para nos reinventarmos e sermos criativos e é esse espaço que
é necessário ocupar e viver com responsabilidade. É o espaço onde nos descobrimos, quer no que respeita aos valores que
nos orientam, à atividade intelectual e desportiva que nos estimulam, ao
sentido de humor com o qual nos identificamos, à forma como nos relacionamos,
às atividades que escolhemos para lazer, entre outras dimensões da nossa
identidade. No fundo, é no exercício deste livre arbítrio, que nos vamos
conhecendo e entrando em contacto com o
nosso verdadeiro eu.
Uma
das principais dificuldades vividas por muitos de nós está exactamente em
explorar e em viver este espaço, quer seja por medo do julgamento do exterior
face a eventuais erros ou por receio de sair da zona de conforto à qual estamos
habituados. No entanto, se queremos realmente sermos nós mesmos, teremos em
primeiro lugar de saber quem somos e arriscarmo-nos a viver nesse espaço de
liberdade individual onde,naturalmente, vamos entrar em contacto com as nossas
vulnerabilidades e limitações mas também com as nossas forças e potencialidades.
Podemos
dizer que a compreensão e a aceitação do verdadeiro eu na sua íntegra, por um
lado, e a vivência de acordo com o que se é e acredita, por outro, são duas
condições fundamentais na promoção de uma maior harmonia na relação connosco e
com os outros e no domínio cada vez melhor na arte de sermos nós mesmos.
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