sábado, 30 de janeiro de 2021

Falta de Saúde Mental e Crise Financeira de mãos dadas

 Basta olhar para trás e ver pela História e pelas experiências recentes para sabermos que as crises sanitárias rapidamente se associam a crises económicas e sociais. A pandemia COVID-19 deixou muitas famílias em dificuldades financeiras, em situações de desemprego ou com diminuição dos seus rendimentos. Neste momento, muitos vivem preocupados com a estabilidade e com a continuidade da sua situação profissional. Se a situação de pandemia por si só é geradora de preocupação, ansiedade e stresse, quando temos preocupações com a nossa sustentabilidade financeira e da nossa família, os níveis de preocupação e ansiedade podem aumentar.

Segundo pesquisas conduzida pela APA – American Psychological Association, o dinheiro é a principal fonte de stresse para a maioria das pessoas, e estudos realizados durante esta pandemia já demonstram que a ansiedade financeira pode ser tão elevada quanto a ansiedade relativa à saúde. Para além disso, o problema financeiro pode agravar as situações de quem já está com problemas psicológicos, intensificando todos os sintomas nomeadamente pensamentos negativos em relação a si, à vida e ao futuro, bem como os quadros ansiosos, melancólicos e de desesperança.

Desta forma podemos dizer que a saúde financeira afeta a nossa saúde mental, mas também que a saúde mental afeta a nossa saúde financeira. Pessoas com sintomas de depressão ou ansiedade por um longo período de tempo sentem maior dificuldade em gerir as suas finanças, pois a intensidade dos sentimentos de medo, ansiedade e preocupação, aumentam a impulsividade na tomada de decisões, podendo trazer consequências ainda mais negativas em várias áreas de vida.

Assim, torna-se fundamental olhar paras estas duas realidade e uni-las: literacia em saúde e literacia financeira. É importante aprender a gerir a nossa ansiedade financeira e adotar comportamentos que promovam escolhas financeiras que nos façam sentir mais tranquilos e seguros. Para fortalecer a resiliência na gestão de crises como a que vivemos, é fundamental melhorar os conhecimentos nesta área, nomeadamente desenvolver hábitos para maximizar uma boa gestão do orçamento familiar, promover o recurso responsável ao crédito e criar hábitos de precaução, sensibilizando para situações de risco que podem afetar o rendimento. Por outro lado, a literacia em saúde, apesar de ser uma conceção recente, tem vindo a ganhar uma crescente importância e destaque nos domínios da saúde pública e dos cuidados de saúde. Assim, em 1998, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu literacia em saúde como o “conjunto de competências cognitivas e sociais e a capacidade dos indivíduos para acederem à compreensão e ao uso da informação de forma a promover e manter uma boa saúde”.

Como potenciar ambas? Estando estas duas realidades intimamente ligadas, e sendo imprescindíveis no desenvolvimento de indivíduos mais conscientes de si, responsáveis e resilientes, será imperativo o desenvolvimento destas soft skills na formação educativa das nossas crianças e jovens. É fundamental que o ensino esteja sensibilizado para a importância da inclusão da literacia financeira e da literacia em saúde nos seus programas curriculares, na medida em que o desenvolvimento destas competências, é decisivo para a formação de adultos mais equilibrados e com mais condições de aceder a situações futuras de sucesso, possibilitando a construção de uma sociedade mais justa e com menos desigualdades.

 Artigo publicado na Revista Psicologia na Actualidade - Psychology Now, nº 52 Jan-Fev-Mar 2021
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sábado, 16 de janeiro de 2021

Ano Novo Oportunidade Nova


 

Um novo ano começa agora e com ele o desejo de encerrar um ciclo deveras exigente e para muitos devastador, renovando a esperança por um ano novo melhor.
E o que poderíamos entender como um ano novo melhor?
A resposta mais imediata seria indiscutivelmente a resolução da crise pandémica mas um ano novo melhor terá necessariamente de implicar mudanças internas individuais e coletivas. Sem um novo eu mais saudável, não poderá existir um ano novo melhor, a transformação começa por dentro.
E será que a crise pandémica que vivemos poderá ter algum potencial transformador? Esperemos sinceramente que sim. Se daqui não advir qualquer processo de aprendizagem e de transformação individual e coletiva, significa que todo o sofrimento e cansaço a que fomos sujeitos, foram completamente estéreis e em vão. 
A privação e a perda por aquilo que tomávamos como garantido, permitiu-nos contactar com o que realmente é essencial e tantas vezes invisível e subestimado. Cada um de nós trava diariamente a sua batalha pessoal, muitas vezes em silêncio e solidão, pelo que importa não nos distrairmos da importância da empatia e do encontro com o outro, nomeadamente em relação aos que não podem estar perto.
Face a circunstâncias externas que não controlamos, importa focar e valorizar naquilo que realmente podemos fazer para promover o nosso bem estar e o bem estar do outro.
O cuidar da nossa saúde psicológica, tal como cuidamos da nossa saúde física representa  o novo melhor que podemos implementar este ano.
O contato com as nossas emoções, sobretudo quando surgem sintomas de ansiedade, depressão e stress, é fundamental no reconhecimento de sinais de alerta no que respeita à saúde mental. O suporte da rede familiar e social, exercícios de relaxamento, mindfulness, meditação, hobbies, atividade e exercício físico podem ser importantes facilitadores na gestão e no equilíbrio emocional.
Da mesma forma, o auto-conhecimento, o tempo dedicado a atividades prazerosas e ao descanso, bem como a adoção de uma rotina significativa e gratificante, são elementos chave para uma saúde mental mais robusta.
Se o ano transato nos confrontou com o caráter efémero e mutável da vida, que este novo ano sirva para aprendermos a tirar o melhor partido de cada momento, a desfrutar das pequenas coisas, a valorizar cada conquista, a estabelecer novos desafios, a implementar estratégias de ação e a criar oportunidades de aprendizagem.
Podemos pois ter um papel ativo, mesmo perante condições adversas, porque na realidade não basta esperar que fique tudo bem. O bem estar emocional é, acima de tudo, um trabalho e uma responsabilidade pessoal, que poderá ser facilitado por um acompanhamento psicológico especializado.  
Este será certamente o grande desafio para 2021, transformar um ano que se adivinha desafiante numa oportunidade para desenvolver a resiliência, o auto-cuidado, a criatividade, a empatia, a gestão emocional, a aceitação perante o que não se pode mudar e a gratidão pelo que temos.