Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
... cantava José Régio, no Cântico Negro. Muitos de nós já experienciámos esta realidade em
alguns momentos das nossas vidas. Não sabemos para onde vamos, o que queremos,
sabemos apenas que não é por ali...
Por onde queremos ir, afinal? Por onde é que vamos? Em
momentos como estes procuramos por algo que nos oriente, que nos guie, desejamos
uma bússola nos indique o caminho... Parecemos esquecer (ou desconhecer) que é em
nós que está essa resposta. É dentro de nós que podemos encontrar esse rebuscado
instrumento de navegação chamado Valores.
É frequente confundir-se Valores com Objectivos. Os
Valores são uma direcção. Os Objectivos são destinos. Quando alcançamos um
objectivo, o trabalho está feito, terminámos. Os valores, por seu lado, são viagens
de uma vida. Não acabam. Guiam-nos ao longo da vida.
No entanto, e ainda que sejam coisas diferentes, Valores
e objectivos estão relacionados. Muitas e diferentes pessoas partilham, por
exemplo, o objectivo de fazer um curso superior, e terão chegado a esse
“destino” quando tiverem o certificado na mão. Missão cumprida, tarefa
concluída, objectivo alcançado! Contudo, diferentes Valores podem aí ter estado
envolvidos: alguns fazem-nos por terem a educação, a aprendizagem, como Valor;
outros porque Valorizam a
possibilidade de um futuro mais estável financeiramente, e ver este como um caminho
para lá chegar; outros vivem o Valor da amizade, e a universidade é um contexto
facilitador para conhecer novas pessoas e fazer amigos. Não há Valores bons nem
maus... são escolhas (não decisões) que não carecem de ser justificadas ou
defendidas.
Há também pessoas, ou momentos, em que parece nada ser
Valorizado, em que os Valores parecem não existir. Isso acontece, geralmente,
em momentos de quase desespero, ou em que nos sentimos profundamente
desesperançados e receamos expressar os nossos Valores, ou, tão só, por não termos
tido ainda espaço para entrarmos em contacto pleno com os nossos próprios
Valores.
Nesse trabalho pode ser importante questionarmo-nos “Isto
é algo que me importa, pelo qual me interesso?”, em vez de “Consigo alcançar
isto?”. Os Valores são aspiracionais: Quais os Valores aos quais eu aspiro? Que
Valores quero que rejam a minha vida?
E quando olhamos para dentro e começamos a encontrar
estas direcções, podemos arriscar questionarmo-nos quais desses Valores que
encontrámos são verdadeiramente nossos, quais podem ser resultado da pressão
social, ou da vontade generosa de agradar outros. Quais quero manter? Por que
estou a fazer isto? Faço-o por mim ou por outra pessoa?
Importa não esquecer que o propósito dos Valores tem que
ver com (re)descobrir as nossas próprias vidas, (re)descobrirmo-nos a nós
mesmos e... escolher por onde vamos.
Não, não vou por aí! Só vou
por onde
Me levam meus próprios passos...
Me levam meus próprios passos...
(José Régio, in O
Cântigo Negro)
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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