À primeira vista podia-se pensar de forma automática que a existência ou falta de tolerância estaria pouco relacionada com a saúde mental, podendo-se achar que uma pessoa pode estar bem psicologicamente, sentindo-se bem consigo e com os outros não sendo tolerante... mas como será possível estarmos bem com os outros sem a capacidade de toleramos as diferenças? Tendo em conta que a tolerância se define como “A tolerância, do latim tolerantĭa (constância em sofrer), é um termo que define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Do ponto de vista da sociedade, a tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são as normais no seu próprio grupo. Assim, a partir da tolerância, é garantida a aceitação de diferenças sociais e a liberdade de expressão. Tolerar algo ou alguém é permitir que algo prossiga, mesmo que a pessoa não concorde com tal valor, pois é dado o respeito de discordar. Ser tolerante implica aceitar que todos temos a liberdade de escolha das nossas convicções e escolhas, e que todos temos o direito exatamente igual de desfrutar da mesma liberdade”.
Assim, tendo em conta que termos saúde mental
também significa termos a capacidade de adaptação e conseguirmos criar relações
com pessoas, é essencial olharmos para a nossa capacidade de tolerância como um
aspeto essencial a ser refletido.
Nos últimos tempos, parece-me que temos
assistido a um aumento da intolerância social. Violência e atos de intimidação
contra pessoas que exercem a sua liberdade de opinião e de expressão. Parece-me
que se tem confundido dar opinião com ditar opinião de forma fundamentalista,
anulando-se todos os pontos de vista diferentes. E parece-me que isso tem vindo
a ganhar espaço sobretudo nas redes sociais, um pouco sobre todos os temas. De
repente, temos doutorados e especialistas em todas as matérias, opinando como
se cada um, individualmente tivesse a verdade absoluta.
Isso é assustador. Estamos cada um a
crescer e a viver na sua própria bolha? Até que ponto a pandemia, ao exigir um
maior distanciamento social, em que as pessoas se fecharam mais nas suas casas,
também se fecharam mais nas suas redes sociais, na sua bolha, na sua realidade
e as suas opiniões se tornaram mais e mais fundamentalistas?
É fundamental para uma sociedade harmoniosa, haver
a capacidade de reflexão e a capacidade crítica, e isso acontece quando todos
podemos partilhar as nossas opiniões e crescermos com essas partilhas, podendo
assim evoluirmos como sociedade e como pessoas.
Uma boa saúde mental individual está relacionada
com a vivência numa sociedade mais harmoniosa, onde se respeita o espaço do
outro, e onde se aceita a diferença de ideias, de valores, de religião, de
cultura, de visão política e de orientação sexual.
Uma pessoa tolerante tem uma maior
flexibilidade mental, tem uma maior capacidade de se adaptar e isso permite com
que a pessoa possa lidar melhor com situações inesperadas, de stress e de
frustração, vivendo de forma mais tranquila e satisfatória.
Os meios de comunicação têm um papel
fundamental e não podemos negar o peso do sensacionalismo, que tem tido um
crescimento exponencial. Para além disso a educação formal e informal são os
meios primordiais para promover a tolerância.
Proponho uma reflexão sobre este tema... Sou
tolerante? Quais são as consequências da minha tolerância ou falta dela, em
mim, nos outros e nas minhas relações ? Como me poderei tornar mais tolerante e
como isso me faria sentir?