A experiência da rejeição é algo que
todos nós já vivenciámos ao longo da vida mas nem por isso deixa de ser menos
dolorosa quando acontece.
Quem nunca se sentiu, naquele momento da infância, esquecido
ou preterido por parte dos pais? E anos mais tarde,
quando o amigo mais chegado, começou a dar preferência à companhia de
outro?
Na fase adulta, esta é uma experiência
que continua a ser vivida nas mais diversas situações, nomeadamente nas
relações amorosas e de amizade mas também no contexto laboral quer em situações
de despedimento ou na ausência de reconhecimento das competências para
determinado cargo.
O sofrimento associado à experiência da
rejeição é profundo, sobretudo face ao abandono e perda de figuras afetivamente
significativas, o que poderá dar lugar a marcados sentimentos de tristeza
aliados a sentimentos de zanga e revolta. É como se o
investimento afetivo depositado naquela pessoa não tivesse sido
correspondido, ficando o próprio numa economia de perda em que deu mais afeto
que aquele que recebeu.
É expectável que este seja um momento de
dor e como tal é importante que o próprio conceda a si mesmo o tempo necessário
para elaborar esses sentimentos, reavaliar a situação e refletir sobre o que
aconteceu. Se a elaboração da perda se processa de maneira saudável, a reação
depressiva não se prolonga no tempo nem se pauta por uma intensidade marcada, implicando
um sentimento depressivo mas também de zanga. No entanto, em personalidades depressivas, que
durante a infância não se estruturaram de forma segura, a tendência centra-se
na culpabilização do próprio face à não correspondência afetiva, sendo esta
atribuída à falta de qualidades pessoais. Nestes casos, a frustração afetiva, a
indiferença ou a rejeição por parte do outro são suscetíveis de levar à
instalação de uma depressão mais grave, mais longa e mais intensa, com
sentimentos de inferioridade, podendo induzir diálogos internos auto-punitivos
tais como “ele deixou-me porque eu não sou suficientemente atraente e
inteligente” ou “há pessoas mais interessantes que eu”.
Por seu lado, os indivíduos com
personalidades mais seguras, quando percebem que não estão a ser
correspondidos, tendem a reajustar o seu posicionamento naquela relação ou
procuram chegar a uma solução de compromisso satisfatória para ambas as partes.
Nos casos em que a separação é inevitável, importa aceitar e lidar com a
tristeza que daí decorre para que as expetativas outrora criadas possam ser
diluídas e finalmente seja tempo de voltar a investir na realidade externa, em
novos projetos e em novas pessoas.
Podemos então entender a experiência da
rejeição como parte integrante do nosso crescimento, sendo mesmo possível ressignificá-la
de forma diferente. Se olharmos para ela como o resultado da escolha do outro
em seguir um caminho diferente, podemos integrá-la como sendo uma decisão que
se prende acima de tudo com o processo pessoal dele e não nos vamos pôr em
causa por isso nem interpretá-la como um ataque pessoal. Assim, é possível vivenciar estas experiências
de modo mais construtivo e tranquilo, na medida em que prevalece uma atitude de
aceitação e respeito, não só pelo outro mas também pelo próprio, na medida em
que a existência de uma auto-estima consolidada apenas torna aceitável uma
relação em que haja correspondência afetiva. E isto promove a diluição de uma
dor, que de outra forma, nos aprisionaria ao passado, penalizando-nos e
impedindo-nos de usufruir daquilo que mais importa: o presente.
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