segunda-feira, 14 de março de 2022

Educando para a Empatia e Não-Violência em Tempos de Guerra

 




Vivemos atualmente num contexto de conflito armado e num clima emocional de incerteza, insegurança e medo.

            Também nas escolas, desde há muito tempo, que se vivem “guerras”, verdadeiros atentados à dignidade e integridade psicológica de muitos alunos, vítimas de bullying físico, verbal e social (exclusão). O cyberbullying é hoje uma realidade caracterizada pelo uso da tecnologia para assediar, ameaçar e humilhar outra pessoa de forma repetida. Pode acontecer em qualquer local, a qualquer hora e atormentar alguém 24h por dia, perante centenas de testemunhas, sem nunca ficar revelada a verdadeira identidade do agressor. As vítimas podem sentir-se encurraladas e desenvolver problemas de saúde psicológica, como a ansiedade e depressão e cometer suicídio.

À semelhança do que acontece na sociedade, também nas escolas impera o paradigma da competitividade, em que o crescimento do próprio se faz pela anulação do outro. É a teoria da soma zero, em que aquilo que eu ganho é aquilo que o outro perde e que conduz ao desenvolvimento de seres humanos mais insensíveis, desafetados e pouco empáticos. Essa indiferença emocional é visível nas escolas quando alunos passam por outros que estão a chorar e continuam o seu caminho, sem qualquer manifestação de cuidado e empatia pelo sofrimento do seu semelhante.

Por outro lado, a não aceitação da diferença, seja em relação à raça, orientação sexual, religião, entre outras, traduz-se em atitudes de humilhação, discriminação e exclusão nas escolas, locais que deveriam ser de inclusão e esperança, pautados pela ética do cuidar e educar.

No cenário atual de guerra, urge mais do que nunca, transferir os comportamentos de solidariedade, compaixão e de ajuda, que se têm multiplicado por toda a parte, para os contextos da escola, potenciando-os nos alunos de forma a caminhar-se no sentido da erradicação do bullying.

Muitas das escolas preparam-se para receber e integrar estudantes ucranianos, em situação de grande vulnerabilidade emocional, pelo que o acolhimento nas nossas escolas, nomeadamente por parte dos alunos que serão os seus pares, é fundamental. Importa trabalhar com os nossos alunos a aceitação das diferenças, a capacidade de descentração e empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro), a solidariedade, a compaixão e o cuidado ao outro.

A guerra só poderá ser combatida com a Educação para a Não-Violência, visando aquele que é o bem maior para o maior número de pessoas e privilegiando o aspeto grupal ao individual.

Só transformando o sistema atual de competição num sistema de aliança, colaboração e cooperação é que poderão haver ganhos para ambas as partes e ainda produzir-se um terceiro ganho, a modificação do contexto global, em prol de uma sociedade mais justa, solidária e integradora.