Há uma semana foi anunciada a morte de Leonard Cohen,
reconhecido cantor, mas também escritor, poeta, e monge budista. E é como se essa
variedade e complexidade estivessem presentes nas suas músicas e letras –
goste-se ou não, o ritmo que escolhia e as letras que cantava levaram a que
Pico Iyer dissesse que “Cohen takes you in, not up.”, ou seja, que as suas
canções não são para elevar o ânimo, mas sim canções que nos fazem viajar para
dentro de cada um de nós, em profundidade.
Cohen encontrou na meditação e na vivência budista a
forma de desacelerar a vida agitada que tinha. Encontrou-se no silêncio, na
quietude, arte de parar, de estar no presente. Terá dito que não ir a parte
nenhuma foi a grande aventura que faz sentido em qualquer outro lugar.
Apesar de a prática da meditação ser milenar, de tantos
exemplos mediáticos (Cohen, Alan Watts...) destacando a importância de vivermos
o presente, da possibilidade de encontrarmos sugestões mindfulness em tantas
publicações e até mesmo apps...
continua a ser-nos terrivelmente difícil habitar adequadamente este lugar a que
chamamos Presente. Também no Livro do
Desassossego, Fernando Pessoa escreveu: Vivo
sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Mas
a verdade é que a nossa mente parece muito mais passear entre o passado, de um Presente que já foi, e o futuro, que
ainda não está aqui, e que não pode, por isso, ser parte da realidade vivida
enquanto não for, também ele, Presente.
Estamos desastrosa e quase permanentemente conectáveis;
já não há fins de semana; os dias de descanso são só para alguns; dormimos
pouco; corremos muito; comemos mal. E, mesmo quando conseguimos fugir desse ambiente de serviço de
urgências, e até quando somos presenteados com um sol magnífico (ou uma
super-lua!), o céu mais azul que já vimos, o mar de um turquesa encantador, a
brisa que refresca e ao mesmo tempo aconchega... a nossa mente consegue fugir
para a reunião que vamos ter daí a dois dias, para a discussão da semana
passada com o nosso melhor amigo, ou, simplesmente, para as belas fotos que
vamos poder publicar nas redes sociais. É como se esse sol, o mar, a brisa que
embala, pudessem ser mais reais, e também melhor apreciados, quando já são
memória. Porque no Presente são
difíceis de experienciar, com tanto ruído que existe em nós.
Contudo, importa estarmos preparados para esta
dissonância entre o espaço temporal em que os nossos corpos e as nossas mentes
se encontram. Aceitarmos que estas duas partes de nós nem sempre coexistem no
mesmo Tempo. E, com isso, lembrarmo-nos também que o mesmo pode acontecer com
as outras pessoas – e que, por exemplo, quando parecem não estar a prestar
atenção ao que estamos a dizer, podem simplesmente estar a experienciar esta
dificuldade.
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