terça-feira, 26 de julho de 2022

Os benefícios dos espaços naturais verdes e azuis

Nas últimas décadas, muitos estudos têm apontado uma relação significativa entre o contacto com espaços azuis e verdes (como parques ou florestas, jardins, rios e mares) e a saúde física e mental. Evidências crescentes mostram-nos que passar tempo dentro ou ao redor de espaços verdes e azuis pode melhorar a saúde, nomeadamente através dos benefícios trazidos pela paisagem, pelos estímulos sensoriais visuais, auditivos e olfativos, assim como pela atividade física e interações sociais proporcionadas por estes ambientes.

É um facto: passar tempo na natureza tem benefícios importantes para a saúde. Desde que a pessoa goste, o contato com espaços verdes e azuis é muito benéfico para a saúde mental e física; a comunhão com o meio natural pode potenciar a libertação da sensação de prazer, o que leva a uma redução da ansiedade.

Podem ser jardins, bosques, parques, trilhos, praias ou lagos. Estarmos envolvidos nestes locais ajuda a diminuir o stress do dia-a-dia e tem impactos positivos na saúde mental. “O contacto com a natureza está associado a melhor saúde mental, física, e maior sensação de bem-estar. As pessoas sentem-se melhor, mais felizes, num estado de humor mais positivo”, diz Luísa Lima, professora catedrática de Psicologia do Iscte e investigadora nesta área.

Além da sensação de bem-estar, de leveza e de liberdade, a ligação com espaços verdes e azuis naturais tem outros benefícios comprovados pela ciência. Evidências sugerem que estes espaços para além de reduzir o stresse, podem revigorar o humor, melhorar a concentração e até têm o potencial de estimular o nosso sistema imunológico. Um estudo de 2019, publicado na revista Scientific Reports, revelou que fazer mergulho por apenas 120 minutos por semana pode ajudar a melhorar a nossa saúde e bem-estar de uma forma geral. Outros estudos revelaram que passar algum tempo na natureza pode aumentar a produção de dopamina, endorfinas e oxitocina e ainda estimular o nosso sistema imunológico. A frequência cardíaca diminui, sentimo-nos mais calmos e o nosso pensamento fica mais claro. Passar mais tempo em áreas verdes pode ter um impacto duradouro na nossa saúde e bem-estar - reduzindo o número de visitas ao médico e até melhorando o humor a longo prazo. Já um estudo publicado na revista científica Environmental Psychology mostrou que apenas uma caminhada de 30 minutos num parque urbano reduziu significativamente o pensamento negativo e repetitivo em participantes saudáveis.

A evidência dos benefícios de passar tempo na natureza é agora tão convincente que médicos em alguns países, nomeadamente da Escócia prescrevem a atividade aos seus pacientes com problemas cardíacos e com depressão.

- O termo japonês Shinrin-yoku (banhos de floresta) define uma prática que explora os benefícios da interação com a natureza. Um estudo publicado na revista científica Environmental Health and Preventive Medicine mostrou que as pessoas que estiveram em contato com ambientes florestais obtiveram uma redução dos seus níveis de stress, tensão arterial mais baixa e batimentos cardíacos mais reduzidos, em comparação com as pessoas que estiveram em contato com ambientes urbanos. Os especialistas afirmam que estes resultados contribuem para o desenvolvimento de um campo de investigação voltado para a medicina florestal, que poderá ser utilizado como estratégia para a medicina preventiva.

- Uma investigação publicada na revista científica Urban Forestry and Urban Greening revelou que a interação com meios naturais aumenta a criatividade. Este estudo foi feito através da observação de um workshop de Forest Therapy (um tipo de terapia que explora o contato com a natureza) que durou três dias. Uma análise que mostrou que o desempenho criativo dos participantes aumentou em 27,74%. Além disso, a investigação concluiu que este tipo de ligação contribuiu para uma melhoria da saúde física e mental dos participantes, bem como para o aumento das emoções agradáveis e a redução das emoções desagradáveis.

- As plantas parecem ter influência no desenvolvimento de uma recuperação após uma cirurgia. Um estudo publicado na revista científica Alternative and Complementary Medicine revelou que a visualização de plantas durante o período de recuperação após uma cirurgia teve uma influência positiva nos resultados de saúde e de recuperação de doentes em pós-cirurgia. Os pacientes em quartos de hospital com plantas tiveram respostas fisiológicas significativamente mais positivas. Tensão arterial mais baixa, menos dor e menos fadiga foram os resultados apresentados por tal grupo. Estas foram as melhorias em comparação com os pacientes que estavam em salas de recuperação sem flores e plantas. Além disso, o primeiro grupo também se sentiu mais confiante.

- Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, nos EUA, revelou que espaços com mais vegetação estão associados à diminuição da mortalidade. Após entrevistarem 108 mil mulheres, os especialistas chegaram à conclusão de que a taxa de mortalidade daquelas que viviam mais perto de espaços verdes era 12% menor. Valor este comparando com aquelas que viviam em espaços sem qualquer tipo de vegetação. Estas evidências são ainda mais fortes para as causas de morte que estão relacionados com cancro ou doenças respiratórias. Os espaços verdes estimulam as pessoas a praticarem atividade física e ainda, aumentam o envolvimento social, levando assim a uma melhoria da saúde física e mental.

Assim, fomentar a preservação dos nossos rios, lagos, oceanos, florestas e parques é essencial para atenuar os efeitos das alterações climáticas, para travar o declínio da biodiversidade, mas também para promover a nossa saúde física e mental. Num cenário mundial de urbanização crescente, prevê-se que até 2050 a população a viver em áreas urbanas possa passar dos atuais 55% para 68%. Nesta situação, os espaços verdes e azuis que integram a maioria das paisagens urbanas revelam-se de uma extrema importância na promoção da saúde.

Existe a necessidade das autarquias criarem mais opções e novos reforços de trilhos junto a rios, melhorar as condições dos parques e fomentar o uso destes locais para que as pessoas possam usufruir desse tipo de contato e assim promover a saúde física e mental.