Foi a 17 de maio de 1990, faz hoje
precisamente 31 anos, que a Organização Mundial de Saúde (OMS), retirou a homossexualidade da Classificação
Internacional de Doenças (CID).
Esta decisão foi um passo
importante para a compreensão da homossexualidade como identidade sexual, e não
como uma doença ou desvio da normalidade, passível de tratamento e cura.
No entanto, uma lei escrita, não muda preconceitos, comportamentos agressivos e tabus, pelo que importa continuar a combate-los, assinalando-se anualmente a 17 maio
O Dia Internacional de Luta contra
a Homofobia e a Transfobia que visa a consciencialização
civil para a discriminação das pessoas homossexuais, transexuais e transgéneros.
Esta é uma descriminação que começa
desde logo e muito frequentemente, dentro de casa, no seio das próprias
famílias e cujo sofrimento que desencadeia acaba por levar à procura de ajuda
psicológica especializada. Apesar de todo o processo na mudança de mentalidades
que tem ocorrido ao longo dos tempos, o preconceito continua a existir dentro
da própria família, onde supostamente deveria ser o lugar do amor, acolhimento,
aceitação e compreensão.
Para muito pais ainda é difícil abrir mão das
suas expetativas e da opinião dos outros, encarando a homossexualidade dos
filhos como uma falha pessoal, narcísica, que induz culpabilidade, vergonha e
fracasso. Esta rejeição poderá traduzir-se por parte dos pais em manifestações
de chantagem emocional, humilhação, frieza afetiva, distanciamento emocional e
rutura relacional, dando lugar a um marcado sofrimento psicológico,
nomeadamente ansiedade e depressão, e a danos significativos na auto-estima.
Muitas pessoas sentem-se aprisionadas e
sufocadas num conflito interno que oscila entre afirmar e viver em pleno a sua essência e
não querer dececionar e perder o amor dos pais, reprimindo a sua própria
identidade numa fachada. Muitos homossexuais afastam-se dos seus familiares ao
conquistarem a sua independência financeira e também muitos outros permanecem
ligados à sua família por uma ilusão de proteção de vínculos de amor
"naturais", mas que exige uma anulação do próprio.
Se uma das maiores preocupações de
pais e mães de homossexuais diz respeito à violência a que o filho poderá estar
sujeito no quotidiano, em vez de se limitarem a tolerar os seus filhos ou a exercer sobre eles discriminação e violência (tudo aquilo que vai contra ao
exercício da parentalidade) deveriam antes acolhê-los, amá-los e ajudá-los a lidar com o
preconceito que eventualmente poderão encontrar.
A família é o primeiro sistema de
apoio que promove a estruturação da identidade do individuo, de forma mais
fragilizada ou fortalecida, e da qual dependerá a sua auto-aceitação, segurança
pessoal e resiliência perante as adversidades.
Importa, pois, trazer para o debate
público o problema da homofobia ainda sofrida no seio de tantas famílias e
escondida pela esfera privada, uma vez que reforça os danos causados pela
discriminação e violência nos espaços sociais.
A família, deveria, pois, constituir-se
como um importante alvo de ação das políticas públicas que visam a defesa dos
direitos humanos e civis, bem como o combate a todo tipo de violência e
discriminação.