Como seria o mundo se fossemos todos
um pouco mais empáticos? Como seria a nossa vida, o nosso dia-a-dia, se não
levássemos tão a peito cada “falta de respeito” que consideramos dos outros,
muitas vezes apenas por agirem de forma diferente? Como seria termos mais empatia
pelos outros, e por isso sermos mais tolerantes e aceitantes com o que
consideramos “erros” dos outros? Como seria a nossa vida sem o constante
julgamento? A empatia, a tolerância e a aceitação andam de mãos dadas.
Tendo em conta que a tolerância se
define do latim tolerantĭa (constância em sofrer), “é um termo que define o
grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural,
civil ou física. Do ponto de vista da sociedade, a tolerância é a capacidade de
uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma
atitude diferente das que são as normais no seu próprio grupo. Assim, a partir
da tolerância, é garantida a aceitação das diferenças sociais e a liberdade de expressão.
Tolerar algo ou alguém é permitir que algo prossiga, mesmo que a pessoa não
concorde com tal valor, pois é dado o respeito de discordar. Ser tolerante
implica aceitar que todos temos a liberdade de escolha das nossas convicções e
que todos temos o direito exatamente igual de desfrutar da mesma liberdade”.
A empatia é a nossa capacidade de nos
colocarmos no lugar do outro e conseguirmos ver através do outro, e mesmo que
não se partilhe da mesma opinião ou da mesma perspetiva, a empatia é isso mesmo,
ver através das suas lentes e compreender então a sua visão. No mesmo nível...
nem melhor nem pior. Compreender assim, que pelas diversas razões (educação,
aprendizagens, experiência de vida) as pessoas criam e desenvolvem visões e
opiniões diferentes, todas elas válidas. Sem dúvida, um exercício de
descentração.

Nos últimos tempos, parece-me que
temos assistido a um aumento da intolerância social. Violência e atos de
intimidação contra pessoas que exercem a sua liberdade de opinião e de
expressão. Parece-me que se tem confundido dar opinião com ditar opinião de
forma fundamentalista, anulando-se todos os pontos de vista diferentes. E
parece-me que isso tem vindo a ganhar espaço sobretudo nas redes sociais, um
pouco sobre todos os temas. De repente, temos doutorados e especialistas em
todas as matérias, opinando como se cada um, individualmente tivesse a verdade
absoluta.
Isso é assustador. Estamos cada um a
crescer e a viver na sua própria bolha? Até que ponto a pandemia, ao exigir um
maior distanciamento social, em que as pessoas se fecharam mais nas suas casas,
também se fecharam mais nas suas redes sociais, na sua bolha, na sua realidade
e as suas opiniões se tornaram mais e mais fundamentalistas?
Onde está aqui a empatia!?
É fundamental para uma sociedade
harmoniosa, haver a capacidade de reflexão e a capacidade crítica, e isso
acontece quando todos podemos partilhar as nossas opiniões e crescermos com
essas partilhas, podendo assim evoluirmos como sociedade e como pessoas. Mas
nesse processo também faz parte querer ouvir e compreender o outro lado e a
outra perspetiva, o querer ouvir e compreender de forma genuína. Mas para conseguirmos
fazer isso, temos que desligar o botão do julgamento e da ideia de que a minha
perspetiva é melhor que a do outro, ou que eu tenho razão. Um olhar desapossado
dos próprios valores e preconceitos, reconhecendo e aceitando que há diferentes
maneiras de pensar e agir. E talvez refletir sobre a necessidade de termos
razão...!?
Assim, tendo em conta que termos
saúde mental também significa termos a capacidade de adaptação e conseguirmos
criar relações com pessoas, é essencial olharmos para a nossa capacidade de
empatia e tolerância como um aspeto essencial a ser refletido. Uma pessoa mais
empática e tolerante tem uma maior flexibilidade mental, tem uma maior
capacidade de se adaptar e isso permite com que a pessoa possa lidar melhor com
situações inesperadas, de stress e de frustração, vivendo de forma mais
tranquila e harmoniosa.
Proponho uma reflexão sobre este
tema... Sou tolerante? Sou empático? Quais são as consequências da minha
tolerância e empatia ou falta delas, em mim, nos outros e nas minhas relações?
Como me poderei tornar mais empático e tolerante e como isso me faria sentir?
Sugiro que numa próxima conversa faça esse exercício, escutar genuinamente essa
pessoa e colocar-se no lugar dela, compreender. Sem dúvida que as diferenças
serão mais facilmente compreendidas e será mais tolerante e aceitante, mesmo
sem concordar. Mas não se sente mais próximo dessa pessoa?
Artigo publicado na Revista Psicologia na Actualidade, Psychology Now, nº 60 Jan-Fev-Mar 2023.