sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Em busca das emoções perdidas... ou como não aceitarmos as nossas próprias emoções nos desliga de nós mesmos (e dos outros)

Muitos dos nossos problemas, especialmente no que diz respeito às nossas relações e trabalho, estão relacionados com uma curiosa tendência para perdermos o contacto com as nossas próprias emoções.
Sendo elas uma parte integrante, constitutiva mesmo, de nós como pode isso acontecer? Como podemos não saber como nos estamos a sentir, se somos nós que o estamos a sentir? Em parte, porque vamos crescendo com a ideia de que determinadas emoções, bem como comportamentos, não são aceitáveis. Sabemos bem que a tradição nos diz que “os meninos não choram” e que “as meninas se devem comportar como senhoras”... Também com as emoções algo semelhante vai acontecendo: se em algumas famílias a expressão do afecto não é prática comum, noutras (ou nas mesmas) a zanga é o maior dos pecados e, por isso, não se pode falar dela e, muito menos, senti-la.
O que acontece é que vamos aprendendo a camuflar as emoções, especialmente as menos “aceitáveis”, como a zanga, a inveja, a frustração. Elas estão lá, existem em nós, mas, por inúmeras razões, acabamos por “contorná-las”, por passar por elas sem nos permitirmos efectivamente senti-las.
Nunca vos aconteceu? Têm a sensação de se permitirem sentir e receber as emoções à medida que elas aparecem? Ainda bem. Mas... e já alguma vez vos aconteceu sentirem-se plenamente tranquilos, relaxados no sofá, num bom momento de descontração e, de repente, sem aviso, e sem grande explicação, um qualquer comentário de alguém, uma atitude pouco significativa da pessoa que estava convosco, vos inundar de irritação ao ponto de acabar com a serenidade daquele momento? A reacção terá sido proporcional à acção da outra pessoa? Se não... por que terá acontecido? Será que houve um acumular de situações em que dissemos “Sinto-me cansado” quando o que estava em nós era um “Sinto que me desiludiste”, ou em que verbalizámos “Estou triste” quando, lá dentro, o nosso Eu emocional grita “Estou furioso”?

É difícil admitirmos para nós próprios que acontecimentos pouco significativos, triviais, do mundo exterior possam ter um impacto tão incrivelmente intenso no nosso mundo interior. Por vezes, sentimo-nos magoados mas não dizemos nada porque isso nos colocaria numa situação de quase humilhação (quanto mais não seja, para connosco próprios) por estarmos a sentir algo que não é suposto sentir-se. Muitas vezes acabamos por cair na armadilha de expressarmos algo que tem mais de aceitável do que propriamente de verdadeiro, de genuíno. Contudo, os sentimentos aos quais não demos ainda atenção não vão, nem conseguem ir, embora. São como conhecidos ou familiares que não queremos convidar para as nossas festas mas que se demoram, se deixam ficar, e se vão alimentando da energia dos restantes convidados.


Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O que há de "errado" num elogio que o torna desconfortável?

Todos nós gostamos de ser elogiados, é bom, sabe bem ouvir um elogio, certo? Mas, de uma forma geral, temos dificuldades em aceitar um elogio... não é confortável, ficamos assim sem jeito, nem sabemos bem como agradecer, por vezes até o tentamos justificar. Alguns de nós por modéstia, outros simplesmente por não sabermos lidar, por não estarmos habituados a receber.

Como nos sentimos ao receber um elogio? Quais os primeiros pensamentos que nos vêm à cabeça? Que tipo de respostas costumamos dar? Como reagimos? Para muitos de nós, receber um elogio pode ser um momento algo forçado. Podemos ter dificuldade de aceitar o elogio quando não acreditamos que somos merecedores de tal atitude por parte do outro. Caso seja assim, o que nos faz não acreditar no que esta pessoa nos está a dizer? E se essa pessoa nos criticasse, seria mais aceitável? Porque será que é mais fácil aceitar uma crítica do que um elogio? O que tem um elogio de tão “errado”, para se tornar desconfortável para muitos de nós?

Diversas razões podem influenciar esse desconforto, muitas dessas razões estão relacionadas com a questão educacional, a forma como fomos ensinados a lidar com a crítica e com o elogio, como nos vemos e como nos sentimos merecedores ou não desse elogio, como também a forma como ao longo da vida fomos criticados e elogiados. Contudo há uma outra razão: o peso da responsabilidade do elogio.

Ao elogio também estão associadas as expectativas. Ou seja, quando alguém nos congratula por sermos o melhor aluno, a empregada do mês, um grande guitarrista, uma óptima actriz ou porque pintámos um quadro muito bonito, podemos criar em nós uma pressão, porque pensamos que: "Tenho que ser sempre assim tão bom, porque essa é a imagem que esta pessoa tem de mim”. E, ao não querer defraudar esta pessoa, criamos a responsabilidade de manter esse nível e uma obrigação em continuarmos a ser muito bons. Caso isso não aconteça, podemos sentir que falhámos...

Como podemos aceitar de forma mais natural os elogios? Podemos ouvir um elogio e não associar a uma expectativa do outro? Conseguimos aceitar um elogio como algo puramente genuíno da parte do outro? Mesmo que o outro crie expectativas sobre nós, como podemos lidar de forma positiva, sem permitir que elas nos boicotem com o receio de falhar? As respostas são diversas: auto-conhecimento, consciência, reflexão, autoconfiança.

Sugestão do dia: elogiar o que nos agrada e experimentar receber elogios e sentirmo-nos simplesmente agradados. 

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 25 de setembro de 2016

Auto-Sabotagem...ou o medo do desconhecido?


Nem sempre o caminho que tomamos nos conduz ao lugar desejado. E, por mais tentativas levadas a cabo, repete-se o resultado de insucesso. 
Provavelmente os acontecimentos de vida, as circunstâncias, a interferência de terceiros, ou mesmo decisões pouco ponderadas, poderão ter contribuído para a instalação da situação atual. Mas também as nossas condutas, inconscientes, ou seja, os nossos padrões comportamentais repetitivos, poderão igualmente estar a condicionar o nosso sucesso. A isto chamamos auto-sabotagem, enquanto um processo sustentado em crenças internas limitadoras construídas ao longo da vida e enraizadas na estrutura mental, que levam a pessoa a adotar comportamentos repetitivos que lhe são prejudiciais. Geralmente, este é um processo inconsciente, sendo frequente a projeção da responsabilidade ou da culpa no exterior.
A existência destas crenças negativas e limitantes em relação ao próprio estão associadas a uma auto-imagem e a uma auto-estima negativas. Esta voz interna negativa pode ter várias traduções, nomeadamente: “eu não consigo fazer nada bem” “eu não mereço ser feliz”, “acabo por perder todas as pessoas que amo”, entre muitas outras. Independentemente da crença limitante, ela pode acabar por condicionar a ação, dada a necessidade do sujeito em confirmar e reafirmar a sua crença a partir do resultado daquele acontecimento. E se é verdade que o resultado do auto-boicote vem reforçar os sentimentos de tristeza e desesperança, por outro lado permite a permanência numa zona de conforto que é familiar e previsível, apesar de limitante e desagradável. Poderão ser exemplos de auto-sabotagem, aquela pessoa que já reprovou várias vezes no exame de condução, ou a outra que já tentou por várias vezes fazer dieta mas a meio do processo, desiste e retoma os hábitos alimentares antigos e pouco saudáveis. Estas e outras situações, podem representar desafios que colocam em causa a identidade do próprio (a perceção que tem de si) e as sua crenças, pelo que inúmeras resistências são levantadas. Conduzir para alguém com um funcionamento muito dependente, pode representar o medo de tomar as rédeas da sua vida e decidir o caminho que quer seguir. A reprovação repetida no exame de condução pode representar uma forma de fuga e de evitamento a uma situação nova e desconhecida, de maior autonomia, que desperta medo e desconforto.
Auscultar e observar os padrões comportamentais que se repetem e as emoções associadas a situações desconfortáveis, são procedimentos essenciais para começar a proceder a pequenas mudanças.
Tomar consciência destes processos inconscientes é um dos primeiros caminhos para romper com a auto sabotagem e assumir a direção por uma vida mais harmoniosa. No sentido de promover o auto-conhecimento e a orientação da  vida de acordo com o que é desejável, importa saber responder às seguintes perguntas.
“O que é que eu quero para mim?”
“Como é que me quero sentir no futuro?”
“Quais são os meus objetivos? (Os sentimentais, profissionais, de relacionamento, financeiros, e outros…)
           Desfazer crenças negativas que levam à auto-sabotagem, ter um auto-conhecimento profundo, tolerar a frustração e ser persistente perante as adversidades, são aspetos que contribuem para o desenvolvimento do potencial e das habilidade de cada um.
As nossas experiências de vida não nos definem e muito menos nos rotulam. Muitas vezes vivemos colados a esses rótulos que acreditamos definirem a nossa identidade, consubstanciados nessas “falsas verdades”, quando a verdade é que a nossa plasticidade, capacidade de readaptação e potencial criativo são enormes e possibilitam estar em constante aprendizagem e transformação.

          Ousemos então aceitar esse desafio constante chamado vida!

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Quando fazer nada nos pode trazer tanto...

Quando nada é feito, nada fica por fazer.
(Lao Tzi, O Livro do Caminho e da Virtude)

Pode ser frequente encararmos o nosso dia-a-dia como uma sucessão de pequenas (ou grandes) batalhas, em que constantemente nos sentimos desafiados, postos à prova, bombardeados com desafios que lutamos por superar...
Esforçamo-nos demasiado, diriam os Taoístas... Não somos capazes de responder às exigências reais das situações, e então vem a fadiga, o sono, a fome, a dificuldade de concentração. Dormimos pouco, alimentamo-nos mal, e entramos na batalha seguinte com as hipóteses de sucesso ainda mais reduzidas.
O Livro do Caminho e da Virtude salienta que devemos ser como a água: “suave e branda”, mas que “para atacar o que é rígido e duro, nada se pode adiantar a ela, não pode substituí-la”, parecendo ensinar-nos que com uma delicada persistência e complacência para com as características específicas de um problema, o obstáculo pode ser contornado e gradualmente erodido, numa espécie de passividade estratégica.
Vários estudos mostrarem que tempo dedicado e não estruturado de inactividade equilibrado com a gestão das actividades, promovem uma maior energia, clareza mental e capacidade de concentração ao longo do dia. Contudo, vivemos tão focados e pressionados pela produtividade, que nos parece pouco possível sequer equacionar tempo de inactividade como um bom aliado da tarefa em si. Focamo-nos no pensamento rápido, na tomada de decisão quase espontânea, ao ponto de não nos apercebermos que podemos ajustar ou mesmo mudar os nossos próprios ritmos e rotinas. Como?!? Valorizando não apenas o tempo em que estamos activos, mas também, e (por que não) principalmente, a inactividade.
Para isso, importa, antes de mais, conseguirmos identificar o nosso próprio ritmo, conhecendo os nossos picos (altos e baixos) de energia e motivação ao longo do dia ( e, posteriormente, ao longo da semana, e até mesmo ao longo do ano). Então, darmo-nos permissão para reservar algum tempo para não fazer nada e, para o conseguirmos, necessitamos ser cuidadosos na organização da nossa agenda, lembrando-nos de não preencher todos os períodos e reservando tempo para descansar, descontrair e recuperar. E sejamos rigorosos... porque é-nos incrivelmente fácil abdicar de tempo de inactividade sem pensarmos duas vezes,em detrimento de um qualquer compromisso, confundindo muitas vezes a noção de importante com a de urgente.
Mas fazer nada é muitas vezes associado a preguiça ou apatia, e vem acompanhado por pensamentos negativos, julgamentos e até mesmo uma sensação de quase culpa... e, por isso, importa também estarmos disponíveis para gerir as emoções negativas que vêm como consequência da prática de fazer nada, começando por tomar consciência de como a tendência humana para se focar mais no negativo do que no positivo pode influenciar o nosso comportamento, e, dessa forma, evitarmos exigir demais de nós próprios.


Ana Luísa de Castro Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Apenas Timidez? Ou Fobia Social? – Ter conhecimento para entender

Quem é que nunca se sentiu ansioso numa situação social? Por exemplo, quando temos que apresentar um trabalho, ou quando temos que falar em público ou em situações que sabemos que vamos ser avaliados? Mas por norma, essa ansiedade acaba por ser pontual e temporária, diminuindo e acabando por desaparecer quando saímos dessa situação. Mesmo os mais tímidos provavelmente sentem uma ansiedade mais intensa nestas situações, mas essa ansiedade, não é suficiente para que as situações sejam evitadas.

A Timidez deriva do medo da exposição perante as outras pessoas e de falar em público. Este medo pode variar de intensidade, originando pessoas simplesmente mais reservadas, ou no outro extremo, originando pessoas que chegam ao estado fóbico – Fobia Social.

A Fobia Social caracteriza-se por um medo acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho (avaliação). Exemplos: manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares, ser observado a comer ou a beber e situações de desempenho diante de outros, tal como apresentar um trabalho. O confronto ou a antecipação de uma dessas situações provoca uma resposta imediata de ansiedade. Esta resposta pode assumir a forma de um Ataque de Pânico, existindo um reconhecimento pela pessoa de que o seu medo é excessivo ou irracional. Nas situações sociais ou de desempenho temidas, as pessoas com fobia social têm preocupações relativas ao seu embaraço e temem que os outros as avaliem de forma negativa, bem como medo em demonstrar sintomas de ansiedade. Existe uma grande tendência da pessoa evitar os sintomas que lhe causam sofrimento e assim, evitar essas situações, criando um condicionamento na rotina diária, no funcionamento ocupacional ou na sua vida social. Os casos de fobia social podem originar o aparecimento de estados depressivos ainda mais limitantes, tal como a depressão, afastando a pessoa do contacto social.

Assim, podemos dizer que o “Núcleo” da Ansiedade Social é o medo de ser incompetente, de falhar ou de se comportar de forma ridícula (Insegurança acerca das suas capacidades) e o desejo intenso de transmitir aos outros uma impressão favorável de si mesmo, havendo uma grande preocupação de uma possível avaliação negativa.

Desta forma, quando sofremos de ansiedade social, as situações sociais tornam-se ameaçadoras, originando uma hipersensibilidade à possibilidade de sermos avaliados, e assim é desenvolvida uma hipervigilância cognitiva à rejeição, que se traduz numa alteração no processamento de informação, mais especificamente, enviesamento nos processos de atenção, avaliação e interpretações das situações sociais. A interpretação das situações sociais como ameaçadoras está relacionada com uma vivência de vulnerabilidade à avaliação pelos outros, que por sua vez resulta da existência de auto-esquemas de ineficácia e incompetência para lidar com situações sociais. A existência de regras rígidas acerca do comportamento social e o engrandecimento das consequências do fracasso são aspectos que também se encontram presentes.

O medo de não causar uma impressão positiva ou de ser avaliado negativamente pelos outros em situações sociais é um dos aspectos centrais. Uma hipersensibilidade às críticas (ou possíveis críticas) dos outros contribui para que nos sintamos permanentemente observados e avaliados. Assim, está presente uma vigilância e avaliação sobre nós próprios e sobre os nossos comportamentos e acções, como também uma comparação com os outros, na tentativa de nos protegermos dessas avaliações negativas.

Quando somos confrontados com uma possível situação desencadeadora de ansiedade, desenvolvemos uma série de expectativas negativas acerca das possibilidades de ficarmos ansiosos, e da percepção dessa ansiedade pelos outros, que nos leva a avaliar a situação como ameaçadora e a conduzir até a uma atenção auto-focada.

A atenção auto-focada faz-nos aumentar a consciência de nós próprios, ampliando a percepção de ansiedade e desconforto (intensificando os sintomas somáticos e cognitivos), fazendo assim diminuir a atenção disponível para os estímulos exteriores relacionados com a situação. Para além disso, cria um efeito de interferência no processamento dos estímulos: interpretamos sinais de forma enviesada, como também construímos uma imagem de nós mesmos que assume automaticamente ser a impressão que os outros têm de nós. Esta imagem é construída a partir de uma perspectiva de observador, como se nos observássemos de um ponto de vista exterior a nós.

Pelo apresentado neste texto, é fácil perceber a importância de enfrentarmos este problema o mais cedo possível. Desse modo, podemos reduzir o desgaste emocional associado à ansiedade social e prevenir os outros problemas que dela derivam. Uma abordagem terapêutica adequada permitir-nos-à ter uma vida mais tranquila e satisfatória, e isso passará naturalmente por nos confrontarmos com as situações,
e pensar, sentir e agir nesses momentos, de forma diferente da habitual, para quebrar o nosso ciclo vicioso de ansiedade social.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

Fontes:
- American Psychiatric Association (APA) (2013). DSM – V: Diagnostic and Satistical Manual of Mental Disorders (5th ed.). Washington: New School Library.
- Gouveia, J. P. (2000) Ansiedade Social: da timidez à fobia social. Coimbra: Quarteto Editora.

domingo, 18 de setembro de 2016

Carência Afetiva: não é só de alguns mas de todos nós


Ao contrário da divisão que se tende a fazer entre carentes e não são carentes, a realidade é que todos nós somos carentes.
A carência afetiva e a sensação de vazio e de incompletude, fazem parte da condição humana e estão presentes desde o nascimento, momento em que se dá a transição de um estado de plenitude para um estado de desamparo e abandono, que só é atenuado com o colo da mãe.
No entanto, à medida que vamos crescendo, vamos aprendendo a gerir essa carência, através de um conhecimento progressivo das próprias capacidades e habilidades que possibilitam a retirada de satisfação das mais variadas situações tais como a profissão, uma viagem, um convívio com os amigos, uma ida ao cinema ou a leitura de um livro.
Quando a carência afetiva é excessiva, tendem a prevalecer as relações de dependência, nas quais o outro, quer seja o namorado, a melhor amiga ou o filho é tido como tendo a responsabilidade de completar o próprio. Aquele que sente esta necessidade urgente da presença do outro para existir, acaba inevitavelmente por adotar uma posição mais controladora e vigilante como também poderá ficar comprometida a sua capacidade para avaliar o equilíbrio daquelas relações.
Na realidade todos somos carentes mas em graus diferentes. A intensidade desta carência é que varia, sendo que esta intensidade não se mede pela força do apelo ou do discurso. Se por um lado existem pessoas que fazem propaganda das suas carências, também há aquelas que fazem propaganda das carências dos outros, como se não as possuíssem. Efetivamente a sensação de incompletude é comum a todas as pessoas mas é também ela que nos motiva para irmos em busca do que nos falta. É precisamente na falta de alguma coisa que se abre o espaço para que possamos desenvolver as nossas habilidades e recursos internos a partir da vivência de determinadas atividades, experiências ou relações humanas.
O desenvolvimento destes recursos internos ao longo do crescimento vai assim promovendo a nossa autonomia e a capacidade de sermos a nossa melhor companhia, por outras palavras, de nos bastarmos a nós próprios. Paralelamente, as relações estabelecidas serão também elas mais saudáveis e equilibradas, na medida em que o outro surge como alguém que vem complementar, abrir novos horizontes e co-construir connosco.
Poder contribui para um ambiente de afetividade, onde nos permitimos interpelar o outro,  pedir afeto, receber afeto, dar afeto e estarmos atento às necessidades afetivas do outro, irá com certeza diminuir não só a solidão do próprio como a do outro, saindo favorecida a qualidade das relações humanas. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Darmos a nós mesmos o que damos aos outros... e a arte da auto-compaixão

Já experimentaram uma sensação, quando algo corre mal nas vossas vidas, de quase pena para convosco próprios? Por que é que isto me está sempre a acontecer? Por que é que as pessoas são assim comigo? Será que o universo não me dá um descansozinho? O que fiz eu para merecer isto? Ou, por outro lado, quando tudo parece desabar, vêm à memória expressões como “fiz a cama onde agora me deito”, bombardeando-vos a vós mesmos com chorrilhos de críticas, um enorme sentimento de culpa, e a certeza absoluta de serem responsáveis por todas e quaisquer agruras que vão vivendo? Não são os únicos.
Todos nós passamos por momentos em que, numa atitude de inocência quase pueril, nos desresponsabilizamos dos acontecimentos desagradáveis ou frustrações que vivemos, atribuindo aos outros, ao contexto, ou ao universo no geral, toda a responsabilidade pelo que estamos a passar, e, temos também momentos, em que munidos de toda a artilharia erguemos a bandeira da auto-recriminação, desacreditamos todos quantos nos queiram dizer que há “coisas que acontecem”, e não paramos de revisitar as memórias de quando errámos ou deitámos tudo a perder. Pior, muitas vezes ficamos presos à ideia de que só existem dois lados nesta batalha...
A verdade, é que a capacidade de analisarmos criticamente as nossas atitudes, comportamentos, conquistas, objectivos, relações, de nos olharmos criticamente, é, sem dúvida, uma capacidade, uma competência que nos pode permitir crescer, melhorar, balizar os indicadores que nos guiam no caminho que queremos seguir. E, talvez por ser tão necessária (ainda para mais numa era de quase fanatismo pela eficiência), sabemos tão bem exagerá-la. Levamo-la quase ao extremo, para onde já nada de bom nos ajudará a alcançar, para onde já nada de novo nos ensina, “ajudando-nos” tão só e apenas a vermo-nos livres da nossa boa disposição, de motivação para sairmos da cama, e a reduzir a nossa eficiência.
E é precisamente aqui que deixa de ser só aconselhável, e passa a ser quase obrigatório, algo de que  - por termos esta tendência de só ver dois lados do jogo, e confundimos com pena – fugimos, desconfiamos, que receamos que nos roube a força (e a dignidade?), que nos faça moles... a auto-compaixão.
Proponho uma reflexão... Quando outra pessoa erra, criticamo-la incansavelmente até que a exaustão nos pare? É-nos fácil, ou pelo menos possível, ser amáveis com essa pessoa, continuar a gostar dela, compreender que ainda que tenha falhado isso não significa que que não seja boa nessa tarefa?
Muitas vezes, quando alguém de quem gostamos não consegue alcançar algo que desejava, o seu casamento termina, não consegue marcar o golo que tanto treinou, ou não passou no exame que lhe faltava para acabar o curso... ficamos ao lado dessa pessoa, dispendemos com ela um generoso período do nosso tempo, lembrando-lhe o quão boa é a fazer tantas coisas, que os azares acontecem, que não temos que ser (sempre) os melhores, que o fim das relações é também o início de muitas aprendizagens e momentos de alegria. E acrescentamos “Por muito difícil que te seja acreditar nisso agora...”.
Proponho agora um desafio... da próxima vez que sentirem que falharam, que não vale a pena tentar de novo, ou que uma nuvem cinzenta paira por cima de vós e que tudo irá sempre correr mal, experimentem fazer o que fariam se o mesmo se tivesse a passar com alguém de quem gostam, com quem se preocupam, e que querem que se sinta bem. Recordem a vocês mesmos que a tarefa era muito difícil, que na vossa história de vida há acontecimentos que permitem compreender terem-se comportado desta forma, que qualquer tarefa implica uma elevada probabilidade de erro, que a sorte e o azar por vezes são coisas reais e não temos como controlar tudo, que o vosso valor não depende de factores externos, que estão demasiado exaustos ou desapontados para conseguirem ver que há uma solução que simplesmente não estão a conseguir ver neste momento...
Permitamo-nos despir um pouco o medo da “piedadezinha”, do coitadinho, e procurar ser amáveis e compreensivos com os motivos por que errámos. Há inúmeras vantagens em (re)aprendermos a auto-compaixão, e em aceitar que merecemos ser compreendidos e perdoados, e que cuidarmos de nós próprios é compatível (e essencial) com uma vida ambiciosa e bem sucedida. 

Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

E cá vamos nós... Uma nova fase: entrada para a universidade numa nova cidade!

Por mais imaginação que se tenha, ideias e expectativas que se criem, e até mesmo com algumas partilhas de experiências de alguém que já tenha passado por esta fase, a verdade é que será sempre diferente: a entrada para a universidade numa nova cidade!

No início vai sempre parecer um caos, uma nova etapa cheia de independência (logo, uma maior necessidade de responsabilidade): uma cidade nova que muitas vezes não se conhece (encontrar casa, conhecer os transportes), novos professoras, disciplinas muito diferentes, novos colegas, necessidade de gerir o dinheiro, necessidade de aprender a cozinhar, fazer amigos... Muitas novas dinâmicas, necessidade de adaptação!

O ser humano tem uma grande capacidade de se adaptar a novas realidades, contudo é importante aceitarmos que o início vai ser sempre um pouco difícil, mas, há medida que vão surgindo dinâmicas mais habituais (um horário fixo, um quarto mais ou menos organizado) e uma rotina é criada, a situação vai-se tornando menos assustadora.

Talvez seja importante percebermos o que podemos fazer para facilitarmos um pouco essa nova etapa e para isso, é importante conhecermos as nossas características pessoais e aproveitarmos no que podemos ser bons e maximizar essas características.

Efectivamente chegar a uma nova cidade, muitas vezes sozinho, fazer amigos neste contexto pode parecer um pouco difícil, mas a verdade é que vão surgir imensas oportunidades de conhecer pessoas. Por exemplo:
- Dividir casa com mais colegas (há sempre imensos anúncios nas faculdades com pessoas na mesma situação que procuram pessoas para dividir casa), e para além de ficarem mais em conta todos os gastos, também se conhecem pessoas,
- Ir às actividades de integração que as faculdades e as associações de estudantes organizam. Aí dá para conhecer muitas pessoas (caloiros e não só),
- Ir aos jantares de curso,
- Escolher algum desporto escolar, ou alguma outra actividade como hobby,
- ir às aulas e fazer os trabalhos de grupo, que para além de ser importante para o rendimento escolar, também serve para conhecer os colegas  de curso.

Se adoptarmos uma postura aberta e nos mantivermos curiosos, de uma forma muito natural e espontânea, vamos conhecer muitas pessoas nesta fase. Em todas as actividades que se faça, se a postura for de abertura, podem-se conhecer pessoas nos transportes públicos, nos supermercados, porque na verdade há imensas pessoas nesta mesma situação, com vontade de conhecer pessoas novas!

As pessoas mais tímidas podem sentir uma maior dificuldade em se envolverem nestas actividades. Contudo, as pessoas tímidas também têm a capacidade de fazer novos amigos, não sendo essa característica apenas exclusiva das pessoas extrovertidas. Assim, se ao sermos mais tímidos e pensarmos que no início não conseguimos tomar a iniciativa de falar e de avançar com alguma ideia, podemos sempre mostrar-nos disponíveis, abertos, sorridentes, e é essa a postura que faz com que as pessoas se aproximem de nós.


A ClaraMente deseja a todos os jovens universitários muita força e vontade de aprender cada dia com alegria e confiança!

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 11 de setembro de 2016

A Escola pela primeira vez - superando a dor da separação



Setembro é o mês que marca para muitas crianças uma mudança importante nas suas vidas, a entrada pela primeira vez na escola, quer no 1º ano, quer no pré-escolar.
Este é um acontecimento marcante, não só para as crianças, que vão conquistando um espaço cada vez mais diferenciado dos pais, como também para estes, que ficam muitas vezes a braços com sentimentos ambivalentes de entusiasmo e apreensão.
Se por um lado a entrada para a escola é motivo de orgulho para os pais ao constatarem que o seu filho está a crescer e a iniciar uma nova etapa da sua vida, por outro lado também pode ser gerador de ansiedade.
Para muitos pais, este momento em que a criança deixa de viver quase que exclusivamente dentro da célula familiar e passa a integrar outro meio e a ficar ao cuidado de pessoas desconhecidas, não deixa de ser doloroso e ansiogénico. A entrada para a escola, que se constitui como um primeiro passo dos filhos rumo à independência, acaba por gerar, não raras vezes, a apreensão de perder o amor dos filhos ou de ter que dividi-los com outros.
Contudo, é um momento essencial no crescimento da criança, que lhe vai proporcionar o desenvolvimento não só de competências intelectuais relacionadas com a aprendizagem como também sociais.
Se a criança perceber a ansiedade e o sofrimento dos pais, poderá ter maiores dificuldades para se separar e se adaptar ao novo ambiente, podendo igualmente sentir uma maior insegurança e medo de abandono. Neste sentido, é essencial que os pais controlem a sua ansiedade e transmitam tranquilidade e segurança aos seus filhos.
Esta é uma fase de adaptação para todos, e como tal, importa que os pais preparem com antecedência o seu filho para a escola, conversando com ele sobre os aspetos positivos nomeadamente, fazer novos amigos com quem brincar, aprender coisas novas, divertir-se mas também ter maiores responsabilidades. Ir incutindo desta maneira o gosto pela escola e o prazer que se pode retirar das brincadeiras e das aprendizagens, irá concerteza promover o entusiasmo da criança em abraçar esta nova etapa da sua vida. Levar a criança a conhecer antecipadamente a escola que vai frequentar para ir criando um vínculo com o espaço e com as pessoas de lá e envolvê-la na escolha dos materiais escolares são também aspetos fundamentais.
O choro no momento da separação é comum mas não significa, necessariamente, que a criança não queira ficar na escola. A maioria das crianças, pára de chorar assim que os pais se afastam, constituindo-se o choro como uma forma de os manter por perto. Tentar confortar a criança e reforçar que a escola é um lugar seguro e agradável, e que as professoras serão amigas e carinhosas terá um efeito securizante e apaziguador. As educadoras e professoras têm nesta fase de adaptação um papel preponderante, não só na integração da criança no novo ambiente como também na articulação estabelecida com os pais no que respeita ao comportamento que a criança evidencia, nomeadamente se demonstrar uma resistência à escola muito marcada, com manifestações de insatisfação, irritação ou tristeza fora do normal.
Se a criança não quer ir para a escola, é importante conversar com ela para perceber a origem da sua resistência e desmotivação. De forma calma, e sem desvalorizar o que ela diz, importa compreender o seu mal-estar, conter as suas angústias e reforçar novamente os aspetos positivos da escola.
Para os pais que ainda não estão a trabalhar, é possível fazer uma adaptação mais gradual, onde o tempo de permanência da criança na escola vai aumentando até chegar ao tempo desejado.
É contraproducente oferecer recompensas à criança, por ter ficado na escola dado que este fato deve ser encarado como parte da sua vida e rotina. A previsibilidade é muito organizadora e tranquilizante para a criança, pelo que é conveniente explicar-lhe quem irá buscá-la e que haverá todo o interesse em saber tudo o que ela fez e aprendeu naquele dia.
Começa agora o tempo da aprendizagem que irá marcar todo o caminho futuro da criança e a abertura a um novo mundo, fora da célula familiar. A preparação e o acompanhamento que os pais podem prestar aos filhos neste período de transição é fundamental, o que implica que eles próprios também se sintam suficientemente tranquilos e seguros para que possam transmitir o entusiasmo e a segurança necessárias à criança para abraçar plenamente esta nova etapa da sua vida.

A ClaraMente deseja a todos os que entram para a escola pela primeira vez a construção de um caminho em que a aprendizagem e a alegria possam andar sempre de mãos dadas!



sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Entre a solidão e o amor próprio...

Há uma tendência muito maior do que assumimos para sermos profunda e injustamente hostis connosco próprios, para recusarmos perdoar-nos pelas nossas tontices, e, consequentemente tão frequente, para desconfiarmos de alguém que possa pensar bem de nós. Se olharmos de fora para este quadro, e víssemos alguém tratar-nos desta forma (como tantos de nós se tratam a si próprios), provavelmente pensaríamos no quão cruel e implacável essa pessoa é. E, provavelmente, quão longe dela gostaríamos de estar!
De alguma forma, é precisamente isso que fazemos muitas vezes: fugimos de nós! Aquela pessoa que insiste em criticar cada mudança que arriscamos, em nos amedrontar em cada desafio que desejamos abraçar, em duvidar de todas as coisas que acabamos por conseguir fazer bem... não é alguém com quem queiramos ser deixados sozinhos. E muitas vezes temos a ilusão de o conseguirmos evitando momentos a sós connosco mesmos, procurando a presença constante de outos,  ansiando que venha de fora a aprovação e o afecto que não nos conseguimos dar. Se ampliarmos isto, é como se acabássemos por nos abandonar a nós mesmos, procurando ser outra coisa, qualquer que seja, desde que seja diferente de quem sabemos ser.
Moldamos os nossos gostos aos gostos dos outros, viajamos para os destinos que muitos acham encantadores, pomos de lado os velhos (e tão nossos) trapos e vestimos o uniforme dos demais... As nossas qualidades, valores, regras, ambições, convicções, e, até mesmo, vulnerabilidades, serão as que consideramos que outros irão aprovar e partilhar. Parece funcionar: vemos a nossa “rede” social crescer (é agora tão fácil gostarem de nós), somos elogiados pelo corte de cabelo ousado ou pelo destino de férias convencional, e isso, de uma forma que ainda não sabemos efémera, traz-nos satisfação e uma sensação que se assemelha a bem-estar. Vamos assim, de forma mais ou menos gradual, perdendo-nos de nós, de quem somos bem lá dentro de nós mesmos, da nossa identidade.
Só nós sabemos, mas muitas vezes sabêmo-lo tão bem, que aquela pessoa que alguns parecem até admirar não existe. E é como se quanto maior a diferença entre esse Eu e o nosso Eu genuíno, verdadeiro, maior a angústia que sentimos. A satisfação de outrora dá então lugar a mais sofrimento, desilusão, reforçando o desapreço (e, por vezes, até mesmo raiva) por quem somos na verdade. Torna-se cada vez mais difícil darmos a conhecer o nosso verdadeiro Eu aos outros ( “Se eles soubessem quem sou na verdade nunca estariam perto de mim...”); ou, quando até arriscamos fazê-lo, há duas situações que tendencialmente parecem acontecer: acabamos por atrair pessoas que partilham, e ajudam a perpetuar, a visão que temos acerca de nós mesmos, e/ou, quase invariavelmente, iremos desconfiar de alguém que veja além dos nossos defeitos e vulnerabilidades, aceitando-nos e gostando de nós por quem somos realmente ( “Como pode alguém gostar de alguém tão pouco interessante como eu? De certeza que me engana e me vai magoar...”).
Somos inundados por um enorme vazio, uma sensação de nada... não nos temos e não temos quem queremos parecer. Há como que uma dança entre o vazio, a solidão de e em nós mesmos, e a fuga aos momentos a sós, em que parecemos ignorar que existem mais para além desses dois passos, como se não pudessemos tentar outros movimentos que nos ajudem a dançar de uma forma diferente, harmoniosa, mais próxima de nós.

Será possível sentirmo-nos felizes com outros, nas diferentes relações que estabelecemos, se não nos sentirmos felizes quando estamos a sós connosco próprios? Sabe-se hoje que promovermos esta arte de bem estarmos a sós em nós não nos torna anti-sociais, e, pelo contrário, ajuda-nos a melhor estabelecer relações. Conseguirmos ser íntimos de nós mesmos permite-nos alcançar uma maior e mais autêntica intimidade com os outros. Saber amarmo-nos a nós mesmos pode ser das atitudes mais generosas e românticas que podemos alguma vez ter pelos que gostam de nós. Ao aprendermos a gostar de nós próprios, ao sermos capazes de nos amarmos a nós mesmos, aprendemos a olhar o outro não como alguém com baixos padrões, mas como uma pessoa adorável por gostar de alguém como nós.

Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Aquela vozinha...

Já nos aconteceu a todos, com certeza, o receio de fazer algo que não sabemos muito bem se vamos fazer bem, porque é a primeira vez. Por exemplo, a primeira vez que apanhámos um avião estávamos em pânico, (eu pelo menos estava!) não só pela viagem de avião em si, mas pelas malas, pelo bilhete e check in, pelos líquidos que se pode levar na mala de mão... Tem-se receio de se esquecer de alguma coisa e então está-se num estado de alerta bastante elevado. Não, esse estado de alerta e de stress não é agradável, e pode passar pela cabeça por breves segundos que seria preferível estarmos quietos em casa, seguros e não nos colocarmos naquela situação de desconforto. O estado de alerta é importante, porque faz-nos estar atentos a tudo, mas essa vozinha pode ainda intensificar mais essas sensações...

Numa segunda viagem, como já sabemos mais ou menos como as coisas funcionam, já estamos mais tranquilos, relaxados e já temos disponibilidade para reparar mais nas coisas que nos envolvem. Este é um bom exemplo de como saímos da nossa zona de conforto e como esta aumenta. Mas e se tivéssemos escutado aquela voz que nos dizia que o desconforto não era bom e que devíamos ter ficado em casa?

aqui falei da zona de conforto e hoje, ainda em rescaldo de férias, decidi voltar a esta temática, mas também tocando no tema do meu último artigo “O medo”.

O exemplo que dei em cima do avião pode ser substituído por qualquer outra situação que nos coloque numa posição em que nos sentimos mais vulneráveis. E aquele pensamento, aquela vozinha que nos diz que esse desconforto é demasiado e que mais vale não experimentar nem arriscar, e que o melhor é ficar... quem é? A quem identificamos essa vozinha? Há alguém que nos poderia dizer isso? Essa vozinha o que pretende? Se falássemos com ela o que nos iria dizer?

Cada um de nós é feito de várias pequenas partes distintas, às vezes muito distintas mesmo! Por vezes podemos nem conseguir perceber de onde poderá vir esta vozinha. E se eu for uma pessoa muito aventureira e corajosa... como pode surgir então esta voz, que quase me bloqueia? Que quase me faz parar? É importante conseguirmos aceitar que essa voz é uma parte de nós. Isso não significa que a vamos seguir, mas é importante perceber que há uma parte de nós que tem esse medo, esse receio de avançar à descoberta, mas o essencial é conseguirmos distanciarmo-nos dela, aceitando que ela vai consnoco e avançar, se é isso que realmente sentimos que queremos.
Nem sempre é fácil conseguirmos estar em contacto com o nosso verdadeiro “eu”, o genuíno, mas é possível e é essencial. Se conseguirmos perceber o que o “eu” realmente quer fazer e tem vontade, vamos ser também capazes de entender que estamos a ter dificuldades porque a voz nos pode estar a bloquear e assim podemos procurar ajuda e ultrapassar essa dificuldade. Se não conseguirmos identificar esse “eu” genuíno e nos misturarmos com os nossos medos, vamos ter mais dificuldades em conseguir avançar sobre o que realmente pretendemos para nós.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.


domingo, 4 de setembro de 2016

Como preparar o seu filho para o regresso à rotina escolar


Prestes a iniciar-se o novo ano letivo, é tempo de dizer adeus às férias e começar a preparar o regresso às aulas. Para trás ficam os dias longos de sol, os despertares tardios, as tardes de praia intermináveis e os serões de brincadeira ao ar livre com os amigos.
As férias grandes são para muitas crianças e jovens um período muito aguardado e idealizado, que permite o alívio da pressão acumulada ao longo do ano letivo e a entrega a momentos de lazer e diversão, sem horários rígidos, o que é muito benéfico para o equilíbrio emocional.
O fim das férias pode representar um momento de apreensão para alguns, já que o inicio do ano letivo envolve regressar ao cumprimento de horários e deveres escolares e, muitas vezes, a adaptação a novos professores, outras matérias e, em alguns casos, a escolas e amigos diferentes.
De forma a facilitar esta transição, os pais poderão ajudar as suas crianças na preparação gradual para o regresso à rotina escolar, diminuindo o impacto e o choque inicial do início das aulas.
Pelo menos, na última semana de férias, poderão já ser desenvolvidas algumas atividades relacionadas com a rotina escolar, mantendo-se contudo alguma descontração com momentos de lazer e diversão.
Aqui ficam algumas sugestões:
  •  Cerca de uma semana antes das aulas começarem, colocar em vigor o horário de deitar e levantar praticado no período escolar, de forma a permitir uma reabituação gradual a este horário, garantindo-se as horas de sono necessárias,
  • Antes do primeiro dia de aulas, visitar várias vezes a escola com a criança, de forma a que ela se familiarize novamente com a mesma, diminuindo a ansiedade no regresso às aulas.
  • Promover o envolvimento da criança na escolha do material escolar, como a mochila, estojo, cadernos, mas também em outras tarefas como forrar os livros, imprimir um calendário escolar para marcação de testes ou passar o horário escolar a computador para colocar na secretária, estimulando-a assim para o regresso às aulas. Folhear os livros novos com os filhos também poderá incrementar o interesse pelos temas que serão abordados ao longo do ano.
  • Arrumar e preparar o espaço de trabalho da e com a criança, equipando o mesmo com tudo o que ela precisa para trabalhar e estudar. Garantir que esse espaço não tem distrações (televisão, telemóveis e internet) e tem boa iluminação.
  • Para as crianças que apresentam maior resistência em retomar a rotina escolar, é importante focar os aspetos positivos do regresso às aulas, tais como rever professores e amigos, aprender coisas novas e regressar às atividades extra curriculares do seu agrado.
  • Fomentar a autonomia da criança, no que se refere à preparação da mochila e materiais escolares, de modo a promover a sua auto-estima e o retorno aos estudos.
  • Estabelecer uma rotina familiar e comunicá-la à criança, por forma a que ela saiba exatamente o que tem de fazer e o que é esperado dela nas diferentes alturas do dia  (o que deve fazer quando se levanta, como vai para  a escola, onde vai almoçar, o que deve  fazer quando chega a casa e antes de dormir.) Esta planificação e a previsibilidade são organizadoras para a criança, promovendo a sua funcionalidade e autonomia, ao mesmo tempo que diminuem o stress do dia-a-dia.
O regresso às aulas, ou mesmo a mudança de ciclo ou de escola, apesar de poderem trazer momentos de alguma apreensão, constituem-se como uma etapa marcante no crescimento da criança, que com o devido apoio e acompanhamento dos pais será com certeza vivida de maneira mais adaptada e satisfatória.

A ClaraMente deseja a todos um excelente Ano Letivo!