Há algumas semanas atrás, escrevi acerca do conceito de Quietude, da necessidade de pararmos, de nos permitirmos a estar connosco próprios, de arriscarmos não fazer nada. Ao silenciarmos os estímulos externos, permitimo-nos ouvir-nos a nós mesmos, a escutarmo-nos em toda a nossa plenitude.
No mundo ocidental, passamos muito tempo a ouvir aquilo que as pessoas dizem e prestamos muito menos atenção àquilo que não dizem. O silêncio é uma espécie de resíduo do medo e, em parte por isso, é-nos estranho, desconfortável, desconhecido, levando-nos a evitá-lo, a procurar ocupá-lo, preenchê-lo. Assusta-nos o silêncio porque é o som de quando algo acontece que faz com que o ar fuja do nosso peito por não se sentir seguro nos nossos pulmões, e também nos assusta por nos deixar a sós com o momento presente, mais próximos do que é genuíno (em nós e nos outros).
Tenho o privilégio de ter uma profissão que me possibilita um enorme crescimento enquanto pessoa, e que ao mesmo tempo é enriquecida pelas minhas experiências e vivências pessoais.
Os desertos são regiões geográficas, mas podem também ser as mais tranquilas, profundas, melhores partes de nós. No deserto, conheci um menino, Ishmael, com aproximadamente 10-12 anos. Ele aproximou-se, olhou, sorriu, e deixou-se ficar... tentei falar com ele mas percebi que não compreendia nenhuma das línguas que falo, e falava um dialecto que não compreendo. Tentei comunicar de outras formas... apresentei-me, ele percebeu e apresentou-se também. Deixou-se ficar. Ofereci-lhe coisas, ele aceitou e expressou (não sei bem como) gratidão, e deixou-se ficar. Tentei outras coisas, ele sorriu, e continuou lá... deixando-se ficar.Percebi que eu tentava preencher aquele silêncio, como se ele fosse vazio, como se esse silêncio fosse ausência de comunicação. O Ishmael mostrou-me que não precisamos de palavras para comunicar, que muitas vezes o silêncio nos dá tanto, nos permite uma intimidade tão grande, impossível de alcançar quando a corrompemos com palavras. Mostrou-me a mim, psicóloga, habituada a lidar com silêncios em terapia, que muitas vezes a melhor forma de conhecermos o outro é deixando-nos ficar... permitir que os outros sentidos para além da audição possam, efectivamente, sentir também, dar-nos e expressar informação.
Ishamel significa "Deus escutou". Este menino ensinou-me a escutar melhor... ao outro, e a mim mesma. Se não tivermos a pressão de estar sempre a dizer alguma coisa, de preencher os "vazios" nas conversas, estamos mais em contacto com o outro, com o que nos rodeia, e compreendemos também o quanto as nossas palavras moldam as nossas experiências. O silêncio pode mudar a forma como comunicamos, e, talvez principalmente, a forma como escutamos. O silêncio, e os pequenos silêncios entre conteúdo, podem ser tão interessantes quanto o conteúdo em si mesmo.
No mundo ocidental, passamos muito tempo a ouvir aquilo que as pessoas dizem e prestamos muito menos atenção àquilo que não dizem. O silêncio é uma espécie de resíduo do medo e, em parte por isso, é-nos estranho, desconfortável, desconhecido, levando-nos a evitá-lo, a procurar ocupá-lo, preenchê-lo. Assusta-nos o silêncio porque é o som de quando algo acontece que faz com que o ar fuja do nosso peito por não se sentir seguro nos nossos pulmões, e também nos assusta por nos deixar a sós com o momento presente, mais próximos do que é genuíno (em nós e nos outros).
Tenho o privilégio de ter uma profissão que me possibilita um enorme crescimento enquanto pessoa, e que ao mesmo tempo é enriquecida pelas minhas experiências e vivências pessoais.
Os desertos são regiões geográficas, mas podem também ser as mais tranquilas, profundas, melhores partes de nós. No deserto, conheci um menino, Ishmael, com aproximadamente 10-12 anos. Ele aproximou-se, olhou, sorriu, e deixou-se ficar... tentei falar com ele mas percebi que não compreendia nenhuma das línguas que falo, e falava um dialecto que não compreendo. Tentei comunicar de outras formas... apresentei-me, ele percebeu e apresentou-se também. Deixou-se ficar. Ofereci-lhe coisas, ele aceitou e expressou (não sei bem como) gratidão, e deixou-se ficar. Tentei outras coisas, ele sorriu, e continuou lá... deixando-se ficar.Percebi que eu tentava preencher aquele silêncio, como se ele fosse vazio, como se esse silêncio fosse ausência de comunicação. O Ishmael mostrou-me que não precisamos de palavras para comunicar, que muitas vezes o silêncio nos dá tanto, nos permite uma intimidade tão grande, impossível de alcançar quando a corrompemos com palavras. Mostrou-me a mim, psicóloga, habituada a lidar com silêncios em terapia, que muitas vezes a melhor forma de conhecermos o outro é deixando-nos ficar... permitir que os outros sentidos para além da audição possam, efectivamente, sentir também, dar-nos e expressar informação.
Ishamel significa "Deus escutou". Este menino ensinou-me a escutar melhor... ao outro, e a mim mesma. Se não tivermos a pressão de estar sempre a dizer alguma coisa, de preencher os "vazios" nas conversas, estamos mais em contacto com o outro, com o que nos rodeia, e compreendemos também o quanto as nossas palavras moldam as nossas experiências. O silêncio pode mudar a forma como comunicamos, e, talvez principalmente, a forma como escutamos. O silêncio, e os pequenos silêncios entre conteúdo, podem ser tão interessantes quanto o conteúdo em si mesmo.
"O silêncio não é o vazio, é a plenitude", Clarice Lispector.
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.