terça-feira, 25 de abril de 2017

A Autocensura na Privação da Liberdade Individual



Esta é por excelência a semana para refletirmos no conceito “Liberdade”.
Fez ontem precisamente 43 anos que caía o regime ditatorial em Portugal para dar lugar à democracia, passando os portugueses a usufruir de liberdade de expressão.
Contudo, os mecanismos de autocensura aos quais muitos de nós estamos sujeitos conseguem exercer uma fiscalização e uma punição ainda mais rigorosas que qualquer instituição externa de ordem social ou religiosa, não nos permitindo o usufruto em pleno da nossa liberdade individual. Quando assim é, impera a renúncia das próprias vontades, desejos e opiniões por medo da rejeição e do julgamento.
O indivíduo interioriza que só é aceite e amado enquanto for um prolongamento do desejo do outro e corresponder às suas expetativas. Embora esta possa ter sido uma vivência  experienciada precocemente na infância e indutora de sentimentos de zanga e revolta, a criança, frequentemente para proteger as figuras amadas da sua zanga, acaba  por dirigi-la contra si mesma, dando lugar à auto-recriminação.
A culpa decorrente destes impulsos agressivos em relação às figuras amadas, motiva a necessidade de punição, sendo responsável por perpetuar o impulso inconsciente para o sofrimento pela forma de auto-recriminações e auto-punições que se traduzem frequente em quadros de depressão, ansiedade ou somatização.
A psicoterapia pretende libertar o indivíduo destas amarras interiores, pelo reconhecimento e pela vivência dos sentimentos reprimidos no aqui-e-agora, possibilitando a elaboração dos conflitos não resolvidos do passado e que estão muitas vezes na origem da repetição de padrões relacionais disfuncionais.
Clinicamente, a compulsão à repetição é entendida como um processo inconsciente pelo qual o indivíduo tende a repetir situações aflitivas e padrões relacionais disfuncionais, com a finalidade de dominar a experiência traumática. Nas palavras de Freud: “O que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até encontrar resolução e libertação”.
Para cessar essa necessidade de repetir o trauma importa a consciencialização e a expressão dos sentimentos reprimidos, relacionados com o sofrimento vivenciado.
Neste semana em que comemoramos a conquista da liberdade, não  esqueçamos o papel da psicoterapia no desenvolvimento da liberdade emocional do indivíduo, capacitando-o para vencer as forças opressoras que o impedem de se conhecer verdadeiramente, de se aceitar e de ser feliz. Só a verdade liberta e abre a possibilidade para uma vida plena e criativa.


quarta-feira, 19 de abril de 2017

Quando os comentários de quem gosta de nós nos magoam...

Quase de certeza que a maioria das pessoas já passou por esta situação, ou conheceu alguém que tenha passado.

- “Então mas não achas que te estás a envolver demasiado cedo com alguém? Devias fazer mais tempo o luto da relação!”

- “Mas não estás a amamentar com leite materno? Não sabes dos benefícios? Tens mesmo que tentar, não podes desistir!”

- “Mas vais ver que as coisas passam... ele pode andar assim um pouco violento e agressivo, mas vocês já estão casados há tanto tempo, ele deve andar aborrecido com o trabalho, vais ver que isso passa e não te vai bater mais”

- “Mas ela mentiu-te? Eu jamais perdoaria! Nem queria perceber as razões...”

- “Dizias tanto que o amavas e dois dias depois já estás na farra!”

- “Não podes passar o fim-de-semana inteiro fechado em casa, tens que sair e conhecer pessoas”

Muitas vezes os comentários e as opiniões que as pessoas que estão ao nosso redor nos dão, podem não ajudar, por vezes até podem fazer exactamente o contrário: confundem-nos, colocam-nos em baixo, pressionam e/ou culpabilizam-nos. Com certeza que a ajuda bem-intencionada, e bem direccionada é um apoio; mas quando é mal direcionada pode-se transformar em algo muito frio, duro e destruidor da autoestima. Alguns comentários são profundamente injustos. As pessoas esquecem que não têm o direito de julgar como nos sentimos.

As pessoas podem fazer comentários com o intuito de mostrar que se preocupam, e que por isso dizem o que acham que nos “poupará” de algum sofrimento, mas não nos podemos esquecer que o nosso mundo emocional é muito sensível às nossas condições específicas. Assim, nem nós nem os outros têm o direito de julgar a forma como as pessoas se sentem.

E que tal pensarmos que as emoções não nos tornam melhores nem piores, e que a forma como agimos, muitas vezes, pode não estar tão coerente assim com a forma como nos sentimos? Como é aceitarmos que cada momento nos pode despertar uma determinada emoção e que podemos fazer algo diferente do que a maioria das pessoas esperaria? Como é valorizarmos a pessoa que partilha a sua opinião e comentário, ao mesmo tempo que valorizo a minha decisão?

Como é aceitarmos que as pessoas que gostam de nós gostariam de nos orientar à sua forma? E como é manifestarmos esse agradecimento ao mesmo que tempo que explicamos que temos uma outra maneira de ver a situação? E que na verdade essa situação é nossa, faz parte das nossas experiências, e mesmo que seja para falhar... Talvez seja porque necessitamos de cometer esse erro para podermos aprender?



Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Vamos falar sobre a Depressão? .... celebrando o Dia Mundial da Saúde



É já nesta 6ª feira, dia 7 de Abril, que se assinala o Dia Mundial da Saúde, este ano subordinado ao tema da Depressão. Com o lema “Let´s Talk “ (“Vamos falar” em Português), a campanha desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde, visa ajudar a prevenir e a tratar a depressão.
A campanha pretende chamar as pessoas para o diálogo e proporcionar espaços de escuta, partilha e debate, que promovam o aumento da informação por parte do público em geral sobre a depressão, suas causas e as suas possíveis consequências (incluindo  o suicídio) e sobre a ajuda que está disponível para a prevenção e tratamento da doença. Esta conversa aberta constitui-se como o primeiro passo para se compreender melhor a depressão e reduzir o estigma a ela associado, o que poderá contribuir para que cada vez mais pessoas procurem ajuda .
O principal objetivo desta campanha iniciada no dia 10 de Outubro de 2016 (Dia Mundial da Saúde Mental), é que um número crescente de pessoas com depressão, em todos os países, peçam ajuda e que a família, amigos e colegas de pessoas com depressão possam apoiá-los.
Atualmente a depressão está em ascensão e atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo e em todas as faixas etárias. É a principal causa de incapacidade, podendo provocar na pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar, nomeadamente para realizar as mais simples tarefas diárias. 
Os sintomas mais comuns desta doença caracterizam-se pela tristeza persistente e perda de interesse em atividades que normalmente eram prazerosas, bem como a incapacidade de realizar atividades diárias durante pelo menos duas semanas. Poderá verificar-se também perda de energia, alterações de apetite, sono e libido, bem como ansiedade, irritabilidade, diminuição da concentração,  sentimentos de inutilidade, culpa ou desesperança e pensamentos de auto-agressão ou suicídio.
A depressão resulta de uma complexa interação de circunstâncias de vida e de fatores sociais, psicológicos e biológicos, havendo ainda uma estreita relação com a saúde física.
            Verifica-se uma prevalência da depressão nas mulheres e no pior dos casos, pode levar ao suicídio, que atualmente é a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos.
Embora existam tratamentos eficazes conhecidos para depressão, menos da metade dos afetados no mundo (em muitos países, menos de 10%) recebe tais tratamentos por falta de recursos ou pelo estigma social, havendo ainda a barreira da avaliação imprecisa.   
Relativamente à prevenção da depressão, destacam-se os programas escolares e educativos que promovem um modelo de pensamento positivo entre crianças e adolescentes e os programas de exercício para pessoas idosas que também podem ser eficazes para prevenir a depressão.
Entre os diferentes tratamentos psicológicos a serem considerados estão os individuais ou em grupo, havendo ainda o recurso a terapêutica medicamentosa nos casos de depressão moderada-grave que poderá revelar-se eficaz.