O lugar da
incerteza e do não saber representa para muitos, um lugar de desconforto,
ignorância e insegurança, no qual sentimos que o controlo do que está por vir nos
escapa e que nos arriscamos a sentir ansiosos, perdidos e magoados, num mundo
onde todos aparentemente têm tantas certezas.
É esta
vulnerabilidade que pauta as relações onde nos expomos emocionalmente e em que
ficamos dispostos a correr riscos, sem garantias de nada. Se por um lado esta
exposição pode inicialmente ser desencadeadora de medo e insegurança, por outro
lado é o lugar onde podemos ser realmente vistos, autênticos e conectar
verdadeiramente com o outro, abrindo-se a possibilidade para o nascimento da
alegria, amor, pertença e esperança.
Só podemos
conectar de forma verdadeira, amar e sermos amados, se estivermos na disposição
de deixar cair as nossas armaduras e ficarmos expostos, sendo quem realmente
somos e sem garantias e certezas do que está por vir.
A
intolerância ao não saber, se for demasiado intensa e invasiva, pode transformar-se
num medo que paralisa e impede a verdadeira aproximação pela antecipação de um
desfecho doloroso, ou traduzir-se numa necessidade de controlo sobre o outro de
modo a apaziguar as próprias ansiedades ligadas à incerteza.
Por outro
lado, pela dificuldade em lidar com os próprios sentimentos ambivalentes vividos
na relação, muitas pessoas ficam dispostas a fazerem quase qualquer coisa para escaparem
rapidamente a essa ansiedade ligada à ambivalência e à incerteza,
precipitando-se em comportamentos e respostas desconectadas das suas emoções que
visam escapar à cobrança interna de que deveriam saber e não sabem.
A capacidade
de permanecermos no lugar do não saber e do
imprevisível e de conseguirmos desfrutar das sensações que daí decorrem,
permite-nos entrar em contacto com a vivacidade das emoções, com o desejo, a
criatividade e a vitalidade, essenciais na relação contra a repetição e o
hábito.
Assumirmos a incerteza e o não
saber, não é sinal de fraqueza, desinteresse ou ignorância mas uma manifestação
de coragem e força a partir da qual podemos aceitar e acolher com serenidade
essa realidade interna sem tentativas de evitamento, fuga ou precipitação em
respostas imediatas e absolutas, abrindo-se então a possibilidade para conectar
com novas soluções e respostas.