As relações humanas são, inegavelmente,
o bem mais precioso que temos na nossa vida, já que nos construímos, do início ao
fim, na e pela relação.
No entanto, pelas mais
diversas circunstâncias, podemos estar menos disponíveis ou mais
distraídos no que respeita ao investimento que depositamos nos nossos
relacionamentos mais significativos.
A maneira como nos posicionamos na vida,
é de facto uma factor condicionante. Se nos encontramos enquadrados
numa lógica de vitimização, na qual impera o queixume e o pessimismo, torna-se
mais difícil reconhecer, valorizar e ser grato por todas as pessoas
presentes e disponíveis à nossa volta, familiares e amigos, bem como
pelas oportunidades que a vida nos oferece. A “problematização e a
centração em dramas pessoais” bloqueiam a capacidade para receber
e desfrutar do que de melhor a vida tem para nos oferecer, bem como diminuem a disponibilidade para prestar atenção aos outros e alimentar as trocas
relacionais com eles.
Por outro lado, a crença que certas
pessoas são garantidas e estarão sempre presentes para nos receber e amparar
quando for preciso, também poderá promover, uma certa “distração” no cuidado e
na atenção para com elas. Neste caso, não se trata propriamente de
desvalorização, até porque são pessoas afetivamente significativas, mas isso nem
sempre se traduz na priorização que damos quando toca a dedicar-lhes mais do
nosso tempo, atenção e afeto. Quando as circunstâncias da vida
determinam a perda destas pessoas ou uma diminuição da sua presença ou
disponibilidade, é provável haver uma tomada de consciência maior e
a emergência de algum pesar e arrependimento por não ter havido um
maior investimento para com elas.
Contudo, há situações, e aqui podemos
falar mais especificamente em relações amorosas, em que, efetivamente,
existe uma clara desvalorização do outro traduzida em críticas frequentes. Esta
atitude poderá visar a fragilização da auto-estima do parceiro e
o aumento da sua insegurança de modo a mante-lo na relação debaixo
daquele ascendente e impedir a perda. No entanto, quando a separação realmente acontece,
porque o outro chega ao seu limite e decide seguir outro caminho, a dor do
abandono e do vazio acaba inevitavelmente por chegar e se instalar. E é aqui,
com a partida do parceiro e com a vivência da perda e do vazio, que aquele
passa a ser valorizado, podendo haver uma mobilização para reverter a situação
e fazê-lo regressar.
Se a perda do parceiro estiver ligada à
existência de uma terceira pessoa, também poderá haver um aumento do
interesse e do entusiasmo que já antes teria esmorecido. Esta aparente
valorização do parceiro que partiu para os braços de outra pessoa, poderá
estar relacionada sobretudo com um sentimento de despeito. É como se
a perda daquela pessoa representasse o deixar de possui-la, emergindo novamente
o desejo de posse e do alívio da dor da rejeição e da preterição.
Se nos construímos na e pela relação,
tentemos não nos distrair em demasia do que mais precioso possuímos: as
pessoas que habitam na nossa vida. Preservar e alimentar os nossos
relacionamentos com as pessoas que nos são significativas, é de
suma importância, bem como saber valorizá-las e acarinhá-las. Nada nem
ninguém pode ser dado como garantido e todo o vínculo necessita de ser
alimentado para se conservar.
Como nas palavras de Antoine De Saint-
Exupéry, em o Principezinho: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo
que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...Tu és responsável pela tua
flor....”
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