Provavelmente já
ouviu alguém comentar “Quanto melhor conheço algumas pessoas, mais gosto do meu
cão!”. Apesar do humor, muitas vezes
este comentário acaba por pretender destacar algo muito valioso para muitos de
nós: a profunda lealdade dos cães. “Melhor amigo do Homem”, “fiel companheiro”, são
também expressões comuns que enaltecem o impacto emocional que os cães podem
ter nas vidas dos seus cuidadores. Mais do que “animais de companhia”, vão-se
revelando verdadeiros “animais de estimação”... porque estimam e merecem ser
estimados.
Existem inúmeros
estudos que descrevem as vantagens que os animais de estimação trazem aos
humanos com quem convivem: os níveis de solidão, depressão e ansiedade são,
tendencialmente, mais baixos, e, consequentemente, os registos de idas ao
médico e consumo de medicação são também menores. Os cães são ainda facilitadores
sociais e de integração dos seus cuidadores, promovendo, nas crianças, um
melhor desenvolvimento de competências relacionais e de comunicação.
Para além da
companhia, segurança, motivação, da gratidão e amor incondicionais que nos
trazem, temos muito a aprender com os cães... especialmente se, logo de início,
aprendermos com a sua curiosidade e inocência e nos abrirmos às experiências, à
descoberta.
Os cães não ficam
a ruminar no passado, nem se detêm em preocupações relativamente ao futuro...
Sentem medo, mas não ficam agarrados a ele quando a situação ameaçadora passa.
Aproveitam cada sensação que o momento presente lhes dá: cada brincadeira,
caminhada ou refeição são desfrutadas como se fossem a primeira, ou a última,
das suas vidas, focando-se no aqui e agora. Não há lugar a auto-culpabilizações
como “estou a desperdiçar a minha vida, aqui deitado ao sol o dia todo”.
Aceitam! Também não queirem saber se somos altos ou baixos, de esquerda, de
direita, ou se nem sequer nos preocupamos com política. Aceitam! Aceitam-nos
tal como somos, aceitam genuinamente quem
somos, têm um carinho e admiração incondicionais apesar dos muitos erros
que possamos ter cometido. Ensinam-nos sobre o perdão. E, se estivermos
disponíveis para humildemente ver através dos seus olhos, poderemos
experimentar olhar-nos numa versão mais aceitante de nós mesmos, despida
parcialmente dos nossos defeitos e mais próxima da nossa essência. Para eles,
somos únicos e insubstituíveis.
São, geralmente,
“atrevidos”, desafiam-nos, testam e ajudam-nos a conhecer os nossos próprios
limites. Não precisamos de palavras para comunicarmos com eles (o seu entendimento
lexical é muito reduzido), e isso põe-nos mais em contacto com o nosso corpo,
com o nosso não verbal, com uma comunicação baseada no carinho, cuidado e amor.
E são peritos especialistas em identificar padrões gestuais básicos para os
associar a uma determinada emoção. A nós parece-nos tão difícil fazê-lo, não
é?!
Recordam-nos diariamente que precisamos de muito pouco: raízes, um lar, e outros seres que nos ofereçam defesa e afecto mútuo. E quando estão
connosco, é connosco que estão, e experienciam uma alegria quase exuberante
(como se não fosse a nossa companhia já uma rotina), e um optimismo contagiante
que parece gritar “a partir daqui vai ser sempre a melhorar”.
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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