Quantas vezes
ouvimos que vai ser depois da faculdade? Ou depois do divórcio, ou do filho ter
crescido? Quantas vezes ouvimos que vai ser depois de mudar de emprego ou de
casa? E quantas vezes a felicidade vai sendo adiada, porque “depois é que vai
ser?” Mas... depois, vai ser mesmo o quê?
Por vezes o
nosso grande desejo de atingirmos a dita felicidade, faz-nos quase aguardar por
ela como se depois, no momento em que ela chegasse, tudo ficasse para sempre
bem. Mas se por um lado, a espera desse futuro poderá não nos permitir
viver o presente da melhor forma, por outro, é quase como se essa felicidade ao
chegar fosse para ficar. E ficará?
A vida pode ser
muita coisa, mas estática ela não é. Estamos numa mudança contínua e constante,
não aceitar isso, poderá provocar angústias, decepções e desilusões
repetidamente, para além de nos poder fazer criar padrões comportamentais não
adaptativos, ao tentarmos forçar essa estaticidade. Aceitar esta realidade, permite-nos
viver o aqui e agora com mais tranquilidade, e desfrutar do que vivemos no
nosso dia-a-dia.
A mudança gera
incerteza, não podemos saber exactamente o que vem a seguir e isso naturalmente
causa-nos receio. Contudo, é essencial que esse receio não seja bloqueador. Por
mais que queiramos controlar o que nos rodeia, prever todas as consequências de
uma e outra decisão, não valerá de muito, visto irem existir com certeza muitas
situações que vão acontecer de forma imprevisível, sem que tenhamos capacidade para
as prever e / ou alterar. E, por isso, é importante aprender a aceitar que tudo
o que nos vai acontecendo faz parte da nossa história e da nossa vida, e que
viver o dia-a-dia com o que a vida nos dá, ao mesmo tempo que vamos fechando capítulos
ou histórias que vão terminando, permite-nos estar livres para receber o que
chega até nós.
Viver é estarmos
em mudança e renovação. Somos o resultado de todas as vivências, reflexões,
partilhas, sensações, tudo o que fomos vivendo até ao presente. Mas como em
cada momento vamos integrando novas informações de tudo que nos rodeia, esse
resultado está sempre a modificar-se, nessa evolução da nossa pessoa, nesse
processo contínuo e constante.
Quando vivemos
de forma mais aceitante com o que a vida nos traz, também podemos conseguir
aceder ao meu “Eu” mais genuíno, e perceber o que nos faz mais felizes no
momento. E isso pode ser o avançar, mas também pode ser o querer amadurecer
ideias para avançar mais tarde. Ou seja, não é a minha decisão de avançar ou
não, que é o mais relevante; mas sim o que me leva a isso. E assim, ao estarmos
conscientes do que nos leva a avançar ou a ficar, vivemos com satisfação por
estarmos a fazer, no momento, o que realmente nos faz sentido. Fará realmente sentido
aguardarmos pela tal dita felicidade que chegará daqui a algum tempo? Não poderá
fazer mais sentido procurá-la também no agora?
Ao longo da vida
vamos passando por momentos muito bons, mas porque nada dura para sempre, vamos
também, perdendo coisas boas e pessoas importantes, e aí, nesses momentos de
perda, naturalmente sentimo-nos tristes, zangados, perdidos... Mas, como nada
dura para sempre, nem as coisas boas, nem as más, outras coisas boas virão de
seguida, e novos caminhos irão aparecendo. E de forma cíclica, esses altos e
baixos vão surgindo e vão acontecendo. A isto se chama Viver.
“Lei é da Natureza
Mudar-se desta sorte o tempo
leve:
Suceder à beleza
Da Primavera, o fruto; à calma, a
neve;
E tornar outra vez, por certo
fio,
Outono, Inverno, Primavera,
Estio”. – Luís Vaz de Camões, em Ode.
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
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