Em todas as relações que vamos
criando existem momentos de desentendimento, de conflito, de discussões, porque
não vivemos nem expressamos o que sentimos da mesma maneira. É comum queixarmo-nos
das dificuldades nas relações quando não nos sentimos compreendidos, aceites e
por isso sentimo-nos decepcionados. Embora seja mais fácil, responsabilizarmos
o outro como sendo o único a falhar, é mais eficaz descobrir quais os
comportamentos que cada um de nós tem para que a relação tenha evoluído de uma
forma insatisfatória.
Um aspecto fundamental a considerar
nas dificuldades de relacionamento são as expectativas criadas no outro. Quando
estamos numa relação, podemos criar imagens falsas das outras pessoas, podemos
gostar de uma pessoa não pelo que a pessoa é, mas sim pelo que gostaríamos que
essa pessoa fosse. E podemo-nos agarrar tanto a essa ideia, que durante algum
tempo acreditamos que a pessoa se vai tornar no que gostaríamos, ou conseguimos
ver a pessoa que gostaríamos naquela pessoa (normalmente até um certo momento).
Quando isso acontece, é como que se tivéssemos
uma ideia clara sobre o que é suposto a pessoa fazer, dizer, agir e assim,
criamos expectativas demasiado elevadas ou irreais, que facilmente levam a uma
desvalorização do investimento que o outro faz, como também conduz a estados de
frustração recorrentes.
Quanto mais conscientes estivermos
sobre as nossas necessidades na relação, melhor conseguimos compreender as
nossas atitudes e comportamentos, como também torna mais fácil partilhar de
forma clara essas necessidades com a outra pessoa da relação. Porque numa
relação saudável é essencial haver espaço que permita que ambas as pessoas sejam
quem são de verdade, e sejam gostadas pelo que são.
Uma pessoa que procura alguém com
determinadas características muito concretas, é como que se estivesse à procura
de uma peça que encaixe no seu puzzle, mas não encontrará jamais a peça
perfeita, simplesmente porque não existe! Cada um de nós é o conjunto de determinadas
características que podem encaixar mais ou menos (ou nada) no conjunto de
características das outras pessoas, facilitando ou dificultando a convivência.
Mas esse encaixe por mais que pareça perfeito, nunca será sempre perfeito, vão
surgir momentos em que se apercebe que existem diferenças que criam
desentendimentos. E é aqui que o aceitar a outra pessoa pelo que é, é
essencial. É preciso partilhar o que se sente, entender e querer entender,
escutar e apoiar, ainda que não se esteja totalmente de acordo.
Mas então o que me pode levar a
querer uma pessoa que encaixe em mim, desvalorizando as coisas boas que pode
ter? Quais são as minhas necessidades em relação? O que procuro nas outras
pessoas? Como me iria sentir ao sentir que uma pessoa estava comigo por
acreditar que eu mudaria? Como posso aceitar as minhas necessidades e a dos
outros na relação? Como posso aceitar que uma pessoa com quem estou possa ter
coisas maravilhosas e coisas terríveis?
Muitas destas questões podem ser
colocadas a nós próprios e a tentativa de encontrar respostas pode-nos ajudar a
compreendermo-nos.
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
Sem comentários:
Enviar um comentário