quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Do sentir e não querer à supressão emocional

As emoções fazem parte do nosso dia-a-dia, durante toda a nossa vida, e podem ser, desde muito agradáveis a muito dolorosas. Para nos ajudar a lidar e a gerir essas emoções, utilizamos determinadas estratégias de regulação emocional, que vão sendo desenvolvidas ao longo da nossa vida. Quanto maior for o leque de possibilidades (de estratégias), mais facilmente conseguimos optar pela que se adequa mais a cada momento. E esse leque está mais aberto, quanto maior as nossas competências emocionais, que são o que descrevem a capacidade que cada um de nós tem em expressar as suas emoções, e deriva da inteligência emocional - capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos. (Ver artigo sobre inteligência emocional).

A falta de competência emocional pode conduzir ao evitamento ou afastamento de pensamentos que criam uma activação emocional que nos transmitem mal-estar: supressão das emoções. Alguns dos sinais mais habituais de supressão emocional são: disfarçar ou evitar as emoções, evitar situações, lugares ou pessoas que criam uma emoção difícil de ser gerida, fingir que está tudo bem. Contudo, ao suprimir as emoções, podem-se estar a criar alguns outros problemas que levam a uma deterioração da saúde física e mental tais como stress, pressão alta, risco de diabetes, ansiedade, depressão, problemas de memória e as relações interpessoais facilmente podem ser afectadas. Por outro lado, diversos estudos demonstram que, quanto maior for o leque de estratégias e a diferenciação emocional, menor é a utilização da supressão emocional.

Um bom exemplo é a chamada “cara de poker”, em que por um lado estamos satisfeitos por nos ter saído um bom jogo mas inibimos a expressão emocional para os adversários não se aperceberem. Contudo, ao inibirmos a expressão emocional, não conseguimos evitar que a emoção seja experienciada, assim a emoção que é sentida como negativa ou desagradável, mantém-se por resolver. Determinados estudos demonstram que supressão emocional está relacionada com a perda de autenticidade, que acaba por “fingir”, o que exige mais da própria pessoa criando um maior desgaste. Este exemplo de “cara de poker” ou o exemplo de estar numa conferência e inibir a minha expressão emocional associada ao receio da minha prestação, são situações em que efectivamente o resultado é positivo (conseguir enganar os meus adversários no jogo de poker e não me mostrar muito ansioso perante a plateia). Contudo, é essencial a consciência de que em outros momentos, este “fingimento” pode estar a dificultar-nos a aprendizagem de uma gestão emocional mais adaptativa.

Para conseguirmos regular as nossas emoções e desenvolver as competências emocionais é importante aceitarmos que as emoções desagradáveis fazem parte da vida e que são tão válidas como as agradáveis e, que não vamos conseguir não sentir as sensações desconfortáveis, incómodas e dolorosas no nosso corpo. Em vez de lutarmos contra as emoções desagradáveis, fingir que não as sentimos ou escondê-las com máscaras, é essencial que as consigamos aceitar, o que está longe de significar que nos resignamos. Mas aceitar que as emoções estão lá, permite-nos procurar em nós diferentes formas para as gerir e só assim crescemos emocionalmente.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

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