Terminar uma
relação significativa é algo quase sempre difícil, independentemente de sermos
nós ou a outra pessoa a terminá-la.
A decisão acerca
de permanecer ou terminar uma relação parece ser cada vez mais solitária – numa
época em que as religiões já não aterrorizam as pessoas para que se mantenham
em relações que foram abençoadas, em que a sociedade parece preocupar-se cada
vez menos com o fim dos relacionamentos, e em que a investigação sugere que, de
uma forma geral, as crianças crescem de forma mais saudável num lar desfeito do que num lar infeliz: para a
decisão de ficar ou terminar uma relação, pesam cada vez menos os factores
externos, deixando cada um de nós cada vez mais a sós com os internos. Assim,
um importante indicador para esta
escolha parece ser o modo como nos sentimos na e com a relação. Contudo, isso
parece muitas vezes dificultar ainda mais a decisão, ao toldar-nos a capacidade
para recorrermos à razão.
Ainda assim,
tomada a decisão, por vezes vamos adiando...apavoramo-nos com a ideia de ver o
outro triste, vamos encobrindo a nossa vontade. Queremos ser simpáticos, e, na
verdade, gostamos de ser gostados... mesmo por aqueles de quem já não gostamos.
Contudo, essa atitude só prolonga o nosso sofrimento, e o do outro. Assim, se
queremos realmente sair de uma relação, respeitando-nos a nós próprios e ao
outro, o que temos a fazer é: sair! E, generosamente, aceitarmos poder ser
odiados por alguém que até aqui gostava de nós.
Há também
momentos em que a decisão não passa sequer por nós, e, de uma forma mais ou
menos inesperada, deparamo-nos com o fim de uma realidade conhecida por nós até
então. O sentimento de rejeição, de termos deixado de ocupar o lugar especial que tínhamos na vida da
outra pessoa, pode ter um impacto muito variável em cada um de nós, mas parece
inevitável. Dizem-nos “Tens que ser forte! A vida continua...”. Só que a dor é
tão grande que a vida não parece continuar, tão egoísta que parece impedir-nos
de tentar prosseguir. E, na verdade, o fim de uma relação significativa,
superar uma rejeição, não é momento para actos de bravura: é essencial
permitirmo-nos estar tristes, receber e aceitar essa nossa tristeza, e
oferecer-lhe quanta música melancólica, refeições calóricas e serões de filmes
no sofá nos apetecer.
Quando a relação
acaba efectivamente, grande parte da dor que sentimos prende-se com a sensação
de perda... Mas, e se procurarmos olhar para a situação não como uma perda, mas como
uma transição? A verdade é que as relações (mesmo as que terminam) permanecem
connosco para sempre... na nossa memória, nas emoções que sentimos quando
pensamos nelas, nas pessoas nas quais, com elas, nos tornámos, nas
aprendizagens que nos proporcionaram.
O fim de um
relacionamento não significa que uma relação falhou... Se, com ela, conseguimos
crescer enquanto pessoas, fazer aprendizagens para as nossas vidas, então, na
verdade, foi bem sucedida.
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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