A incerteza do futuro é uma das
principais preocupações do ser humano, que muitos tentam driblar através da
construção mental de múltiplos cenários perante uma situação que desperta
dúvidas e inseguranças.
Procura-se assim, através do intelecto,
prever e anteceder todas as variáveis possíveis, como se tal garantisse o
controlo e o domínio da situação e de qualquer dano colateral que possa surgir.
Esta pré-ocupação excessiva e o medo em
relação ao futuro, acabam muitas vezes por ter um efeito paralisante,
inibindo o indivíduo para a acção e em última instância para a vida. A
privação que daqui decorre e que é impeditiva do acesso a experiências de
prazer, entusiasmo, ousadia e superação, podem levar a um bloqueio no
crescimento, ao entorpecimento mental e ao adoecer.
Para evitar que tal aconteça, importa
antes de mais o desenvolvimento de uma percepção realista da condição humana e
a consciência que a única coisa que podemos controlar é aquilo que depende
única e exclusivamente de nós e que passa pelos nossos comportamentos,
atitudes, posição perante a vida e empenho. Tudo isto pode ser entendido como o
nosso funcionamento interno, que no fundo é o que necessitamos de usar para nos
lançarmos à vida. A ideia que a podemos ensaiar e com isso prever
resultados à semelhança do que se faz num laboratório não passa de
mera utopia. Na verdade, grande parte das variáveis não estão no nosso
controlo, até mesmo a saúde de cada um é algo que pode sofrer alterações
sem disso haver qualquer tipo de domínio.
Assim sendo, a única coisa que depende
de nós e à qual importa dar atenção é ao nosso empenho mas sem a cobrança de
resultados, dado que estes também estão dependentes muitas vezes das próprias
circunstâncias, assim como da maneira de ser, pensar e agir de terceiros, que
não podemos controlar.
Tal não invalida que não possamos pensar
num plano alternativo caso um determinado projeto não seja bem sucedido, até
porque isso nos pode ajudar a descentrar da preocupação em relação aos
resultados. Contudo, isso não nos deve retirar a atenção do presente,
único tempo em que a vida se desenrola, tendo consciência que o erro e a
falha fazem parte da condição humana e nos
oferecem oportunidades únicas de aprendizagem e de superação pessoal.
O humor é também
um instrumento poderoso, rir de nós mesmos é uma forma de lidar
melhor com as nossas fragilidades. Negá-las ou escondê-las é uma maneira de
lhes conferir poder e de limitar a nossa liberdade.
Voltando à questão inicial, a
pré-ocupação com o futuro e a desocupação com o presente, podem conduzir a uma
situação de grande empobrecimento na medida em que nos impede de ir para a vida
por medo do mundo não corresponder exatamente ao que queremos ou que achamos
que ele tem de ser. Perdemos assim a oportunidade de receber aquilo que ele
teria para nos dar e de descobrimos ou redescobrimos talentos, capacidades e
recursos internos importantes.
Prevalecendo na expetativa, ficamos
dependentes que seja o outro ou o mundo a trazer-nos a realização que desejamos,
quando na verdade, a nossa felicidade não vem de fora.
O nosso bem estar vem do nosso
funcionamento interno e da forma como encaramos e nos relacionamos
com aquilo que acontece. Como tal, é o uso do nosso funcionamento, daquilo que
somos, que nos capacita para
viver a vida em direto, sem ensaios nem repetição de cenas, no aqui e no agora.
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