segunda-feira, 11 de julho de 2016

Como pré(-)ocupar-se menos com o futuro e ocupar-se mais com o presente



A incerteza do futuro é uma das principais preocupações do ser humano, que muitos tentam driblar através da construção mental de múltiplos cenários perante uma situação que desperta dúvidas e inseguranças.
Procura-se assim, através do intelecto, prever e anteceder todas as variáveis possíveis, como se tal garantisse o controlo e o domínio da situação e de qualquer dano colateral que possa surgir.
Esta pré-ocupação excessiva e o medo em relação ao futuro, acabam muitas vezes por ter um efeito paralisante, inibindo o indivíduo para a acção e em última instância para a vida. A privação que daqui decorre e que é impeditiva do acesso a experiências de prazer, entusiasmo, ousadia e superação, podem levar a um bloqueio no crescimento, ao entorpecimento mental e ao adoecer.
Para evitar que tal aconteça, importa antes de mais o desenvolvimento de uma percepção realista da condição humana e a consciência que a única coisa que podemos controlar é aquilo que depende única e exclusivamente de nós e que passa pelos nossos comportamentos, atitudes, posição perante a vida e empenho. Tudo isto pode ser entendido como o nosso funcionamento interno, que no fundo é o que necessitamos de usar para nos lançarmos à vida.  A ideia que a podemos ensaiar e com isso prever resultados à semelhança do que se faz num laboratório não passa de mera utopia. Na verdade, grande parte das variáveis não estão no nosso controlo, até mesmo a saúde de cada um é algo que pode sofrer alterações sem disso haver qualquer tipo de domínio.
Assim sendo, a única coisa que depende de nós e à qual importa dar atenção é ao nosso empenho mas sem a cobrança de resultados, dado que estes também estão dependentes muitas vezes das próprias circunstâncias, assim como da maneira de ser, pensar e agir de terceiros, que não podemos controlar.
Tal não invalida que não possamos pensar num plano alternativo caso um determinado projeto não seja bem sucedido, até porque isso nos pode ajudar a descentrar da preocupação em relação aos resultados. Contudo, isso não nos deve retirar a atenção do presente, único tempo em que a vida se desenrola, tendo consciência que o erro e a falha fazem parte da condição humana e nos oferecem oportunidades únicas de aprendizagem e de superação pessoal.
O humor é também um instrumento poderoso, rir de nós mesmos é uma forma de lidar melhor com as nossas fragilidades. Negá-las ou escondê-las é uma maneira de lhes conferir poder e de limitar a nossa liberdade.
Voltando à questão inicial, a pré-ocupação com o futuro e a desocupação com o presente, podem conduzir a uma situação de grande empobrecimento na medida em que nos impede de ir para a vida por medo do mundo não corresponder exatamente ao que queremos ou que achamos que ele tem de ser. Perdemos assim a oportunidade de receber aquilo que ele teria para nos dar e de descobrimos ou redescobrimos talentos, capacidades e recursos internos importantes.
Prevalecendo na expetativa, ficamos dependentes que seja o outro ou o mundo a trazer-nos a realização que desejamos, quando na verdade, a nossa felicidade não vem de fora.

 O nosso bem estar vem do nosso funcionamento interno  e da forma como encaramos e nos relacionamos com aquilo que acontece. Como tal, é o uso do nosso funcionamento, daquilo que somos,  que nos  capacita para viver a vida em direto, sem ensaios nem repetição de cenas, no aqui e no agora.

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