sexta-feira, 22 de julho de 2016

Da amizade...

Cada um que passa na nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única, e nenhuma substitui outra. Cada um que passa na nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós: leva um pouco de nós mesmos e deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada; há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada.
(Desconhecido)
Esta citação foi sendo atribuída a Antoine de Saint-Exupéry, a Charlie Chaplin e a Khalil Gibran (menos reconhecido, foi um poeta, filósofo, ensaísta, entre outras artes, libanês)... Talvez algumas pessoas a tenham considerado tão valiosa, que não acharam que pudesse ser atribuída a um “anónimo”, a uma pessoa comum, desconhecida. Quem a lê talvez fique com vontade de a dar a conhecer a outros e, sabemos pelo Marketing, que nada melhor do que acrescentar-lhe um nome sonante para que se torne inesquecível. Não a acho particularmente bonita, não me importo se estará metricamente bem construída, mas a verdade que abraça parece-me digna de contemplar, compreender, aceitar.
Ao longo da nossa existência, as nossas vidas vão-se cruzando com as vidas de muitas outras pessoas. E, ao que parece, a verdade é que todas essas vidas levam, pelo menos, um pedacinho daquelas com as quais se cruzam.
Dia 20 foi o dia internacional da Amizade, dia em que se celebra aqueles que nos deixam mais do que um pequeno pedaço dos seus Eus, aqueles que, presentemente ou em qualquer momento das suas vidas, partilharam connosco aquilo que são, e a quem presenteámos com aquilo que somos. Mais, ou menos, mas raramente com nada.
As primeiras amizades parecem surgir da descoberta de que gostamos de fazer as mesmas coisas que outras pessoas também gostam. Com o passar do tempo, estas semelhanças podem continuar a garantir a convivência, mas raramente são suficientes para manter uma Amizade. 
E é aqui que, muitas vezes, procuramos mostrar os nossos pontos fortes, as pessoas extraordinárias que conseguimos ser, os feitos incríveis que alcançámos, a viagem magnífica que fizemos ou desejamos fazer... Contudo, muita investigação e a experiência vão-nos mostrando que é a partilha dos nossos momentos embaraçosos, das nossas tristezas, da melancolia ou ansiedade que tantas vezes sentimos, que nos vão ligando aos outros, que, principalmente, vão ligando os outros a nós, que transformam um conhecido num Amigo. Ao fazermos isto, colocamo-nos numa situação de vulnerabilidade face ao outro, arriscamos situações que nos possam fazer sentir humilhados. Ao partilharmos com o outro algumas das estranhas verdades que fazem parte das nossas vidas, aquelas que nos fazem tantas vezes sentir sozinhos, é como se lhe confiássemos  parte da nossa dignidade e da nossa auto-estima. Há pouca coisa que possa ser mais valiosa do que isso... E, apesar de haver momentos em que queremos  acreditar que gostamos dos nossos amigos pelo que eles são, não há grande dúvida de que é essencial e determinante a forma como eles apoiam quem nós somos. 
Para finalizar volto à citação inicial, à ideia de que as pessoas passam pelas nossas vidas, e que tantas vezes nos é difícil aceitar que, na amizade, por vezes estamos perto, outras vezes longe, e que outras voltamos a aproximar-nos e até a fortalecer os laços...ou não. E é aí que importa lembrar que "há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada".

Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia,

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