Há algum tempo, escrevi sobre Procrastinação: a “arte” de
adiar tarefas que precisamos cumprir, e que implica um mal-estar ou mesmo culpa
relativamente ao que se adiou. Para além da culpa, e das consequências adversas
por não se realizar a tarefa, a procrastinação parece conduzir, também, a uma
baixa sensação de auto-eficácia, a inadequação, incerteza, ansiedade,
autodepreciação, depressão...
Muitas pessoas referem que adiam determinada tarefa por
não se sentirem na “disposição certa” para a completar, e, assumido este
adiamento, acabam por se distrair com actividades de menor prioridade (como ver
o email, ler as notícias, arrumar o espaço envolvente...). Quando dão conta,
sentem-se culpadas por terem desperdiçado tanto tempo, o que piora ainda mais a
“disposição” para realizar a tarefa, e ficam a sentir-se pior do que se sentiam
antes de a terem interrompido ou adiado.
Para parar de procrastinar parece ajudar perceber porque
se procrastina. As causas podem ser internas, como as nossas atitudes, crenças
e pensamentos, ou externas, mais relacionadas com a relação que temos com os
outros.
Esperar que chegue o “momento certo” para realizar determinada
tarefa parece ser um comportamento comum em procrastinadores. A motivação é,
sem dúvida, um factor importante na concretização de determinadas tarefas, mas
primeiro vem a acção produtiva. É dela que virá a força para fazer mais!
Há também o perfeccionismo, outro aliado da
procrastinação! Somos educados com a ideia de que devemos fazer sempre as
coisas perfeitas... o “melhor possível” (ou procura saudável do melhor) parece
pouco, insuficiente. Mas, na verdade, esta pressão e esforço excessivo parecem
afastar-nos de concretizar o nosso objectivo: por vezes, sentimo-nos de tal
forma pressionados por uma expectativa demasiado elevada, que acabamos por nos
sentir bloqueados, impotentes, incapazes de concluir a tarefa com a qualidade
que lhe exigimos, e, portanto, acabamos por não a realizar, procrastinando. Um
mau desempenho pode levar-nos a pôr em causa o nosso valor enquanto pessoa e,
por isso, acabamos por preferir evitar determinadas situações. Assim, se
reduzimos a pressão que colocamos sobre nós mesmos, reduzindo também as
expectativas acerca do resultado da nossa tarefa, poderemos experienciar uma
sensação de relaxamento, o que poderá permitir-nos uma maior capacidade de
sermos criativos e produtivos.
O medo do desconhecido muitas vezes surge associado a
esta ideia de perfeccionismo e pode também levar a procrastinar. Se nos estamos
a arriscar em novos desafios, é difícil sabermos como vai ser o nosso
desempenho. A incerteza, a dificuldade em lidar com situações inesperadas, sem que
o sucesso seja garantido, pode também levar ao evitamento de novos desafios e
oportunidades.
Contudo, uma causa bastante comum da procrastinação é,
precisamente, a falta de vontade. Ou seja, frequentemente adiamos determinada
tarefa porque, “simplesmente”, não queremos de todo realizá-la, ou porque,
devido a alguma dificuldade em sermos assertivos, aceitamos fazer coisas que na
realidade não queríamos fazer – assim, ao recearmos a desaprovação ou
criticismo dos outros, procuramos ir ao encontro das expectativas deles, e assumimos
um compromisso que não desejamos. Isto pode fazer-nos adiar a tarefa, uma vez
que nos sentimos ansiosos de cada vez em que pensamos em concretizá-la. Neste caso, a procrastinação pode ser vista
como uma forma de protesto ou “greve” indirecta.
Percebemos assim que podem haver muito boas razões para
procrastinarmos. Em vez de nos culpabilizarmos por não estarmos a realizar essa
tarefa, de repetirmos vezes sem conta para nós mesmos que “temos” ou “devemos”
mesmo realizá-la, por que não questionarmo-nos se ela é ou não uma prioridade
para nós?! Se é, efectivamente, algo que desejamos ou necessitamos ver
cumprido. Podemos surpreender-nos e perceber que afinal não queremos mesmo
aquilo para nós, e escolher conscientemente não o fazer. Libertador, não?!
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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