"Listen to your patients; let them
teach you. To grow wise you must remain a student."
(Escuta os teus pacientes; deixa-os ensinarem-te. Para
cresceres em sabedoria deves permanecer aluno.)
John
Whitehorn
(citado por Irvin Yalom em Momma
And The Meaning Of Life: Tales of Psychotherapy)
É relativamente
comum ouvir, em desabafos dos pacientes relativamente às suas próprias
vivências, frases semelhantes a “A Ana Luísa saberá melhor do que eu...”. Mas
não sei!
Como referi na
minha apresentação na ClaraMente, o processo psicoterapêutico, para mim, começa
como que uma dança em que procuro escutar a melodia do outro, descobrindo-lhe
os tons e aceitando os seus próprios ritmos. É o outro quem, muito melhor do que
eu, conhece os seus tempos, os seus movimentos, as suas lesões. É o outro quem traz
para esta nossa dança a música, a história do bailado, os improvisos, ou o
receio de os arriscar...
Nichols (1995)
referiu que escutar é “a arte pela
qual usamos a empatia para alcançar o espaço que existe entre nós [terapeuta e
paciente]... Uma escuta genuína implica suspender memória, desejo e julgamento,
e, pelo menos durante uns momentos, existir para a outra pessoa.”.
Tenho passado os
últimos quase quinze anos a estudar e a aprender acerca das pessoas, dos pacientes. Uma aprendizagem enriquecedora,
estimulante, dinâmica, prazerosa, e essencial à minha profissão. Ainda assim, a
aprendizagem maior começou há quase dez anos, quando, finalmente, comecei a
aprender com os pacientes, com as
pessoas com quem tenho tido o privilégio de trabalhar e de acompanhar o
crescimento. Têm sido estas pessoas quem mais me tem ensinado acerca delas e a
ser melhor terapeuta. Acredito que é o outro, o paciente, quem nos pode também
ensinar a fazer melhor terapia.
Se cerca de 30%
da variância do resultado da psicoterapia é atribuída ao paciente (40% é
inexplicável e os restantes 30% são atribuídos aos factores combinados
(Norcross & Lambert (2011)), quem melhor que o próprio paciente para nos
ajudar a compreender o que realmente permite a mudança, o crescimento, em
psicoterapia?
A investigação em
psicoterapia tem evoluído ao longo dos tempos, tendo-se passado, numa fase
primordial, de uma investigação que parece ter surgido da curiosidade dos
terapeutas compreenderam o que se passava em sessão, passando pelo estudo dos
resultados obtidos em terapia. Tendo-se comprovado a eficácia da psicoterapia,
o foco foi virado para a identificação de qual o melhor tratamento para cada
problemática. Contudo, chegou-se a uma supreendente conclusão, conhecida no
mundo científico como o veredicto do pássaro Dodo (de Alice no País das Maravilhas): “Todos ganham, e todos merecem
prémios” – o que significava que os resultados de diferentes abordagens psicoterapêuticas
revelaram-se semelhantes em populações clínicas. Ou seja, o modelo terapêutico
parecia não ser tão relevante quanto isso.
Um novo passo na
investigação em psicoterapia levou a que dicotomização entre investigação de
processo (a compreensão daquilo que acontece na sessão sem compreender o seu
impacto) e investigação de resultado (medir os efeitos da psicoterapia sem
saber o que aconteceu durante as sessões) desse lugar a uma nova perspectiva: a
Change Process Research (cuja
tradução literal pode ser Investigação do Processo de Mudança), definida por
Robert Elliot (2010) como o “estudo dos processos pelos quais a mudança
acontece em psicoterapia, incluindo os processos facilitadores de mudança que
acontecem em terapia, e a sequência das mudanças do paciente (que mudanças
ocorrem primeiro e levam a que mudanças subsequentes do paciente)”. Compreendeu-se
que importa considerar a experiência do paciente em terapia: as suas sensações,
percepções, pensamentos e sentimentos durante e relativos às sessões de
psicoterapia (Elliott & James, 1989). Até porque estas experiências
permitem a definição de princípios orientadores da prática psicoterapêutica,
permitindo aos terapeutas aprender efectivamente a partir das experiências dos
pacientes (Levitt, Butler, & Hill, 2006).
Uma abordagem
personalizada em saúde mental está, felizmente, a ser cada vez mais reconhecida,
procurando considerar a singularidade dos pacientes: as suas necessidades
específicas e as suas opiniões sobre o processo de tratamento (Sales &
Alves, 2012). Nesse sentido, e seguindo o ensinamento do Professor John
Whitehorn, espero manter a humildade de reconhecer a sabedoria de cada pessoa
acerca de si mesma e do seu processo... até porque ignorar a perspectiva do
paciente acerca do seu próprio processo seria obviamente um erro.
Ana Luísa Oliveira
escreve de acordo com a antiga ortografia.
Referências:
. Elliott, R., & James, E. (1989).
Varieties of client experience in psychotherapy: An analysis of the literature.
Clinical Psychology Review, 9, 444.
. Elliott, R. (2010). Psychotherapy Change
Process Research: Realizing the promise. Psychotherapy Research , pp.
123-135.
. Levitt, H., Butler, M., & Hill, T.
(2006). What Clients find Helpful in Psychotherapy: Developing Principles for
Facilitating Moment-to-Moment Change. Journal of Counseling Psychology ,
pp. 314-324.
. Nichols, M.P. (1995). The lost art of listening. New York: Guilford Press.
. Norcross, J. C., & Lambert, M. J. (2011).
Evidence-based therapy relationships. In J. C Norcross, (Ed.), Psychotherapy
relationships that work: Evidence-based responsiveness (pp. 3–24). New York,
NY: Oxford University Press.
. Sales, C., & Alves, P. (2012).
Individualized Patient-Progress Systems: Why We Need to Move Towards a
Personalized Evaluation of Psychological Treatments. Canadian Psychology /
Psychologie Canadienne , pp. 115-121.
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