Muitos de nós, em determinados momentos, podemos sentir que nos
boicotamos e que somos o nosso pior inimigo, sem no entanto percebermos, porque
é que as coisas não avançam por mais que tentemos fazer com que elas aconteçam.
As DISTORÇÕES COGNITIVAS são
basicamente maneiras distorcidas de processar uma informação, ou seja,
são interpretações enviesadas do que nos acontece, criando diversas
consequências negativas. Quando se sofre de depressão, por exemplo,
tem-se uma visão da realidade na qual as distorções cognitivas exercem um papel
principal (visão de túnel). Todos nós podemos utilizar algum tipo de distorção cognitiva.
Saber detectá-las e analisá-las ajuda-nos a desenvolver atitudes mais realistas
e, acima de tudo, mais funcionais.
Personalização
Quando nos sentimos 100%
responsáveis pelos acontecimentos. Por exemplo, o filho do António fez
um exame e não passou. O António pensa logo ter fracassado na educação do seu
filho, acha que cometeu algum erro, porque se tivesse feito tudo bem feito, seu
filho teria aprovado.
Filtro mental
Consiste em focarmo-nos nos aspectos negativos e ignorar o resto
da informação. O negativo é filtrado e absorvido, enquanto o positivo é
esquecido. Exemplo: A Maria preparou um prato para um jantar
e convidou nove amigas. Quase todas adoram a refeição da Maria,
à excepção da Cristina, que disse que o prato estava um pouco salgado. Maria
sente-se mal por isso e passa a achar que cozinha terrivelmente mal.– Ela
só absorveu o negativo, ignorando totalmente os aspectos positivos.
Esta distorção também está
presente quando acreditamos que se algo aconteceu uma vez, acontecerá em
todas as outras vezes. Por exemplo: O João terminou com a
Sónia depois de dois anos e meio de relação. A Sónia pensa “ninguém
vai gostar de mim”, “nunca mais encontrarei alguém que queira ficar
comigo”.
Maximização e minimização
Essa distorção cognitiva consiste
em maximizar os nossos próprios erros e os acertos dos outros e, minimizar os
próprios acertos e os erros dos outros. “Não importa quantas coisas fiz
correctamente no passado, elas não têm importância. O que importa agora
é que cometi um erro gravíssimo.”
Pensamento dicotómico
Consiste na extrema valorização dos acontecimentos, sem levar em conta os
aspectos intermediários. Classificar as coisas como brancas ou
pretas, verdadeiras ou falsas. Por exemplo: “Se este trabalho não ficar
perfeito, o meu esforço não terá valido para nada”, ou quando uma pessoa
não encontra emprego e pensa “sou completamente inútil!”.
Catastrofização
Ocorre quando prevemos o futuro
negativamente sem considerar outros resultados mais prováveis. Exemplo: “O meu filho ainda não chegou, deve ter
acontecido alguma coisa horrível. Vou esperar um pouco, mas não vou conseguir
dormir.” Outros exemplos: “O meu
namorado não me atende o telemóvel, deve estar com outra”.
Generalização
Ocorre quando generalizamos de um
caso, para todos os casos, mesmo que seja apenas ligeiramente idêntico. Se uma
vez foi verdade, será sempre assim: “A
mim nada nunca corre bem”; “Nunca me vou casar”; “Eu nunca termino o que começo”; “Eu jamais vou
conseguir deixar de fumar”; “Não dormi bem ontem, a minha insónia vai durar para sempre” ou “Nunca mais vou conseguir ter
um emprego bom como este”.
Raciocínio emocional
Refere-se à suposição de que as
nossas emoções reflectem as coisas como elas são. É acreditar que o que sentimos no momento é o correcto e verdadeiro. “Estou-me
a sentir uma incompetente, logo sou totalmente incompetente!” ou “Eu
sinto que é assim, consequentemente isso tem que ser verdade.”
Afirmações como “deveria fazer isso…”
São crenças rígidas e inflexíveis de como nós ou os demais deveríamos ser. As
exigências concentradas em nós próprios favorecem a autocrítica, enquanto as
dirigidas aos outros favorecem a raiva, a ira e a agressividade. Alguns
exemplos podem ser: “Deveria ter dado mais atenção ao meu marido, assim
ele não me teria deixado”, “Não devo cometer erros”, “Os
outros devem-se portar bem comigo” ou “Preciso gostar de
todos.”
Leitura da mente
Consiste em afirmar que
determinadas suposições são certas, mesmo que não exista nenhuma evidência que
a comprove. Acreditar que se sabe o que os outros pensam e o motivo de se
comportarem como se comportam. “O que ele quer é pôr-me nervoso!”, “O
que ele quer é rir-se de mim!”, “Eles sentem pena de mim!” ou “Ela
só está comigo por dinheiro!”
Predição do Futuro
Consiste em afirmar que
determinadas suposições são certas, mesmo que não exista nenhuma evidência para
as comprovar, é esperar que nada dê certo, sem sequer permitir a possibilidade
de que seja razoável ou positiva. “Tenho certeza de que vou reprovar.”,“Ninguém me vai dar atenção na festa”.
Rotulagem
Utilizar rótulos pejorativos para nos descrevermos, ao invés
de descrever os nossos actos e qualidades com objectividade e exactidão. Por
exemplo: “Sou um inútil!” ao invés de “Cometi um erro,
mas nem sempre faço isso.”
Sugestão:
Tentar dialogar connosco próprios
e questionarmo-nos. Com qual ou quais
nos identificamos? E se a partir de agora começarmos a estar mais atentos?
Agora que já as reconhecemos, podemos questioná-las. Assim poderá ser mais
fácil procurarmos alternativas que façam mais sentido e que nos sejam mais
benéficas.
Fontes: Beck, A.
T. (1979). Cognitive Therapy and the
Emotional Disorders. New York: Meridian.
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
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