Vivemos num mundo
vulnerável. Esbarramo-nos constantemente com vulnerabilidades: as nossas, as
dos outros, as dos contextos em que nos vamos movimentando, a vulnerabilidade
primária da simples condição de sermos seres-vivos (“Para morrermos basta
estarmos vivos”). Todos nós corremos o
risco de perder alguém de quem gostamos, de sermos despedidos, de ter que
despedir alguém, de ficar doente, de sermos rejeitados, de ter de dar o primeiro
passo numa relação, ou o último...
Estamos
constantemente sujeitos a situações que implicam um maior ou menor grau de
vulnerabilidade, e por vezes colocamo-nos noutras tantas que nos deixam ainda
mais vulneráveis. A vulnerabilidade é, assim, como que uma condição inerente à
nossa condição humana, e, mesmo assim, achamos que podemos fugir dela.
Porquê?!? Porque
não queremos estar vulneráveis. Porque, geralmente (e não erradamente),
associamos a vulnerabilidade ao medo, a ter dúvidas, a estar em risco, exposto. Mas porque também associamos a
vulnerabilidade a fraqueza, a angústia e sofrimento... coisas que não queremos
sentir.
Nos seus estudos,
Brené Brown foi percebendo que, muitas vezes, face à vulnerabilidade, tendemos
a tentar “adormecê-la” em nós. E é aqui que alerta para o facto de não ser
possível “adormecermos” selectivamente as emoções, ou seja, não nos é possível
escolher não sentir as coisas “más”,
sem que estejamos a negligenciar também outras emoções e afectos prazerosos. Ao
tentarmos afastar-nos de sentimentos fortes como a vulnerabilidade, a dor, a
vergonha, o sofrimento, a desilusão, estamos também a adormecer em nós a
possibilidade de sentir alegria, gratidão, felicidade... o que nos leva, invariavelmente,
a sentirmo-nos ainda mais infelizes, o que por sua vez nos faz sentir
vulneráveis, gerando-se um ciclo vicioso.
Ao analisar as
respostas às entrevistas que foi realizando, Brené Brown confirmou que, se por
um lado, a vulnerabilidade é o centro da vergonha e do medo, também é
(espantem-se alguns) fonte de alegria, da empatia, de amor, do sentimento de
pertença. E percebeu que as pessoas que se sentiam merecedoras desse amor e
desse sentido de pertença (por oposição àquelas que se questionam constantemente
se serão suficientemente boas para o merecer) tinham em comum quatro
características: Coragem (de serem imperfeitas), Compaixão (com elas mesmas
primeiro, e depois com os outros), Afinidade (estavam dispostas a abdicar de
quem achavam que deveriam ser, para serem, de uma forma autêntica, quem
realmente eram, o que é indispensável para a afinidade), e Vulnerabilidade.
Estas pessoas falavam da vulnerabilidade
como sendo necessária (mas nem por isso mais confortável ou menos dolorosa) e
mostravam-se dispostas a fazer algo para o qual não houvesse quaisquer
garantias, para dizerem “amo-te” primeiro, para respirar fundo enquanto aguardavam
o telefonema do médico depois de um exame delicado, estavam dispostas (e
consideravam fundamental) a investir numa relação, que podia ou não resultar. Abraçavam completamente a vulnerabilidade, acreditando que o que as torna vulneráveis as torna também bonitas.
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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