A
experiência de não saber é difícil
para algumas pessoas... É algo que pode
deixá-las extremamente ansiosas, especialmente quando outros parecem tão
seguros acerca de tanto ou mesmo de tudo. Não
saber pode fazer-nos sentir desligados, sozinhos, e, quase inevitavelmente,
vulneráveis.
Perante
esta ansiedade e mal-estar relativos a não
saber, de acordo com Nick Luxmoore pode acontecer entregarmo-nos totalmente ao desespero, ou passarmos a dividir
tudo em bom ou mau, adorável ou odioso, porque, então, tudo vai parecer mais
simples e será mais fácil convencermo-nos de que "sabemos", mesmo
quando a verdade é muito mais complicada. Uma terceira forma de lidar com o não saber poderá ser agarrarmo-nos a
respostas, podendo isto acontecer, por exemplo, numa relação em que os
elementos dos casal não sabem ao certo o que sentem um pelo outro, e preocupados
com a sensação de que deveriam saber, encobrem a sua ansiedade com presentes
caros, com reafirmações constantes do amor que “sentem” pelo outro, ou com uma
excessiva intimidade, para provarem algo a eles próprios, dispostos a fazerem
quase qualquer coisa que faça desaparecer a ansiedade de não saberem.
Contudo,
provavelmente muitos de nós recordamos com admiração aquele professor que um
dia disse não saber a resposta a uma pergunta mas que iria pesquisar e tentar
trazer a resposta na aula seguinte. Pode parecer-nos fácil apreciar a
honestidade em admitir que não sabia a resposta, a “humildade” em ir estudá-la,
e assumirmos que “Não temos que saber tudo”, que “Os especialistas tornaram-se
especialistas em determinado assunto porque estiveram dispostos a não saber
acerca de outros”... Mas, então, por que é que nós próprios não podemos não saber? Por que é que tantas vezes
não nos permitimos a que a nossa posição face a determinado assunto seja não saber? Por que é que, para
conseguirmos uma resposta, estamos dispostos a quase tudo, menos a não saber? Ao invés de ser um sinal de
fraqueza, de desinteresse, de ignorância, não
saber requer coragem e assumi-lo é, geralmente, eficaz.
Já em
1817, o poeta inglês John Keats defendia o conceito de capacidade negativa:
«quando um homem é capaz de estar em incertezas, mistérios, dúvidas, sem
qualquer tentativa impaciente de alcançar facto e razão...». De acordo com o
poeta, esta é uma competência avançada para tolerar a incerteza, mas não uma
incerteza passiva, associada à ignorância. Esta capacidade negativa advém de
uma incerteza activa, produtiva, que tem a ver com a possibilidade de estarmos
sem um modelo, de não sabermos o resultado, e ainda assim conseguirmos tolerar,
e mesmo desfrutar, da sensação de estarmos perdidos.
A
incerteza, a permissão que damos a nós mesmos de não sabermos, pode ajudar-nos a resolver problemas e abrir-nos a
novas soluções que, se nos deixarmos levar pela impaciência de conseguir uma resposta
imediata, ou pela pressão de evitar um desfecho que nos parece incerto, não
iríamos encontrar. É-nos muitas vezes difícil lidar com as nossas
ambivalências, permitirmo-nos estar no presente com a experiência de não saber. Mas é precisamente quando
aceitamos a verdade da situação (não sabermos) que podemos experienciar um
enorme alívio que nos permite, finalmente, relaxar.
É como se,
por vezes, as grandes decisões das nossas vidas, aquelas que nos parecem mesmo
difíceis de tomar, só pudessem ser tomadas quando nos permitimos não saber – como se esta realidade interna
de não sabermos nos permitisse parar
de pensar acerca das coisas e pudessemos, simplesmente, senti-las... entrando,
assim, em contacto com as respostas que, afinal, tinhamos em nós.
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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