Já experimentaram
uma sensação, quando algo corre mal nas vossas vidas, de quase pena para
convosco próprios? Por que é que isto me está sempre a acontecer? Por
que é que as pessoas são assim comigo? Será que o universo não me dá um
descansozinho? O que fiz eu para merecer isto? Ou, por outro lado,
quando tudo parece desabar, vêm à memória expressões como “fiz a cama onde
agora me deito”, bombardeando-vos a vós mesmos com chorrilhos de críticas, um
enorme sentimento de culpa, e a certeza absoluta de serem responsáveis por
todas e quaisquer agruras que vão vivendo? Não são os únicos.
A verdade, é que a
capacidade de analisarmos criticamente as nossas atitudes, comportamentos,
conquistas, objectivos, relações, de nos olharmos
criticamente, é, sem dúvida, uma capacidade, uma competência que nos pode
permitir crescer, melhorar, balizar os indicadores que nos guiam no caminho que
queremos seguir. E, talvez por ser tão necessária (ainda para mais numa era de
quase fanatismo pela eficiência), sabemos tão bem exagerá-la. Levamo-la quase
ao extremo, para onde já nada de bom nos ajudará a alcançar, para onde já nada
de novo nos ensina, “ajudando-nos” tão só e apenas a vermo-nos livres da nossa
boa disposição, de motivação para sairmos da cama, e a reduzir a nossa
eficiência.
E é precisamente
aqui que deixa de ser só aconselhável, e passa a ser quase obrigatório, algo de
que - por termos esta tendência de só ver dois lados do jogo, e
confundimos com pena – fugimos, desconfiamos, que receamos que
nos roube a força (e a dignidade?), que nos faça moles... a
auto-compaixão.
Proponho uma
reflexão... Quando outra pessoa erra, criticamo-la incansavelmente até que a
exaustão nos pare? É-nos fácil, ou pelo menos possível, ser amáveis com essa
pessoa, continuar a gostar dela, compreender que ainda que tenha falhado isso
não significa que que não seja boa nessa tarefa?
Muitas vezes,
quando alguém de quem gostamos não consegue alcançar algo que desejava, o seu
casamento termina, não consegue marcar o golo que tanto treinou, ou não passou
no exame que lhe faltava para acabar o curso... ficamos ao lado dessa pessoa,
dispendemos com ela um generoso período do nosso tempo, lembrando-lhe o quão
boa é a fazer tantas coisas, que os azares acontecem, que não temos que ser
(sempre) os melhores, que o fim das relações é também o início de muitas
aprendizagens e momentos de alegria. E acrescentamos “Por muito difícil que te
seja acreditar nisso agora...”.
Proponho agora um
desafio... da próxima vez que sentirem que falharam, que não vale a pena tentar
de novo, ou que uma nuvem cinzenta paira por cima de vós e que tudo irá sempre
correr mal, experimentem fazer o que fariam se o mesmo se tivesse a passar com
alguém de quem gostam, com quem se preocupam, e que querem que se sinta bem.
Recordem a vocês mesmos que a tarefa era muito difícil, que na vossa história
de vida há acontecimentos que permitem compreender terem-se comportado desta
forma, que qualquer tarefa implica uma elevada probabilidade de erro, que a
sorte e o azar por vezes são coisas reais e não temos como controlar tudo, que
o vosso valor não depende de factores externos, que estão demasiado exaustos ou
desapontados para conseguirem ver que há uma solução que simplesmente não estão
a conseguir ver neste momento...
Permitamo-nos
despir um pouco o medo da “piedadezinha”, do coitadinho, e
procurar ser amáveis e compreensivos com os motivos por que errámos. Há
inúmeras vantagens em (re)aprendermos a auto-compaixão, e em aceitar que
merecemos ser compreendidos e perdoados, e que cuidarmos de nós próprios é
compatível (e essencial) com uma vida ambiciosa e bem sucedida.
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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