Ao
contrário da divisão que se tende a fazer entre carentes e não são carentes, a
realidade é que todos nós somos carentes.
A
carência afetiva e a sensação de vazio e de incompletude, fazem parte da
condição humana e estão presentes desde o nascimento, momento em que se dá a
transição de um estado de plenitude para um estado de desamparo e abandono, que
só é atenuado com o colo da mãe.
No
entanto, à medida que vamos crescendo, vamos aprendendo a gerir essa carência,
através de um conhecimento progressivo das próprias capacidades e habilidades
que possibilitam a retirada de satisfação das mais variadas situações tais como
a profissão, uma viagem, um convívio com os amigos, uma ida ao cinema ou a
leitura de um livro.
Quando
a carência afetiva é excessiva, tendem a prevalecer as relações de dependência,
nas quais o outro, quer seja o namorado, a melhor amiga ou o filho é tido como
tendo a responsabilidade de completar o próprio. Aquele que sente esta
necessidade urgente da presença do outro para existir, acaba inevitavelmente
por adotar uma posição mais controladora e vigilante como também poderá ficar
comprometida a sua capacidade para avaliar o equilíbrio daquelas relações.
Na
realidade todos somos carentes mas em graus diferentes. A intensidade desta
carência é que varia, sendo que esta intensidade não se mede pela força do
apelo ou do discurso. Se por um lado existem pessoas que fazem propaganda das
suas carências, também há aquelas que fazem propaganda das carências dos
outros, como se não as possuíssem. Efetivamente a sensação de incompletude é
comum a todas as pessoas mas é também ela que nos motiva para irmos em busca do
que nos falta. É precisamente na falta de alguma coisa que se abre o espaço
para que possamos desenvolver as nossas habilidades e recursos internos a partir
da vivência de determinadas atividades, experiências ou relações humanas.
O
desenvolvimento destes recursos internos ao longo do crescimento vai assim promovendo
a nossa autonomia e a capacidade de sermos a nossa melhor companhia, por outras
palavras, de nos bastarmos a nós próprios. Paralelamente, as relações estabelecidas
serão também elas mais saudáveis e equilibradas, na medida em que o outro surge
como alguém que vem complementar, abrir novos horizontes e co-construir
connosco.
Poder
contribui para um ambiente de afetividade, onde nos permitimos interpelar o outro, pedir afeto, receber afeto,
dar afeto e estarmos atento às necessidades afetivas do outro, irá com certeza
diminuir não só a solidão do próprio como a do outro, saindo favorecida a
qualidade das relações humanas.
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