Hoje em dia estamos em
constante aceleração, quase obcecados com a velocidade e o imediatismo, fazendo
cada vez mais coisas em cada vez menos tempo. Procuramos tornar tudo mais
rápido, sem nos apercebermos que, por vezes, estamos a passar pela vida com muita
pressa, perdendo a oportunidade de a vivermos de facto. Por que é que o
fazemos?!? Em parte, porque toda esta rapidez e velocidade nos “protegem” de
questões maiores e mais profundas... Muitas vezes, preenchemos as nossas cabeças
com distracções e ocupações para que não tenhamos que nos questionar acerca de
nós próprios e do que nos rodeia.
Podemos também cada vez
mais facilmente estabelecer contacto com pessoas que se encontram nos locais
mais remotos, mas por vezes, nesse processo, é como se perdessemos contacto
connosco próprios.
Actualmente podemos
trabalhar a partir de quase qualquer lado, podemos fazer muito mais, e muito
mais rápido, do que alguma vez se pensou. Mas, se tudo parece fazer-se mais
rápido, por que nos sentimos sem tempo? Alguns autores sugerem que é por nos
termos tornado menos competentes na arte de não fazer nada.
Quantos de nós se sentem
desconfortáveis quando não estão a fazer alguma coisa? Quantos sentem que estão
a perder tempo? Parece cada vez mais difícil esperar 10 segundos pelo elevador
sem consultar a caixa de e-mail, ou fazer o percurso de autocarro simplesmente
a olhar pela janela sem nos pormos a par das actualizações nas redes sociais. Alguns
estudos mostraram que a maioria das pessoas prefere fazer algo, mesmo que
desagradável, do que não fazer nada e ser deixada a sós com os seus
pensamentos... Contudo, precisamos da quietude, desta capacidade de “nada
fazer” para recarregar baterias. A constante estimulação que recebemos a partir
dos nossos ecrãs, apesar de ser prazerosa no imediato, leva-nos a um estado de
“sobrecarga cognitiva”, que prejudica capacidades como pensar criativamente,
planear, inovar, resolver problemas, tomar decisões, aprender coisas novas
facilmente, falar fluentemente, controlar as nossas emoções... ou seja, parece
comprometer tudo o que precisamos fazer num dia normal.
Por outro lado, só
conseguimos vivenciar as emoções chamadas positivas se nos permitirmos estar efectivamente
em contacto com todas as nossas emoções, com tudo o que de facto estivermos a
sentir, seja agradável ou desagradável. Infelizmente, o que acontece muitas
vezes é que para evitarmos a sensações desagradáveis que a quietude nos pode trazer (como a
sensação de pânico por não estarmos a fazer nada, ou a perder tempo),
colocamo-nos numa espécie de “dormência” também em relação às sensações boas
das nossas vidas.
Assim, se queremos
continuar produtivamente activos e, simultaneamente, sentirmo-nos bem,
precisamos aprender a parar. Se nos sentirmos sobrecarregados e sem tempo para
cumprir as nossas tarefas, devemos parar e questionarmo-nos. Provavelmente,
mais do que de tempo, aquilo de que precisamos é de permanecer quietos, sem
estímulos, de quietude para percebermos o que realmente nos motiva, para nos
lembrarmos onde reside a nossa verdadeira alegria.
Para treinar a quietude,
podemos, por exemplo, tentar conduzir em silêncio, sem rádio ou telemóvel
ligados; fazer as refeições sem televisor ou telemóvel por perto; caminhar
diariamente no exterior sem telemóvel ou leitor de música; podendo começar com
apenas alguns minutos por dia, e ir aumentando gradualmente a duração. E da
próxima vez que der por si a olhar para o espaço, perdoe-se. Não está a perder
tempo, está a ir ao encontro da sua quietude.
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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