Ouvi este pequeno diálogo na rua
e fiquei a pensar de que forma é que se poderia tentar chegar até estas
pessoas, que realmente pensam que psicoterapia é apenas conversa. Mas ao mesmo
tempo questionei-me se esta seria a opinião de muitas pessoas. E pensei que não
se deveria desvalorizar o poder da conversa. Efectivamente a Psicologia e a
Psicoterapia ainda são vistas como algo secundário e menos importante,
felizmente cada vez menos. Mas continua a ser quase mais fácil procurar-se um
psiquiatra ou até mesmo o médico de família, que nos receita um antidepressivo
ou um ansiolítico e o problema fica resolvido. Mas será que fica?
Falarmos sobre o sofrimento que
sentimos é essencial para superarmos uma dificuldade ou um trauma. Ao fazermos
isso, somos capazes de nos reorganizarmos a nível emocional. Afinal, a tal
conversa pode produzir efeitos reorganizadores na mente de uma pessoa. Apenas a
necessidade de traduzirmos o que estamos a sentir para palavras, dá-nos por
vezes uma outra perspectiva que, de outra forma não teríamos acesso.
A Psicologia vê o funcionamento
da pessoa como uma consequência da soma da inter-relação entre cognição, emoção
e pensamento e assim, o comportamento e as emoções são determinados, numa
grande parte, pela maneira como pensamos sobre nós e sobre o mundo à nossa
volta. Quando essa percepção se encontra afectada, surgem os problemas
emocionais. A psicoterapia é o tratamento dessas problemáticas para promover o
bem-estar. Através das técnicas psicoterapêuticas e ao se explorar novas
perspectivas, vamos sendo cada vez mais capazes de regularmos as nossas
necessidades psicológicas e, assim, encontrarmos o nosso equilíbrio emocional.
Felizmente têm havido inúmeros
estudos que comprovam as alterações do cérebro, pelos efeitos da psicoterapia.
Com o desenvolvimento das neurociências, há nova informação sobre esta questão
que é importante dar-se cada vez mais a conhecer. O avanço da tecnologia
possibilitou o desenvolvimento de técnicas de neuro imagem, que têm sido cada
vez mais utilizadas em pesquisas científicas sobre o funcionamento cerebral
associado aos transtornos mentais e ao seu tratamento. As neurociências têm
procurado esclarecer os efeitos da psicoterapia no cérebro, e as pesquisas
realizadas têm comprovado que existem mudanças neuronais, levando a uma
melhoria dos sintomas das pessoas.
Ritchey e col. (2011), fizeram um estudo com
pacientes depressivos sem o uso de medicação que demonstrou que a psicoterapia
promoveu um aumento geral na activação do córtex pré-frontal, e a uma maior
excitação na amígdala, núcleo caudado e hipocampo (uma das regiões cerebrais
envolvidas na expressão das emoções). Outra investigação, da Universidade da
Califórnia demonstrou, através de estudos de neuro imagem, uma redução da
actividade metabólica no núcleo caudado (estrutura localizada no hemisfério
cerebral direito, com papel importante no sistema de aprendizagem e memória) em
pacientes com Transtorno Obsessivo Compulsivo, que passaram por psicoterapia.
Todos estes resultados demonstram
que os circuitos cerebrais e nervosos são muito mais flexíveis do que se
pensava anteriormente. A psicoterapia pode alterar o funcionamento cerebral de
forma a que as memória recolhidas pelo hipocampo sejam reorganizadas de uma
forma significativa pelos lobos frontais e consolidados novamente na memória. O
processo de sentir, falar sobre o que se sente, expressar as emoções, ligando
isso a uma memória, tem consequências duradouras e benéficas para a qualidade
de vida emocional das pessoas.
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
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