domingo, 15 de maio de 2016

Como podem os pais aliviar a ansiedade dos filhos em relação aos testes?




A menos de um mês de terminar o ano letivo, a fase dos testes está agora a tornar-se mais intensa nas escolas, aumentando a pressão emocional nos alunos para tirarem boas notas e transitarem de ano.
Efetivamente a ansiedade e o stress não são uma realidade exclusiva dos adultos, também os jovens se debatem com desafios e exigências no seu quotidiano, quer sejam matérias complexas, professores, cargas horárias ou até a necessidade de tirarem boas notas. E se a existência de uma ansiedade moderada é positiva e funciona como uma fonte de energia que ajuda o jovem a mobilizar-se para os seus objetivos, já a ansiedade excessiva torna-se disfuncional e bloqueadora, levando o jovem a sentir-se incapaz de atingi-los. Neste último caso, é frequente encontrarmos quadros de preocupação crónica, queixas de dores sem causa aparente, oscilações bruscas de humor, irritabilidade, alterações bruscas do sono ou mesmo recusa em ir para a escola.
O alívio da pressão é fundamental e os pais podem ter aqui um papel fundamental, na medida que desde logo se constituem como modelos de referência e como tal podem ensinar os seus filhos a combater o stress sendo um exemplo disso.
A moderação das expetativas dos pais é outro dos aspetos a ter em conta, na medida em que posturas muitos perfecionistas e voltadas para os resultados, podem promover o desenvolvimento de quadros de ansiedade aliados a sentimentos de insuficiência e incapacidade por parte dos filhos. As crianças são muito sensíveis às expetativas dos pais e têm uma grande necessidade de cumpri-las para se sentirem amadas e fazerem os pais felizes. Quando a criança chega a casa com um resultado negativo e tal não é bem recebido, havendo uma sobrevalorização da falha em vez do sucesso, tal conduz à interiorização de um sentimento de desvalia e incompetência por parte da criança, com prejuízo ao nível da sua auto-estima. Os resultados negativos deveriam ser encarados como oportunidades de aprendizagem no percurso de vida da criança e não como oportunidades de culpabilização e crítica. Tão ou mais importante que elogiar os bons resultados, é elogiar o esforço que foi feito, mesmo que a nota não tenha sido positiva.
No sentido de atenuar a pressão e a ansiedade dos jovens, é muito importante o estabelecimento de uma rotina por parte dos pais na medida em que tal é organizador e transmite segurança e tranquilidade.  
Na rotina diária tem de ser contemplado tempo livre de brincadeira, atividade e lazer, não esquecendo que no mínimo o jovem deve dormir cerca de 8 horas.
Em fase de testes e exames pode ser útil o recurso a um calendário ou agenda, com as suas rotinas e a marcação do dia dos testes, de modo a permitir o planeamento do trabalho e estudar com antecedência.
Nas maratonas de estudo importa o estabelecimento de pausas para o corpo e a mente recuperarem, sendo igualmente útil a prática de exercício físico na medida em que a ansiedade é canalizada para o esforço físico.

“Mais importante que as notas são os bons alunos. Daqueles que erram e que aprendem. E mais importante, ainda, que os bons alunos são aqueles que, tendo “várias vidas”, são bons alunos, bem educados e boas pessoas.”
Eduardo Sá


sexta-feira, 13 de maio de 2016

"Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor"... e de si mesmo?!?

Quantas vezes já nos detivémos a tentar responder à questão “O que é que eu realmente quero?”? “Ser feliz” e/ou “ser saudável” poderão ser hipóteses integradas na resposta, mas são afirmações que, por si só, são demasiado vagas, e em que nos envolvemos pouco... quase como se fossem um lugar para onde basta apanhar um avião, desfazer as malas à chegada e permanecer.
Como é que por vezes essa ideia de alcançar felicidade, que nos parece aquilo que mais queremos, pode deixar-nos, ao mesmo tempo, tão desiludidos e mesmo aterrorizados? Em parte, porque muitas vezes preferimos escolher, mesmo que seja difícil, o que nos é familiar (e por isso confortável) do que o que nos é estranhamente gratificante ou bom.
Muitos de nós crescemos a ouvir a ladaínha do “serei feliz quando...” (“passares de ano”, “nos mudarmos para uma casa maior”, “formos de férias”, etc.), e rapidamente cada um de nós aprende também que será “feliz quando”: “for para escola”, “me derem presentes”, “deixar a escola”, “arranjar um bom emprego”, “casar”, “tiver filhos”, ou mesmo  “me divorciar”... a perspectiva é de que aí, quando o futuro chegar, seremos finalmente felizes. Este esforço constante por alcançarmos as "coisas" da vida que acreditamos que irão trazer-nos felicidade por vezes parece dominar-nos e afastar-nos da ideia de que a felicidade, a alegria, o prazer, as “coisas” boas da vida existem e acontecem... agora!
Não surtirá grande (algum?) efeito esperarmos que cheguem esses momentos, até porque poderá surgir a sensação de que não era aquilo que esperávamos, que, afinal, não fomos inundados por uma enorme satisfação, prazer e plenitude.
Procurar alcançar aquilo que se deseja pode ser sentido como insuportavelmente arriscado: é como se o desconhecido nos colocasse à mercê do destino, da esperança, daquilo que não podemos controlar, e, consequentemente, à possibilidade de perda. Ao não tentarmos, ao boicotarmos os nossos próprios planos, apesar de quase inevitavelmente nos podermos sentir tristes por não alcançarmos o que ambicionamos, ficamos simultaneamente mais tranquilos e com uma maior sensação de segurança e controlo. Isso faz com que, de alguma forma, nos seja possível dizer “Está tudo bem”. Dizemo-lo aos outros (para não os preocupar, por exemplo), mas tentamos dizê-lo também a nós próprios porque assim não temos que mudar nada na nossa vida, não precisamos de nos esforçar... porque “Está tudo bem”! Na verdade, não está. Sabemos no nosso interior que desistimos daquilo que tanto desejamos, por sentirmos que exigia um risco demasiado grande para o nosso conforto presente. Contudo, há uma coisa que é importante termos em conta nesta situação: nunca nos vai parecer (nem aparecer) o momento certo!
Ao nos questionarmos acerca daquilo que pretendemos alcançar, importa procurar respostas mais operacionalizáveis, e que nos comprometam a nós mesmos (e não a divindades, genética, sorte ou acasos) na sua concretização.
Por vezes, o caminho pode passar por nos “forçarmos” a fazer as coisas. Não acredito em receitas rápidas, em qualquer coisa que possamos arranjar que nos dê uma “vida boa” e a mantenha dessa forma. A vida por vezes pode parecer-nos confusa, complicada, e lidar com as suas exigências irá requerer da nossa parte dedicação, esforço, empenho, e, até mesmo, algum sofrimento. Mas, como disse Pessoa:

...
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.



Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


(Fernando Pessoa, in “Mar Português”)


Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Envelhecimento Activo e Humanitude

Desde o dia em que nascemos começamos a envelhecer. Há, porém, etapas marcadas por datas, que são apenas referentes sociais, mas que condicionam a vida de cada um de nós. Um desses referentes é chegar aos 65 anos e atingir a “terceira idade”, e um outro é quando se deixa de trabalhar e se entra na condição de reformado.

O processo de envelhecimento é um processo individual, que cumpre o seu próprio ritmo, de acordo com a herança genética recebida, com as condições ambientais em que este se desenvolveu e com todas as experiências ao longo da vida. Esta fase é propícia ao aparecimento de questões existenciais, sobre a importância da vida que se teve, o valor das coisas que se fizeram. No momento em que se olha para trás, por vezes com um olhar mais triste, é também importante encontrar-se satisfação no presente. Esta pode ser uma fase em que se perdem amigos, onde as questões de saúde podem ser uma grande preocupação e o bem-estar ter um outro valor.

Envelhecer bem é envelhecer de forma activa e satisfatoriamente, com capacidade para praticar estilos de vida e formas de comportamentos para melhor desfrutar do bem-estar durante o máximo de tempo possível. Para se envelhecer bem, cada pessoa tem de tomar a decisão de intervir no seu processo de envelhecimento. Envelhecer com êxito depende da sociedade, dos seus sistemas de saúde e de protecção, e do próprio indivíduo, sendo que este é agente do seu desenvolvimento pessoal e, em certa medida, da sua saúde, da sua participação e da sua segurança.

O Envelhecimento Activo, segundo a Organização Mundial da Saúde, “é um processo de optimização das oportunidades para a saúde, a participação e a segurança, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem”. Para promover o envelhecimento activo há factores essenciais que é preciso privilegiar. É imprescindível cuidar do corpo e do funcionamento cognitivo, pois estes ajudarão a optimizar as capacidades físicas e psicológicas e a compensar algumas lacunas, se for esse o caso, melhorar as relações familiares e sociais, ganhar uma maior participação social e, por último, enfrentar situações difíceis sabendo lidar com estas adequadamente. São estes os ingredientes fundamentais do envelhecimento activo: a saúde, o funcionamento intelectual e o compromisso com a vida.

Comprometermo-nos com a vida implica o sentimento de que somos necessários, de que aquilo que realizamos tem sentido e é útil para os outros com quem convivemos, o que incentiva as actividades fora de casa, sentirmo-nos menos sós, sermos independentes da família, termos uma boa rede social e preocuparmo-nos com os outros.

Mas surge aqui uma grande questão. Como se pode envelhecer de forma activa numa instituição?
E é aqui que entra o conceito de Humanitude, que se caracteriza por ser um cuidar centrado na pessoa cuidada (interesses, gostos, características pessoais) e na relação entre essa pessoa e o cuidador. Nesta metodologia, existem técnicas relacionais, assentes em pilares relacionais. E tem como objectivos desenvolver a co-responsabilização do cuidador e da pessoa cuidada, promovendo a participação da pessoa cuidada nos cuidados e decisões, segundo as suas capacidades físicas e cognitivas, indo ao encontro do envelhecimento activo.

Sendo assim, talvez pudéssemos ter um envelhecimento realmente activo nos lares e nos centros de dia. Por que não então tentar fomentar mais estas práticas que apenas visam a qualidade dos cuidados e o bem estar de quem é cuidado? Não será importante criarmos um maior debate na sociedade para conseguirmos novas políticas e novas práticas no cuidar, para se ir ao encontro de um novo paradigma, realmente humanista? Pode-se envelhecer de forma activa em casa com a família, em casa sozinho, num lar... Vamos permitir e apoiar os nossos idosos a envelhecerem de forma tranquila.

“A Laura morreu, pegaram em mim e puseram-me no lar com dois sacos de roupa e um álbum de fotografias. Foi o que fizeram. Depois, nessa mesma tarde, levaram o álbum porque achavam que ia servir apenas para que eu cultivasse a dor de perder a minha mulher. Depois, ainda nessa mesma tarde, trouxeram uma imagem da nossa senhora de Fátima e disseram que, com o tempo, eu haveria de ganhar um credo religioso, aprenderia a rezar e salvaria assim a minha alma. E um médico respondeu, a verdade é que ficam mais calmos. Achei que era esperado de mim um desespero motor. Digo motor para dizer de acção. Algo como partir coisas, revirar os móveis, agredir fisicamente os funcionários, os enfermeiros que me poderiam prender. O quarto pequeno é todo ele uma cela, a janela não abre e, se o vidro se partir, as grades de ferro antigas seguram as pessoas do lado de dentro do edifício. Pus-me a olhar para o chão, com ar de entregue. Estou entregue, pensei. Aos meus pés os dois sacos de roupa e uma enfermeira dizendo coisas simples, convencida de que a idade mental de um idoso é, de facto, igual à de uma criança. O choque de ser assim tratado é tremendo e, numa primeira fase, fica-se sem reacção. Se aquela enfermeira pudesse acabar com aquele sorriso, ao menos acabar com aquele sorriso, seria mais fácil para mim entender que os meus sentimentos valiam algo e que sofrer pela Laura não vinha de uma lonjura alienígena, não era uma estupidez e, menos ainda, vinha de um crime pela clausura e tudo. E ela sorria e eu poderia desejar-lhe, com tanto desprezo, o pior mal do mundo. Que lhe arrancassem os braços e as pernas, pensava eu, tirem-lhe os olhos e façam-na perder a voz e chamem-lhe cabra porque é o que ela merece. Senhor Silva, com esta mantinha vai ficar quentinho à noite, ainda aqui vai ter muitos sonhos bonitos, vai ver.”
(in A máquina de fazer espanhóis, de Valter Hugo Mãe)

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 8 de maio de 2016

Emoções Desagradáveis... para que servem e qual a sua importância?




Todas as emoções têm um propósito e são fundamentais para a nossa sobrevivência, bem como para o desenvolvimento psicológico e social.
O medo, a raiva, a alegria e a tristeza são as quatro emoções básicas do ser humano que correspondem a padrões inatos e não requerem de aprendizagem. 
Apesar da tendência para categorizarmos as emoções em positivas e negativas, o que existe são emoções mais ou menos agradáveis, mas todas são necessárias e têm uma função específica. Contudo, do ponto de vista social e cultural, está implícito que sentir algumas destas emoções pode ser algo nocivo. Muitos de nós fomos educados com a ideia de que a manifestação da tristeza ou do medo são sinais de fraqueza a serem evitados e que a expressão da raiva é altamente condenável, imperando a necessidade de agradar aos outros. A falta de permissão para expressar as emoções e a desvalorização das mesmas, leva a que muitas pessoas entrem em processos de negação, repressão ou distorção dessas emoções, em vez de as regularem e expressarem adequadamente.
Em relação ao medo, podemos dizer que é uma emoção cuja função é nos advertir e preparar para uma situação de perigo, por exemplo uma ameaça no meio, um conflito entre objetivos ou a falta de recursos. O medo, através das modificações fisiológicas que comporta (aumento da tensão muscular, aceleração respiratória e cardíaca) mobiliza o organismo, multiplica por dez as nossas forças físicas e psíquicas e aumenta o nosso estado de alerta para detetar o perigo, enfrentá-lo, eliminá-lo ou fugir. Quando o medo provoca uma reação de bloqueio ou até de negação, impossibilitando a mobilização de uma ação adequada, acaba por ter um efeito desorganizador, podendo levar ao desenvolvimento de quadros graves de ansiedade.
Relativamente à tristeza, é a emoção gerada pela experiência de perda que pode ser de alguém significativo, de uma esperança, da saúde ou de um lugar. Normalmente, depois de um período de tristeza, segue-se uma sensação de alivio pela libertação da tensão através do choro e a aceitação da realidade pelo desprendimento que abre a possibilidade para o investimento em novas coisas e pessoas. A tristeza efetua assim um trabalho importante de integração e de reparação.
Por sua vez, a raiva é uma emoção cuja função é permitir a reparação perante a frustração, a injustiça e a ofensa, possibilitando a restauração do sentimento de integridade do indivíduo. A raiva, pela tensão muscular que provoca, aumenta a nossa força e energia e cria em nós um impulso para a ação que visa defender os nossos direitos e impor limites face à invasão do espaço pessoal. O silenciar da raiva impede que o outro tome conhecimento do dano que está a causar e que tenha possibilidade de o reparar. Nestes casos, a internalização da raiva acaba por dar lugar a quadros de depressão e ansiedade.
As emoções, mesmo que sentidas como desagradáveis, têm como vimos um  propósito específico e devem ser experienciadas adequadamente para que sejam potencialmente reparadoras, prevenindo o aparecimento de perturbações psicológicas.
A psicoterapia, pode ajudar o paciente a entrar em contacto com as suas verdadeiras emoções, a reconhecê-las, aceitá-las e a geri-las de forma mais adequada, possibilitando uma maior satisfação na relação consigo e com os outros.





sexta-feira, 6 de maio de 2016

Jean-Paul Sartre... e a Clareza para Escolher

Aprendemos com Sartre que as coisas não têm que ser como são. Procuro trazer para terapia esta noção de liberdade, de oportunidade, de escolha... esta verdade de que somos muito mais livres do que nos permitimos imaginar perante todos os compromisso, regras, preconceitos e obrigações. Parece-nos impossível acreditarmos que quase tudo nos é possível e permitido.
Isto não significa (como ouvimos em muitos sítios) que “basta querer”. Onde pretendo chegar é que muito daquilo que muitas vezes vivenciamos como obrigações, imposições, ou mesmo o nosso (tão português) fado, são, na verdade, escolhas.
Não são poucas as vezes que ouvimos um amigo ou alguém na rua lamentar-se de que está “preso” num emprego que detesta, ou numa relação sem crescimento. Acredito que se sintam sem alternativa, mas quão presas estarão, efectivamente, estas pessoas? A possibilidade de mudar está-lhes realmente vedada? Não há nada que possam fazer relativamente ao emprego que odeiam ou à relação que estagnou? O que as impede de se despedirem, mudarem de país, reiventarem-se como pessoas completamente diferentes, ou saírem de casa, terminarem a relação que tinham?
Em poucos segundos, conseguimos encontrar um sem número de razões por que tal não seria apropriado, viável, ou mesmo possível. E é aqui que recordo novamente Sartre – o seu desejo de nos dar acesso a um modo de pensar diferente, de libertar a nossa imaginação.
Frequentemente acontece não nos apercebermos da imensidão de escolhas que temos ao nosso alcance, mas outras vezes parecemos não estar dispostos a pagar o valor que essas escolhas acarretam... e isso, é uma escolha por si só. De forma a concretizarmos plenamente a nossa liberdade, chegamos ao conceito Sartriano de “angústia” da existência, em que tudo é (assustadoramente) possível porque nada tem um sentido ou propósito pré-determinado, ou determinado por Deus, e que defende que os seres humanos se vão inventando à medida que avançam e são livres para abandonar as amarras a qualquer momento. É natural que possa parecer assustador... o termo “angústia” não terá surgido por mero acaso. Mas para Sartre, a angústia era um sinal de maturidade, um sinal de que estamos plenamente vivos e devidamente conscientes da realidade, com a sua liberdade, suas possibilidades e suas escolhas de peso.
Não me parece possível escolhermos de forma livre sem auto-conhecimento. Mas, infelizmente, a vida quotidiana parece recompensar as perspectivas mais práticas, não introspectivas, de auto-justificação, que em nada facilitam esse estado de maior consciência acerca de nós próprios. Por outro lado, a psicoterapia, o desenvolvimento pessoal, ou até mesmo os momentos em que nos arriscamos a ficar a sós connosco próprios, possibilitam-nos o privilégio de acedermos à nossa “mente superior”, ou neocórtex, a sede da imaginação, empatia e julgamento imparcial, o lugar onde as escolhas podem ser feitas de forma mais livre e genuína.



Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Inteligência Emocional


"...capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos." (Goleman, 1998).

Esta é a definição de Inteligência Emocional segundo Goleman, e para ele a inteligência emocional é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos indivíduos. Há algum tempo atrás, pensava-se de forma muito diferente, defendia-se que o sucesso de uma pessoa dependia do seu raciocínio lógico, habilidades matemáticas e espaciais (QI). Mas o psicólogo Daniel Goleman, com seu livro "Inteligência Emocional" retoma uma nova discussão sobre esta temática, de QI (Quociente de Inteligência) versus IE (Inteligência Emocional).

Na maioria das situações de trabalho, estamos envolvidos numa série de relacionamentos entre pessoas (colegas de gabinete, colegas de departamento, chefes), e segundo este autor, as pessoas com uma maior capacidade de se relacionar, sendo afáveis, compreensivas e gentis têm uma maior possibilidade de terem sucesso profissional.

A inteligência emocional apresenta cinco características essenciais que são uma junção das inteligências interpessoais e intrapessoais. Essas cinco características são: o auto-conhecimento emocional, o controlo emocional, a auto-motivação, a empatia e as competências nos relacionamentos interpessoais. Estas características são fundamentais para conseguirmos um bem-estar e uma melhor adaptação social.

O auto-conhecimento emocional permite-nos reconhecer e entender o que estamos a sentir, e identificar o que cria cada emoção e apenas com essa consciência podemos ganhar maior controlo sobre as nossas emoções e assim geri-las de forma adequada. O controlo emocional capacita-nos no lidar com os nossos sentimentos, adequando-os a cada momento e situação. A auto-motivação é o que visa orientar as emoções para um objectivo ou realização pessoal, sendo importante na capacidade de se adiar algum prazer imediato, com o objectivo de se concretizar uma meta a longo prazo (tarefa essa que exige um bom nível de tolerância), tal como na insistência de se concretizar algo sem desistir. A empatia permite-nos reconhecer as emoções dos outros, possibilitando que nos coloquemos no lugar dessa pessoa e assim compreender o outro lado, aspecto este essencial para a criação e desenvolvimento de relacionamentos interpessoais. As competências nos relacionamentos interpessoais é o que nos permite criar, desenvolver e manter bons relacionamentos; é saber comunicar, partilhar, pedir opiniões, dar espaço para ouvir os outros, trabalhar bem em equipa e gerir conflitos.

A inteligência emocional, para grande parte dos estudiosos do comportamento humano, pode ser considerada mais importante do que a inteligência mental (QI), para alcançar a satisfação a nível geral.

Toda a informação que chega até ao nosso cérebro, chega-nos através de nossos sentidos, e quando essa informação é extremamente stressante, a nossa resposta imediata e automática toma conta de nós e a nossa capacidade de agir torna-se limitada, e dessa forma a nossa resposta é uma reacção instintiva. Assim, para termos acesso às diversas opções de reposta para cada situação e para termos a capacidade de tomar boas decisões, é preciso sermos capazes de manter as nossas emoções em equilíbrio. O desenvolvimento da inteligência emocional permite-nos reduzir o stress, permanecermos focados, e ficarmos conectados connosco e com os outros.

Todos nós temos a possibilidade de melhorar qualquer das características aqui descritas que compõem a inteligência emocional, através de um maior conhecimento de nós próprios e da aquisição de novos hábitos e de novas formas de reagir. Assim, podemos melhorar as nossas relações pessoais, o nosso trabalho, a vida social... o nosso bem-estar de uma forma geral.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Ser Mãe é...



Ser mãe é essencialmente saber amar. Significa dar afeto, estimar, proteger, cuidar e esta função maternal não se esgota na relação com os filhos biológicos mas pode ser exercida em relação a todas as pessoas com quem assumimos este papel cuidador e afetivo.
Podemos dizer que também na psicoterapia a relação que se estabelece entre o terapeuta e o paciente tem semelhanças com este tipo de relação, na medida em que a principal finalidade do terapeuta é igualmente promover o crescimento e a maturidade emocional do paciente, a descoberta do seu caminho pessoal e a conquista da sua autonomia.
É comum encontrarmos muitas mulheres que se questionam se estarão a ser boas mães e esta acaba por ser uma dúvida que traz consigo alguma dose de angústia e de sofrimento.
O desempenho de vários papéis em simultâneo por parte da mulher, tais como de mãe, esposa, profissional, filha, dona de casa, pode trazer uma pressão psicológica excessiva que acaba por gerar sentimentos de falha e culpa.
Mas ser mãe é antes de mais ser pessoa e ser mulher e como tal importa a realização pessoal e a busca do prazer noutras esferas da vida que vão para além da maternidade e que contribuem para a mudança, para a auto-descoberta e, em última instância, para o crescimento contínuo e renovador da mulher. A maternidade será tanto mais vivida na sua plenitude quanto mais feliz e realizada a mulher se sentir noutras áreas da sua vida. O investimento que a mãe faz em si enquanto mulher irá servir de modelo para a criança mais tarde, orientando-a na sua forma de relacionar-se consigo própria, com  os outros e com o mundo.
Aspirar a ser a super-mulher e a super-mãe lá de casa que tudo faz e tudo resolve não passam de metas inatingíveis condenadas ao fracasso que apenas geram stress e angústia. O bom funcionamento da dinâmica familiar não depende exclusivamente da mãe, mas também do pai, dos próprios filhos e das condições e circunstâncias de vida.
Ideais de perfeição são conceções irrealistas e inimigas do bem estar emocional, pois resvalam inevitavelmente em situações de frustração e desilusão.
As crianças não precisam de mães perfeitas para amarem mas sim de mães suficientemente boas, capazes de aceitar e de amar não só as qualidades pessoais mas também as limitações e as fragilidades, ensinando os seus filhos a fazerem o mesmo, sem caírem na auto-crítica permanente.
Por isso não há que ter medo de errar com os filhos, eles não se fazem acompanhar de um manual de instruções ao nascer e como tal a parentalidade é algo que inevitavelmente se aprende ao longo do tempo e que decorre do conhecimento mútuo de mãe e filho e da experiência de vida. As crianças têm o seu próprio temperamento e personalidade, e como tal é natural que ocorram divergências e conflitos ao longo do caminho, que traduzem nada mais que o processo natural de diferenciação dos filhos. Acima de tudo importa uma atitude disponível e atenta da mãe às reais necessidades emocionais dos filhos e não a padrões idealizados.

 Voltando à questão inicial, entendo que ser mãe é viver a braços com paradoxos e inquietações que só o amor incondicional consegue diluir e resolver, transformando a dor dos filhos em serenidade, atribuindo um nome e um sentido ao que parece incompreensível e inominável, validando as aspirações e desejos dos filhos mesmo que não se coadunem com as suas expetativas e libertando-os para a autonomia, por mais que doa o vazio que fica no seu colo.