domingo, 29 de outubro de 2017

Dia da Preguiça...ou a importância de parar?



Hoje, quarta-feira, dia 1 de Novembro, muitas pessoas aproveitam o feriado para descansar. E a meio da semana, uma pausa no ritmo acelerado em que muitos de nós vivemos, pode ser realmente rivigorante e gerador de bem-estar.
Vivemos numa era em que muitas pessoas se queixam constantemente de não terem tempo para nada, descurando a necessidade de parar, pelo menos algumas vezes por dia, em prol da própria sanidade mental.
Impera a pressão constante por desempenhos excelentes e maximização de resultados e o fazer nada passou a ser visto negativamente, induzindo sentimentos de culpa.  
Muitas pessoas entram neste ritmo acelerado e numa urgência constante em responder às expectativas pessoais e sociais criadas, gerando-se as condições propícias para o desenvolvimento de quadros de stress e em última instância de burnout.
Quem se aproxima desse ponto deixa de se sentir produtivo  e podem emergir sensações desagradáveis tais como a ansiedade, a raiva, o tédio, o desejo de procrastinar e até sintomas físicos como dores de cabeça, dores de estômago ou insónias.
 Para  este desgaste extremo podem contribuir diferentes fatores tais como o perfeccionismo, o elevado nível de ambição e de criticismo, a auto-exigência e a pressão por parte do exterior. Neste contexto actual, parece não haver muito espaço para desligar, desconectar e parar, até mesmo nos supostos momentos de pausa, a propensão para continuar ligado, a consumir informação, através dos smartphones parece levar a melhor.
No entanto, há muito que as neurociências já evidenciaram a importância dos “tempos de nada”, indutores da sensação de bem estar e da criatividade.  O importante é acalmar a mente, parar de analisar e afastar totalmente os pensamentos indutores de stress, na medida em que esta paragem conduz à reorganização mental, que é a base para novos insights e novas soluções, isto é para a criatividade. Ou seja, ao ativar no cérebro um estado mais passivo e relaxado, são neutralizados os efeitos negativos das hormonas do stress e produzidos neurotransmissores como endorfinas e dopaminas  que acentuam a sensação geral de bem-estar.
Há várias alternativas para ativar um estado  de relaxamento, tais como um exercício de relaxamento, dar um passeio a pé ou fazer uma corrida, ouvir música calma, fazer uma sesta ou tomar um banho quente. Este estado permite assim romper com os padrões de raciocínio anteriores e com as emoções negativas associadas, promovendo o acesso a uma posição neurológica mais favorável a um raciocínio mais claro, criativo e produtivo. Quantos momentos “eureka!”já tivemos no duche ou enquanto conduzíamos ao ouvir música?
Tempos de nada são portanto essenciais para aumentar a criatividade e a capacidade para resolver problemas e tomar decisões, incrementando a qualidade do trabalho e a auto-confiança. Para além disso, são nos tempos de nada que temos oportunidade para nos desligarmos do exterior e do modo automático em que vivemos grande parte do tempo, para nos conectarmos connosco, ou seja com os nossos sentimentos, desejos e aspirações e não nos perdermos de nós próprios na correria do dia a dia. É neste parar que a mente e o corpo reencontram a tranquilidade e o relaxamento que necessitam para a manutenção da saúde física e mental. Como tal, é essencial incorporar estes tempos de nada no nosso quotidiano, o que requer organização, estabelecimento de prioridades e acima de tudo permissão por parte do próprio. Importa ter presente que os tempos de nada em nada se relacionam com negligência, displicência, ou aversão ao trabalho mas sim com uma necessidade imperiosa de parar a que todos temos direito em prol da nossa saúde, bem estar, criatividade e produtividade.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

A coragem de se ir ao encontro do vazio

A necessidade de se dar sentido às coisas, a necessidade de se encontrar um ou vários sentidos à vida, o encher de sentido o que nos rodeia, acaba por ser algo necessário e essencial em determinados momentos, em maior ou menor grau, mas necessário! Segundo Nietzsche: “Aquele que tem uma razão para viver pode suportar quase tudo”.

Sem esse sentido, o dia-a-dia pode-se tornar mais longo e pesado... abrindo a possibilidade de surgir o “vazio existencial”, que pode surgir perante determinadas situações, algumas delas de intenso stress, na vida de uma pessoa, nomeadamente lutos e perdas vividas ao longo da vida. Quando uma situação inesperada surge, nos primeiros momentos é um choque e é necessário tempo para se dar sentido a essa nova situação. Essa sensação de vazio e consequente perda de vontade, pode permitir o desenvolvimento de uma depressão ou algumas outras perturbações psicológicas, caso se fique agarrado à situação (de perda por exemplo) e esse vazio for perdurando no tempo.

Quando uma pessoa se vai envolvendo nesse seu vazio existencial, muitas vezes descrito como uma espiral, pode levar cada vez mais a um desajuste emocional e uma grande dificuldade da pessoa se auto regular. A falta de sentido na vida pode fazer com que a própria existência perda o seu significado, a pessoa vai-se sentindo vazia, abandonado, desvalorizada e insignificante.

Pode-se ir tentando fugir desse vazio e dessa dor: ocupar o tempo com actividades e com pessoas, procurar escapes (muitas vezes adições), mas essa fuga não vai mudar esse vazio, ele vai continuar lá. No entanto, o vazio existencial pode ser preenchido, pode ser compreendido, pode ser apaziguado e acolhido, pode ser cuidado e abraçado, pode-se ir enchendo esse vazio com calor, ternura e afecto, e dando sentindo às experiências vividas e à vida.

A coragem de se ir ao encontro desse vazio, compreendê-lo, dar-lhe um sentido, irá permitir a pessoa conhecer as suas próprias necessidades para o poder preencher com o que lhe mais falta. 

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 15 de outubro de 2017

In a Heartbeat - "O coração quer o que o coração quer, e não há nada de errado nisso”






Esta curta metragem intitulada "In a Heartbeat", prima pela forma como rapidamente chega ao coração e emociona, não deixando ninguém indiferente.
A mensagem é simples, essencialmente sobre amor, que neste caso é de um menino em relação a outro e nela podemos visualizar simultaneamente as reações surpreendentes e comoventes de um grupo de crianças e adultos.
Destaca-se a delicadeza com que um assunto sensível desta natureza é tratado, expondo os conflitos internos e as dificuldades que os jovens como os protagonistas do filme têm de atravessar. Acima de tudo o video apela para a importancia da tolerância e da aceitação do amor, independentemente da sua orientação.
O vídeo foi produzido por Beth David e Esteban Bravo estudantes da Ringling College of Art and Design e já ganhou vários prêmios em festivais de cinema.

Como disse Esteban: “O coração quer o que o coração quer, e não há nada de errado nisso”.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

A eterna insatisfação... com António Variações

Hoje decidi trazer ao blogue da Claramente uma canção, que inúmeras pessoas, em determinados momentos da vida, facilmente se identificam... no consultório, muitas pessoas já me partilharam essa identificação. Não é nada fácil a tarefa de conciliar o sentimento de não pertencer a lado nenhum com uma sensação de tranquilidade.

António Variações descreve aqui uma insatisfação permanente, além da indecisão entre os caminhos que seguir, sabendo que se seguir o caminho A, existem perdas por não ir pelo B, C... O medo do que se perde, que justifica a indecisão na escolha.

Ficam aqui alguns tópicos que para quem quiser reflectir um pouco sobre o tema pode ajudar, e também serão utilizados para próximos artigos de reflexão da ClaraMente:

- Aceitar as perdas, como consequências naturais de decisões pensadas e reflectidas.
- Não permitir que o medo nos bloqueie e a importância de seguir atrás dos nossos objectivos e sonhos.
- Aceitar a instatisfação para evoluirmos, desafiarmo-nos e crescermos.
- Equilibrar a vontade de explorar e ir além, com uma tranquilidade e serenidade.

Deixo aqui a letra, tal como a canção.


Estou além

Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P’ra não chegar tarde
Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão

Vou continuar a procurar a quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só

Quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P’ra outro lugar

Vou continuar a procurar o meu mundo,
o meu lugar
Porque até aqui eu só

Estou bem
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

domingo, 1 de outubro de 2017

A Terapia Assistida por Animais


Hoje, 4 de Outubro, celebra-se o Dia Mundial do Animal. Para muitas pessoas e famílias o seu animal de estimação assume um papel central e fundamental nas suas vidas, sendo portanto este o dia para lhes prestar a devida homenagem.
A investigação sobre os benefícios da relação entre o animal e o homem intensificaram-se ao longo dos tempos, sendo atualmente a Terapia Assistida por Animais um recurso cada vez mais utilizado para promover a melhoria de estados físicos e psíquicos em todas as idades.
Um dos animais mais utilizados em Intervenções Assistidas por Animais é o cão. A sua presença durante a sessão de terapia constitui-se como um estímulo mutisensorial, procurando-se através deste meio tornar as pessoas mais cooperantes e motivadas e que a médio prazo, possa ocorrer a  generalização dos comportamentos gerados nas sessões à vida quotidiana.
Diversos estudos indicam a existência de benefícios desta relação, sendo que a presença do animal fomenta a expressão de emoções, a capacidade de comunicação e de interação social, o aumento da concentração, memória e atenção, a diminuição da ansiedade e tensão arterial, o aumento do nível de endorfinas, a estimulação tátil e o alívio de sentimentos de medo, solidão e isolamento.
A Terapia Assistida por Animais é uma intervenção orientado por objetivos, onde um animal, que reúne determinados critérios específicos, é parte integrante do processo terapêutico. Este processo deverá ser dirigido e avaliado por profissionais de saúde, com conhecimentos especializados no âmbito da intervenção assistida por animais, onde o próprio define os objetivos e metodologias de avaliação, enquanto também desempenha a função de guia do animal.
Os objetivos desta terapia podem visar o desenvolvimento psicomotor e sensorial, nomeadamente habilidades motoras finas e o equilíbrio, bem como melhorar a capacidade de socialização no que respeita às interações verbais e sociais do sujeito, estimular as funções cognitivas (memória, atenção concentração, linguagem, pensamento) aumentar a auto-estima, reduzir a ansiedade e melhorar a gestão emocional.
A Terapia Assistida por Animais pode ser indicada em diferentes áreas nomeadamente em crianças com necessidades educativas especiais. Segundo os especialistas, crianças com dislexia, perturbação do espetro do autismo, transtorno de défice de atenção com hiperatividade, paralisia cerebral, trissomia 21 podem experimentar diminuição da pressão arterial e  ganhos cognitivos e de comunicação, quando têm a possibilidade de participar em programas de terapia estabelecendo contacto com cães e outros animais. Outras crianças com problemas de aprendizagem poderão retirar igualmente benefícios. Na presença dos animais, está comprovada a diminuição dos níveis de stress pela redução do cortisol ( hormona associada ao stress ), aumento da endorfina e oxitocina ( associadas ao bem estar e à satisfação ) e  abrandamento do ritmo cardíaco e respiratório. Destaca-se igualmente a intervenção em pessoas com défice de visão e de audição, com quadros demenciais, doença e Alzheimer e de Parkinson e perturbações ansiosas e afetivas.
  Também muitos hospitais pediátricos nos Estados Unidos da América estão a recorrer a terapias com animais, incentivando as crianças portadoras de doenças graves a contactarem com cães e gatos e os resultados têm sido bastante positivos.
Como a terapia funciona como um agente motivador para o tratamento em diversas condições, qualquer paciente que apresente um quadro crónico físico ou psicológico pode beneficiar dela.


terça-feira, 26 de setembro de 2017

Pensamentos que não nos largam...

- "Acho que estou a enlouquecer... há pensamentos absurdos que chegam até mim, sem eu fazer nada, e são horríveis! Tenho medo de perder o controlo e fazer algo de mau..."

Esta frase poderia ser de uma de várias pessoas que lutam diariamente contra os seus pensamentos.

Estes pensamentos/imagens que vêm à cabeça de uma forma incontrolável, são chamados de pensamentos obsessivos e, numa intensidade maior ou menor, todos nós já alguma vez tivemos na nossa vida. Durante períodos em que passamos por um estado emocional mais alterado esses pensamentos obsessivos podem estar mais tempo presentes e aumentarem de intensidade. Contudo, quando esses pensamentos condicionam a nossa vida e fazem diminuir a nossa qualidade de vida é essencial procurar apoio profissional.

Estes pensamentos, imagens ou impulsos, surgem de forma intrusiva, sem se saber como nem porquê, e apesar de muitos esforços, eles não desaparecem, são pensamentos que se intrometem indesejavelmente na nossa consciência, aparecem de maneira insistente e repetitiva e a estranheza dos seus conteúdos, origina um elevado desconforto, preocupação e mal-estar. 

Estes pensamentos para além de serem absurdos, podem ser mais incómodos e preocupantes, pelo medo de perder o controle e ter algum eventual impulso de se fazer mal a si ou aos outros, como por exemplo, saltar da janela, ou ferir pessoas. Alguns destes pensamentos ainda podem ser mais bizarros, assustando muito as pessoas. 

A preocupação e o mal estar que estes pensamentos criam, faz com que por vezes se viva à volta destes pensamentos, o que cria um grande cansaço e desgaste. Quando temos esses pensamentos, a nossa energia concentra-se neles e quanto mais pensamos, mais presentes eles se vão tornando. 

Ficam aqui algumas sugestões que podem ajudar a lidar e a gerir o mal estar que os pensamentos obsessivos vão criando:

·  Relaxar. Estes pensamentos intrusivos criam ansiedade e preocupação, por isso, é necessário ter um tempo para relaxar e procurar sentir algum tranquilidade em algum momento do dia. Quando sentir que um pensamento desse tipo invade a sua mente, não lute contra ele, tente apenas respirar profundamente e concentrar-se na sua respiração. Quanto mais os tentamos evitar, mais presentes e fortes eles se vão tornando.

·  Divertir-se. Faça uma lista de actividades que lhe criem prazer e satisfação. Tente fazer todos os dias alguma dessas actividades (Por exemplo: ouvir música, ler um livro, contemplar o mar, meditar, fazer uma actividade física). Assim, a mente mantém-se ocupada com coisas positivas.

·  Aceitar que não podemos controlar tudo, nomeadamente os nossos pensamentos; contudo podemos mudar a forma como lidamos e como gerimos essas situações.

·  Procurar apoio profissional para um tratamento adequado.


Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Morre Lentamente - Pablo Neruda



“Morre Lentamente” é um poema de Pablo Neruda, prémio Nobel da Literatura em 1971, que nos remete para a importância de estarmos atentos ao melhor que a vida tem para nos oferecer e de sabermos aproveitá-la da melhor maneira possível. 
Este é um exercício que exige esforço, já que muitas vezes somos empurrados para uma rotina e para uma monotonia em já não encontramos paixão e motivação. 
E é justamente aqui que “começamos a morrer lentamente” e onde no lugar de vivermos passamos somente a existir e a respirar. 
Redescobri o que nos move e nos apaixona, arriscar, sair da nossa zona de conforto, fazer novas aprendizagens, conhecer pessoas novas e fazer coisas diferentes, podem ser formas de despertarmos do marasmo e da apatia em que muitas vezes caímos e de nos voltarmos a sentir vivos e apaixonados pela vida. 

Morre lentamente 
quem se transforma em escravo do hábito, 
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca 
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. 
Morre lentamente 
quem faz da televisão o seu guru. 
Morre lentamente 
quem evita uma paixão, 
quem prefere o negro sobre o branco 
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, 
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, 
sorrisos dos bocejos, 
corações aos tropeços e sentimentos. 
Morre lentamente 
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, 
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, 
quem não se permite pelo menos uma vez na vida, 
fugir dos conselhos sensatos. 
Morre lentamente 
quem não viaja, 
quem não lê, 
quem não ouve música, 
quem não encontra graça em si mesmo. 
Morre lentamente 
quem destrói o seu amor-próprio, 
quem não se deixa ajudar. 
Morre lentamente, 
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte 
ou da chuva incessante. 
Morre lentamente, 
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, 
não pergunta sobre um assunto que desconhece 
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe. 

Evitemos a morte em doses suaves, 
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior 
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos 
um estágio esplêndido de felicidade