Será que era disso que falaríamos se escrevessemos sobre as nossas vidas postumamente? Será que esse nosso Eu, diria ao de hoje, "Faz!"? E o que diz o nosso Eu de hoje ao nosso Eu de ontem? E ao de hoje mesmo?
Há poucas semanas aceitei um desafio em que me foi proposto identificar e descrever os "capítulos" da minha vida. Quero desafiar-vos também: se as vossas vidas fossem livros, quais os capítulos que teriam? Quantos eram? A que diriam respeito? Seriam organizados cronologicamente, numa sequência de diferentes fases de desenvolvimento? Ou o tempo não teria muita relevância nessa escolha? Seria o espaço?!? Ou também não? Enquanto unidades de significado, marcadores de vida, a que corresponderiam esses capítulos?
É comum no final de um caminho, de um projecto, de uma viagem, de uma fase, olharmos para trás. Fazemos uma espécie de balanço, avaliamos o que aconteceu, criticamos o que consideramos terem sido erros, regozijamo-nos (muito mais raras vezes) com os sucessos.
Isto leva-me a duas questões diferentes:
Por um lado, que tipo de narradores somos?
Ouve-se com frequência "Se eu soubesse antes o que sei hoje" ... Mas a verdade é que não sabíamos. Não tínhamos como saber e, por isso, dificilmente poderíamos ter feito diferente. Mas o que a investigação nos parece dizer é que esta aceitação para ser facilitada quando se fez! Mesmo que se tenha feito "mal"! E que não são os erros, mas sim o que se deixou de fazer, de tentar, de arriscar, os "não capítulos", aqueles que não chegaram a ser publicados e ficaram guardados na gaveta, que nos angustiam.
Para aqueles capítulos em que tudo parece ter corrido mal, há sempre a possibilidade de conseguirmos aprender a olhar para eles como lições aprendidas, como caminhos que tomámos e que nos ajudaram a perceber que não era por ali.
E, por outro, queremos mesmo esperar pelo fim para ver como poderíamos fazer melhor, crescer melhor, viver melhor? Ou irmo-nos narrando as nossas próprias vidas ajudar-nos-á a escrevermos histórias diferentes, a estarmos mais presentes, mais envolvidos, mais livres, e com uma maior capacidade de escolha e decisão?
São muitas perguntas, bem sei... Procuremos dar-lhes resposta?
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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