O ciúme é um
sentimento intrínseco à natureza humana e que é experienciado desde logo, numa
fase precoce do desenvolvimento. Pode ser entendido como uma manifestação de
emoções desencadeadas pela perceção da falta de exclusividade afetiva por parte
da pessoa amada e pela sensação de se estar a dividir, ou mesmo a disputar a
atenção, intimidade, dedicação, cumplicidade e afeto com outros, quer estes
sejam os irmãos, os primos ou os amigos.
Este sentimento de exclusão está
presente, prematuramente, no desenvolvimento com a entrada em cena do terceiro
elemento que vai gerar sentimentos ambivalentes na criança: por um lado, o
desejo de aceder a uma relação ampliada com o mundo, mas por outro, o temor de
perder a sensação de amor incondicional e a segurança afetiva que a relação
simbiótica com a mãe lhe transmite.
A resolução eficiente da triangulação
implica que a figura materna e paterna estabeleçam uma aliança coesa no modo
como lidam com a frustração da criança, garantindo-lhe simultâneamente o amor e
a segurança afetiva necessárias.
No entanto, a má
resolução da triangulação, poderá comprometer a socialização da criança e os
seus futuros relacionamentos amorosos, dando lugar mais tarde ao ciúme
patológico. Nestes casos, as relações amorosas adultas, reativam o conflito
infantil não resolvido e são vividas com uma sensação de medo e ameaça constante
pelo surgimento de um rival (terceiro elemento) capaz de roubar a figura amada.
Há uma expetativa permanente e infundada de ameaça na relação, ela própria
idealizada e com aspectos infantis relacionados com a ilusão de amor e
dedicação exclusivos e incondicionais.
Nos casos de ciúme
patológico, verifica-se uma permanente desconfiança e um estado de tensão,
angústia e insegurança pelo temor de se ser traído, conduzindo a uma constante
monotorização das ações do parceiro, mesmo que este não tenha dado razões para
tal. As reacções são desproporcionais e podem mesmo ser agressivas do ponto de
vista físico e psicológico, gerando sofrimento para ambas as partes.
Estas pessoas
normalmente revelam uma elevada centração nelas próprias e na satisfação das
suas necessidades (egocentrismo), sendo muito possessivas, controladoras e levando
em pouca consideração a individualidade do outro. Pode igualmente estar
presente uma auto-estima deficiente que se traduz no medo em se ser trocado por
outra pessoa percecionada como mais interessante e com mais valor.
A reação face à
ameaça da perda e abandono poderá traduzir-se num conjunto de emoções que vão
desde o pânico à raiva descontrolada, na medida em que a ausência do outro se
traduz numa perceção da perda da própria identidade pessoal. O ciúme aqui
descrito não mede a intensidade do amor mas acima de tudo o grau de dependência
e a imaturidade emocional.
A intervenção
psicoterapêutica nestes casos revela-se fundamental, já que o grau de
sofrimento é elevado, podendo haver prejuízo nas esferas profissional, familiar
e social.
Sendo uma emoção
intrínseca à natureza humana, o ciúme, relacionado com o desejo de
exclusividade afetiva, não pode ser simplesmente eliminado mas importa saber
geri-lo, controlá-lo, aprender a lidar com ele e minimizar os seus malefícios.
A comunicação entre o
casal é fundamental e é legítimo que aquele que sente ciúmes possa informar o
seu parceiro que esse sentimento o está incomodar mas sem limitar a sua ação,
na medida em que essa vivência emocional não lhe dá o direito de agir agressiva
e autoritariamente sobre o outro.
Quando é experienciado
de forma positiva, o ciúme associa-se a uma conduta de zelo e de motivação para
investir no próprio, no outro e na relação.
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