Quantas vezes, na correria do dia a dia, ao tentarmos cumprir com todas as solicitações com as quais nos deparamos, ao tentarmos que nada nos escape, a correr de um lado para o outro na ânsia de bem sucedermos em todos os nossos papéis, ao procurarmos fazer o balanço entre as tarefas que cumprimos e as que nos faltam cumprir, acabamos por nos perdermos de nós próprios, por perder o contacto com o momento presente, com aquilo que estamos realmente a fazer e a sentir? E, não menos vezes, isso acaba por trazer cansaço, mal-estar, desilusão, frustração, dificuldade de concentração, e, até mesmo, uma acentuada redução da nossa capacidade de cumprirmos efectivamente com os mesmos desafios.
É por isso que hoje escrevo sobre Mindfulness, ou seja, sobre a capacidade de aumentarmos a nossa consciência acerca daquilo que estamos realmente a experienciar através dos nossos sentidos, ou acerca do nosso estado de espírito através dos nossos pensamentos e emoções.
O conceito de Mindfulness pode, então, ser definido com a capacidade humana de estarmos completamente presentes, conscientes de onde se está e do que se está a fazer, e não demasiado reactivos ou sobrecarregados com o que se está a passar à nossa volta. O mindfulness permite-nos colocar algum espaço entre nós próprios e as nossas reacções, agindo de forma mais consciente, reduzindo as nossas respostas condicionadas.
Por vezes confunde-se mindfulness com o desejo de serenar a mente ou de atingir um estado de calma e paz permanente. No entanto, a ideia, ainda que não seja fácil, é simples: observar o momento presente como ele é, sem julgamentos. Nem mesmo julgamento acerca dos julgamentos que possam surgir.
Ao tentarmos focar-nos no momento presente, é frequente sermos interrompidos por pensamentos ou preocupações acerca do futuro e arrependimentos acerca do passado. É importante não os ignorarmos, mas sim tomar uma espécie de nota mental acerca deles e deixá-los ir. Podemos então, novamente, voltar a observar o momento presente como ele é, o que faz do mindfulness a prática de voltar, uma e outra vez, ao momento presente. Em parte, o mindfulness parece resultar por nos ajudar a aceitar as nossas experiências (as boas, e as desagradáveis), em vez de as rejeitar ou evitar.
O mindfulness, apesar de não envolver qualquer prática ou crença religiosa, tem a sua origem no budismo, beneficiando de algo comum a várias religiões: uma prática que permite redireccionar os nossos pensamentos das preocupações para uma apreciação do momento e uma perspectiva da vida mais clara e conciente.
Ana Luísa de Castro Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
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