A dificuldade que tenho na dicção da palavra
(pro.cras.ti.na.ção) leva-me por vezes a evitar (ou adiar) dizê-la. Mas, na verdade,
quantas vezes não adiamos sucessivamente algo que temos para fazer,
sentindo-nos culpados por estarmos a adiar?
Podemos achar que estamos simplesmente a ser preguiçosos,
outros poderão dizer-nos que nos falta empenho ou capacidade para gerir o nosso
tempo. Procratinar é mais complexo do que isso.
Muitos de nós, já experimentámos passar um dia entre
amigos quando tínhamos um exame no dia seguinte, ou um prazo importante para
cumprir. Mas sentimo-nos culpados por não estarmos a estudar ou a realizar a
tarefa que tínhamos pendente, ou por termos gasto o tempo “precioso” para a
completar? Ou, por outro lado, conseguimos efectivamente relaxar, descontrair,
e, até, ganhar algum ânimo ou motivação para trabalhar posteriormente?
Quase todos adiamos, por vezes, algumas coisas. E isso
pode dar-nos uma sensação de alívio imediato. Mas, se, a médio ou longo prazo,
percebemos que há um mal-estar relativamente ao que se adiou, um sentimento de
culpa que fica, isso poderá indicar-nos que estamos, na verdade, a
procrastinar. Para além da culpa, e das consequências adversas por não se
realizar a tarefa, a procrastinação parece conduzir, também, a uma baixa
sensação de auto-eficácia, a inadequação, incerteza, ansiedade,
autodepreciação, depressão...
Muitos factores parecem contribuir para a procrastinação.
Não é por se ser preguiçoso que se procrastina. Muitas pessoas referem que
adiam determinada tarefa por não se sentirem na “disposição certa” para a
completar. Assumido este adiamento, acabam por se distrair com actividades de
menor prioridade, como ver o email, ler as notícias, arrumar o espaço
envolvente... Quando dão conta, sentem-se culpadas por terem desperdiçado tanto
tempo, o que piora ainda mais a “disposição” para realizar a tarefa, e ficam a
sentir-se pior do que se sentiam antes de a terem interrompido ou adiado.
Para parar de procrastinar parece ajudar perceber porque
se procrastina. As causas podem ser internas, como as nossas atitudes, crenças
e pensamentos, ou externas, mais relacionadas com a relação que temos com os
outros.
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