Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia (Consultórios em Lisboa e Caldas da Rainha)
terça-feira, 15 de novembro de 2022
Todos Frágeis, Todos Iguais e Todos Preciosos
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
A Urgência de se estar Sempre a fazer alguma coisa leva-nos Aonde?
Numa sociedade
onde o fazer, fazer, fazer, impera; onde há uma pressão constante por
desempenhos excelentes e uma rentabilidade máxima e onde o fazer nada, passou a
ser visto negativamente, numa urgência constante em responder às expectativas
pessoais e sociais, estão criadas as condições ótimas para o desenvolvimento de
quadros de stresse, mal-estar, depressão e insatisfação... É nesta sociedade em
que vivemos atualmente!
Parece que foi
criada uma ideia geral, que assumimos totalmente, que o valor enquanto pessoa
está diretamente ligado ao que fazemos. Mas e como é procurar sentirmo-nos com
valor enquanto pessoas, simplesmente pelo que somos? Não pelo que fazemos, nem
pelo que temos. Apenas ser! Como seria eu procurar o bem-estar geral enquanto
pessoa apenas? O que isso significa? Como é sentir isso? E se imaginarmos fazer
tudo o que desejamos fazer, como nos iríamos sentir? Totalmente realizados? E
depois disso? A ambição de atingir algo mais continua? Essa exigência de se
querer ter mais tem limites? Talvez possam parecer perguntas estranhas...
Talvez sejam. Mas tentar perceber o que estas questões fazem sentir pode ser
interessante, fica a sugestão!
A forma como as
pessoas se julgam, se comparam e se sentem julgadas pelos outros (mesmo que não
o sejam), leva a um sentimento de culpa, que vai incutindo na maioria das
pessoas a crença - ou estamos a produzir, a criar, a investir no nosso tempo de
forma clara, ou somos preguiçosos. Parece que o descanso deixou de ser bem
aceite, parece que cada vez mais as pessoas sentem que o não fazer nada é um
desperdício de tempo. Às vezes, até quando nos apercebemos que precisamos de
descanso e que um momento de não fazer nada seria tão bom, há aquela voz
crítica que nos diz que não podemos, não é suposto... Tanto que essa ideia nos
é passada, que vai sendo incorporada em nós! É passada por quem? Chefes,
empresas, media, sociedade de forma geral... Ninguém quer ser visto como
preguiçoso.
No entanto, uma pausa
durante o dia, o descanso ao final da tarde, um fim-de-semana sem olhar para o
correio eletrónico, momentos para apenas contemplar o que está à nossa volta
(que muitas vezes nem reparámos bem, mesmo ao estarem ali todos os dias), ouvir
uma música relaxante, tomar um banho quente, brincar com os gatos, dar um
passeio, fazer uma sesta, beber um chá... Cortar com o ritmo acelerado em que
muitos de nós vivemos, pode ser realmente vitalizador, reconstrutivo, gerador
de bem-estar e até mesmo produtivo!
Vários estudos
mostram que um tempo destinado e não organizado de inatividade, equilibrado com
a gestão das atividades, promove uma maior energia, foco, concentração e clareza
mental. Há a tendência de se valorizar demasiado o tempo em que estamos ativos,
mas é essencial reconhecermos a importância da inatividade também! Pela nossa
Saúde! As neurociências já demonstraram a importância dos “tempos de nada”,
indutores da sensação de bem-estar. É essencial acalmar a mente, parar de examinar
e afastar totalmente os pensamentos criadores de stresse, essas paragens
permitem uma reorganização mental, que é a base para novos insights e novas
soluções. Quantas vezes estamos a tentar encontrar uma solução há horas...e é
quando decidimos que fica para o dia seguinte e estamos relaxados que surge a
ideia, a solução? É isso! Ao conseguirmos estar mais relaxados, são anulados os
efeitos negativos das hormonas do stresse e produzidos neurotransmissores que
acentuam a sensação geral de bem-estar.
Revista Psicologia na Actualidade, Psychology Now, nº 58 Julho-Agosto-Setembro 2022.
terça-feira, 20 de setembro de 2022
A Saúde Psicológica das Crianças no Regresso às Aulas
Começa agora um novo ano letivo, considerado o mais normal desde o início da pandemia, sem horários desfasados, máscaras ou corredores de sentido único. No entanto, os efeitos de dois anos de pandemia, durante os quais as crianças estiveram limitadas na sua ação, expressão e socialização, não estão ultrapassados.
Um estudo do Ministério da Educação de maio concluiu que um terço dos alunos apresentava sinais de sofrimento psicológico, devendo as escolas estar muito atentas a estas manifestações para responderem de forma ajustada mas também repensarem o seu próprio modelo de funcionamento.
Um dos grandes problemas atuais que atenta contra a saúde mental
das crianças é o tempo que passam nas escolas, sentadas na sala de aula quase
de manhã até à noite e que em muitos casos ultrapassa a média de 8 horas de
trabalho de um adulto. As crianças para crescerem saudáveis precisam de tempo
para brincarem, pelo menos duas horas por dia, de tempo para elas próprias,
para explorarem o espaço público e da sua comunidade, e isso não se coaduna com
agendas assoberbadas de atividades.
Quem não brinca não aprende a pensar, não se desenvolve plenamente
do ponto de vista social, emocional e cognitivo e não é por estarem mais tempo
na escola que as crianças aprendem melhor. Quando as crianças estão na escola
quando podiam estar com os pais, isso revela que as hierarquias e as prioridades
estão desajustadas. A família é sempre muito mais importante que a escola e o bem-estar
e a felicidade das crianças depende em grande parte da presença dos pais, da
sua disponibilidade emocional e do convívio familiar.
Tornar o processo de aprendizagem uma experiência saudável e em
contextos que promovam não só a aquisição de conhecimentos mas também o
desenvolvimento integral dos alunos, nas suas diferentes dimensões, é hoje a
missão da escola em colaboração com as famílias.
Para além das notas na
escola, importa valorizar as competências que as crianças aprendem nos outros
contextos de vida e o seu desempenho, não só como alunos, mas também como
filhos, irmãos, netos e colegas.
Às vezes os pais são poucos tolerantes para com os erros das
crianças e pressionam em demasia com a exigência de terem sempre boas notas, o
que poderá torná-las ansiosas, inseguras, com medo de falhar e com a experiência
de nunca serem suficientemente boas e verdadeiramente aceites.
As crianças têm muito tempo para aprender e têm igualmente o
direito a falhar, a errar e a ter dúvidas porque é no erro que iniciam uma nova
descoberta e aprendem. Para isso, os pais têm um papel fundamental na forma
como ensinam as crianças a aceitarem os erros como parte da aprendizagem, sem
se sentirem diminuídas e na forma como promovem a sua autonomia. A excessiva proteção
dos pais, traduz-se muitas vezes numa limitação da liberdade de acção e
expressão das crianças, bem como na sua imaturidade emocional para enfrentar
desafios, resolver problemas, gerir a frustração e a dor mental.
Numa escola com mais saúde mental terá de haver necessariamente uma
maior participação das crianças no processo de aprendizagem, em que aquilo que
aprendem é feito através da própria pesquisa, exploração e perguntas, o que vai
possibilitar o desenvolvimento em simultâneo de outras competências como pensar
criticamente, resolver problemas, trabalhar em equipa e comunicar.
Uma escola saudável é um lugar acolhedor, que promove a expressão
e o desenvolvimento de talentos e interesses e onde se respeita o ritmo de
aprendizagem de cada criança, porque é sabido que não aprendem todas ao mesmo
tempo e da mesma forma.
Numa escola com mais saúde mental é cultivada a curiosidade e o
entusiasmo pelo saber e as crianças são as protagonistas do próprio processo de
aprendizagem, fomentando-se o desenvolvimento de cidadãos ativos, conscientes e
críticos, mais preparados e resilientes em relação às exigências do mundo atual
marcado pela constante mudança e incerteza.
terça-feira, 26 de julho de 2022
Os benefícios dos espaços naturais verdes e azuis
Nas últimas décadas, muitos estudos têm apontado uma relação significativa entre o contacto com espaços azuis e verdes (como parques ou florestas, jardins, rios e mares) e a saúde física e mental. Evidências crescentes mostram-nos que passar tempo dentro ou ao redor de espaços verdes e azuis pode melhorar a saúde, nomeadamente através dos benefícios trazidos pela paisagem, pelos estímulos sensoriais visuais, auditivos e olfativos, assim como pela atividade física e interações sociais proporcionadas por estes ambientes.
É um facto: passar
tempo na natureza tem benefícios importantes para a saúde. Desde que a pessoa
goste, o contato com espaços verdes e azuis é muito benéfico para a saúde
mental e física; a comunhão com o meio natural pode potenciar a libertação da sensação
de prazer, o que leva a uma redução da ansiedade.
Podem ser
jardins, bosques, parques, trilhos, praias ou lagos. Estarmos envolvidos nestes
locais ajuda a diminuir o stress do dia-a-dia e tem impactos positivos na saúde
mental. “O contacto com a natureza está associado a melhor saúde mental,
física, e maior sensação de bem-estar. As pessoas sentem-se melhor, mais
felizes, num estado de humor mais positivo”, diz Luísa Lima, professora catedrática
de Psicologia do Iscte e investigadora nesta área.
Além da sensação
de bem-estar, de leveza e de liberdade, a ligação com espaços verdes e azuis
naturais tem outros benefícios comprovados pela ciência. Evidências sugerem que
estes espaços para além de reduzir o stresse, podem revigorar o humor, melhorar
a concentração e até têm o potencial de estimular o nosso sistema imunológico. Um
estudo de 2019, publicado na revista Scientific Reports, revelou que fazer
mergulho por apenas 120 minutos por semana pode ajudar a melhorar a nossa saúde
e bem-estar de uma forma geral. Outros estudos revelaram que passar algum tempo
na natureza pode aumentar a produção de dopamina, endorfinas e oxitocina e
ainda estimular o nosso sistema imunológico. A frequência cardíaca diminui,
sentimo-nos mais calmos e o nosso pensamento fica mais claro. Passar mais tempo
em áreas verdes pode ter um impacto duradouro na nossa saúde e bem-estar -
reduzindo o número de visitas ao médico e até melhorando o humor a longo prazo.
Já um estudo publicado na revista científica Environmental Psychology mostrou
que apenas uma caminhada de 30 minutos num parque urbano reduziu
significativamente o pensamento negativo e repetitivo em participantes
saudáveis.
A evidência dos
benefícios de passar tempo na natureza é agora tão convincente que médicos em
alguns países, nomeadamente da Escócia prescrevem a atividade aos seus
pacientes com problemas cardíacos e com depressão.
- O termo
japonês Shinrin-yoku (banhos de floresta) define uma prática que explora os
benefícios da interação com a natureza. Um estudo publicado na revista
científica Environmental Health and Preventive Medicine mostrou que as pessoas
que estiveram em contato com ambientes florestais obtiveram uma redução dos
seus níveis de stress, tensão arterial mais baixa e batimentos cardíacos mais
reduzidos, em comparação com as pessoas que estiveram em contato com ambientes
urbanos. Os especialistas afirmam que estes resultados contribuem para o
desenvolvimento de um campo de investigação voltado para a medicina florestal,
que poderá ser utilizado como estratégia para a medicina preventiva.
- Uma investigação publicada na revista científica Urban Forestry and Urban Greening revelou que a interação com meios naturais aumenta a criatividade. Este estudo foi feito através da observação de um workshop de Forest Therapy (um tipo de terapia que explora o contato com a natureza) que durou três dias. Uma análise que mostrou que o desempenho criativo dos participantes aumentou em 27,74%. Além disso, a investigação concluiu que este tipo de ligação contribuiu para uma melhoria da saúde física e mental dos participantes, bem como para o aumento das emoções agradáveis e a redução das emoções desagradáveis.
- As plantas parecem ter influência no desenvolvimento de uma recuperação após uma cirurgia. Um estudo publicado na revista científica Alternative and Complementary Medicine revelou que a visualização de plantas durante o período de recuperação após uma cirurgia teve uma influência positiva nos resultados de saúde e de recuperação de doentes em pós-cirurgia. Os pacientes em quartos de hospital com plantas tiveram respostas fisiológicas significativamente mais positivas. Tensão arterial mais baixa, menos dor e menos fadiga foram os resultados apresentados por tal grupo. Estas foram as melhorias em comparação com os pacientes que estavam em salas de recuperação sem flores e plantas. Além disso, o primeiro grupo também se sentiu mais confiante.
- Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, nos EUA, revelou que espaços com mais vegetação estão associados à diminuição da mortalidade. Após entrevistarem 108 mil mulheres, os especialistas chegaram à conclusão de que a taxa de mortalidade daquelas que viviam mais perto de espaços verdes era 12% menor. Valor este comparando com aquelas que viviam em espaços sem qualquer tipo de vegetação. Estas evidências são ainda mais fortes para as causas de morte que estão relacionados com cancro ou doenças respiratórias. Os espaços verdes estimulam as pessoas a praticarem atividade física e ainda, aumentam o envolvimento social, levando assim a uma melhoria da saúde física e mental.
Assim, fomentar
a preservação dos nossos rios, lagos, oceanos, florestas e parques é essencial
para atenuar os efeitos das alterações climáticas, para travar o declínio da
biodiversidade, mas também para promover a nossa saúde física e mental. Num
cenário mundial de urbanização crescente, prevê-se que até 2050 a população a
viver em áreas urbanas possa passar dos atuais 55% para 68%. Nesta situação, os
espaços verdes e azuis que integram a maioria das paisagens urbanas revelam-se
de uma extrema importância na promoção da saúde.
Existe a
necessidade das autarquias criarem mais opções e novos reforços de trilhos junto
a rios, melhorar as condições dos parques e fomentar o uso destes locais para
que as pessoas possam usufruir desse tipo de contato e assim promover a saúde
física e mental.
quarta-feira, 11 de maio de 2022
O Humor como Antídoto contra o Medo
Numa era particularmente
desafiante, capaz de fazer emergir uma latente angústia existencial, podemos
encontrar no humor um recurso importante para fintar o medo que temos da
doença, do sofrimento e da morte.
O medo associado à finitude, relaciona-se
intimamente com a dificuldade em lidar com a incerteza e com o desconhecido.
Aceitar que estas são angústias inerentes à condição humana, facilita o seu
reconhecimento e a sua integração, abrindo-se a possibilidade para caminhar de
mãos dadas com o medo, sem que ele nos paralise.
Uma atitude de humor perante a
vida implica a capacidade para reavaliar e ressignificar uma situação à partida
sentida como demasiado exigente, retirando-lhe o cariz ameaçador e introduzindo
uma maior leveza do ponto de vista cognitivo e emocional. Esta atitude criativa
do humor, permite ganhar distância das situações geradoras de stress,
facilitando a construção de novas perspetivas e soluções. Nas sábias palavras
de Chaplin: “Através do humor vemos no que parece racional, o irracional; no
que parece importante, o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de
sobrevivência e preserva a nossa saúde mental.”
O poder do riso que mata o medo,
não só tem uma tradução emocional caracterizada por uma maior sensação de bem
estar e prazer pela libertação de endorfinas, mas também no reforço do sistema
imunitário.
Cultivar uma atitude de humor não
passa pelo exercício de sarcasmo ou da diminuição do outro, mas por uma
habilidade para desdramatizar e desproblematizar, bem como pelo reconhecimento
de que nada é garantido e a única certeza que temos é o momento presente.
O riso tem o poder inigualável de
nos colocar instantaneamente no aqui e agora e de nos permitir saborear a vida,
de forma visceral. A gratidão por este presente que nos é oferecido diariamente
e que comporta em si uma série de oportunidades é a base para a resiliência. E citando novamente o mestre Chaplin:
“Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre.”
Em período de pandemia, no qual os desafios e as necessidades de
proteção são uma realidade, continuar a alimentar o entusiamo e o prazer por
estarmos vivos, é continuar a gerar energia vital para nós e para outros que
dela poderão necessitar. Essa energia traduz-se pois numa maior
disponibilidade, empatia e conexão com os outros, permitindo-nos responder às
suas necessidades, quer seja na forma de apoio emocional ou funcional.
No humor está sempre implícita a
conexão com o amor. O saber rir-se de si, nada mais é, que uma expressão do
amor próprio, como um abraço que acolhe as próprias fragilidades e erros. Perante a adversidade, o humor é o que nos
resgata do caos e da destruição, preservando os laços connosco e com os outros.
É sem dúvida de uma sofisticação, que, de forma quase mágica, traz o outro para
nós e reforça os vínculos afetivos.
O riso compartilhado é das formas
mais eficazes de lidar com os problemas da relação e o melhor antídoto contra
as mágoas e ressentimentos, criando um clima emocional de amor, compaixão e
aceitação, que aglutina e impede a destruição.
Este clima afetivo possibilita o olhar para dentro em segurança, sem o
risco do julgamento culposo, promovendo ajustes e reestruturações que potenciam
o crescimento pessoal.
O humor devolve a esperança de sair
de um lugar de resignação e sofrimento para um outro onde o prazer de estar
vivo é possível, como se mudasse a música da dança da vida de um fado português
para um samba brasileiro.
Através do humor todo o poder
conferido a falhas, imperfeições e contradições é desconstruído, tendo por isso
uma função libertadora que restituí o poder ao próprio como protagonista da sua
vida.
segunda-feira, 18 de abril de 2022
Cuidar de mim não me torna egoísta!
Cuidar de nós próprios, ter momentos de autocuidados é o que nos permite estar bem, equilibrados, estáveis e só dessa forma podemos de forma saudável apoiar e darmo-nos aos outros sem nos fazermos mal. Cuidar de nós próprios não nos torna pessoas egoístas!
segunda-feira, 14 de março de 2022
Educando para a Empatia e Não-Violência em Tempos de Guerra
Vivemos atualmente num contexto de conflito armado e num clima
emocional de incerteza, insegurança e medo.
Também nas escolas, desde há muito tempo,
que se vivem “guerras”, verdadeiros atentados à dignidade e integridade
psicológica de muitos alunos, vítimas de bullying físico, verbal e social
(exclusão). O cyberbullying é hoje uma realidade caracterizada pelo uso da
tecnologia para assediar, ameaçar e humilhar outra pessoa de forma repetida.
Pode acontecer em qualquer local, a qualquer hora e atormentar alguém 24h por
dia, perante centenas de testemunhas, sem nunca ficar revelada a verdadeira
identidade do agressor. As vítimas podem sentir-se encurraladas e desenvolver
problemas de saúde psicológica, como a ansiedade e depressão e cometer
suicídio.
À semelhança do que acontece na sociedade, também nas
escolas impera o paradigma da competitividade, em que o crescimento do próprio
se faz pela anulação do outro. É a teoria da soma zero, em que aquilo que eu
ganho é aquilo que o outro perde e que conduz ao desenvolvimento de seres
humanos mais insensíveis, desafetados e pouco empáticos. Essa indiferença
emocional é visível nas escolas quando alunos passam por outros que estão a chorar
e continuam o seu caminho, sem qualquer manifestação de cuidado e empatia pelo
sofrimento do seu semelhante.
Por outro lado, a não aceitação da diferença, seja em
relação à raça, orientação sexual, religião, entre outras, traduz-se em
atitudes de humilhação, discriminação e exclusão nas escolas, locais que
deveriam ser de inclusão e esperança, pautados pela ética do cuidar e educar.
No cenário atual de guerra, urge mais do que nunca,
transferir os comportamentos de solidariedade, compaixão e de ajuda, que se têm
multiplicado por toda a parte, para os contextos da escola, potenciando-os nos
alunos de forma a caminhar-se no sentido da erradicação do bullying.
Muitas das escolas preparam-se para receber e integrar
estudantes ucranianos, em situação de grande vulnerabilidade emocional, pelo
que o acolhimento nas nossas escolas, nomeadamente por parte dos alunos que
serão os seus pares, é fundamental. Importa trabalhar com os nossos alunos a
aceitação das diferenças, a capacidade de descentração e empatia (capacidade de
se colocar no lugar do outro), a solidariedade, a compaixão e o cuidado ao
outro.
A guerra só poderá ser combatida com a Educação para a Não-Violência,
visando aquele que é o bem maior para o maior número de pessoas e privilegiando
o aspeto grupal ao individual.
Só transformando o sistema atual de competição num sistema
de aliança, colaboração e cooperação é que poderão haver ganhos para ambas as
partes e ainda produzir-se um terceiro ganho, a modificação do contexto global,
em prol de uma sociedade mais justa, solidária e integradora.