Numa era particularmente
desafiante, capaz de fazer emergir uma latente angústia existencial, podemos
encontrar no humor um recurso importante para fintar o medo que temos da
doença, do sofrimento e da morte.
O medo associado à finitude, relaciona-se
intimamente com a dificuldade em lidar com a incerteza e com o desconhecido.
Aceitar que estas são angústias inerentes à condição humana, facilita o seu
reconhecimento e a sua integração, abrindo-se a possibilidade para caminhar de
mãos dadas com o medo, sem que ele nos paralise.
Uma atitude de humor perante a
vida implica a capacidade para reavaliar e ressignificar uma situação à partida
sentida como demasiado exigente, retirando-lhe o cariz ameaçador e introduzindo
uma maior leveza do ponto de vista cognitivo e emocional. Esta atitude criativa
do humor, permite ganhar distância das situações geradoras de stress,
facilitando a construção de novas perspetivas e soluções. Nas sábias palavras
de Chaplin: “Através do humor vemos no que parece racional, o irracional; no
que parece importante, o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de
sobrevivência e preserva a nossa saúde mental.”
O poder do riso que mata o medo,
não só tem uma tradução emocional caracterizada por uma maior sensação de bem
estar e prazer pela libertação de endorfinas, mas também no reforço do sistema
imunitário.
Cultivar uma atitude de humor não
passa pelo exercício de sarcasmo ou da diminuição do outro, mas por uma
habilidade para desdramatizar e desproblematizar, bem como pelo reconhecimento
de que nada é garantido e a única certeza que temos é o momento presente.
O riso tem o poder inigualável de
nos colocar instantaneamente no aqui e agora e de nos permitir saborear a vida,
de forma visceral. A gratidão por este presente que nos é oferecido diariamente
e que comporta em si uma série de oportunidades é a base para a resiliência. E citando novamente o mestre Chaplin:
“Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre.”
Em período de pandemia, no qual os desafios e as necessidades de
proteção são uma realidade, continuar a alimentar o entusiamo e o prazer por
estarmos vivos, é continuar a gerar energia vital para nós e para outros que
dela poderão necessitar. Essa energia traduz-se pois numa maior
disponibilidade, empatia e conexão com os outros, permitindo-nos responder às
suas necessidades, quer seja na forma de apoio emocional ou funcional.
No humor está sempre implícita a
conexão com o amor. O saber rir-se de si, nada mais é, que uma expressão do
amor próprio, como um abraço que acolhe as próprias fragilidades e erros. Perante a adversidade, o humor é o que nos
resgata do caos e da destruição, preservando os laços connosco e com os outros.
É sem dúvida de uma sofisticação, que, de forma quase mágica, traz o outro para
nós e reforça os vínculos afetivos.
O riso compartilhado é das formas
mais eficazes de lidar com os problemas da relação e o melhor antídoto contra
as mágoas e ressentimentos, criando um clima emocional de amor, compaixão e
aceitação, que aglutina e impede a destruição.
Este clima afetivo possibilita o olhar para dentro em segurança, sem o
risco do julgamento culposo, promovendo ajustes e reestruturações que potenciam
o crescimento pessoal.
O humor devolve a esperança de sair
de um lugar de resignação e sofrimento para um outro onde o prazer de estar
vivo é possível, como se mudasse a música da dança da vida de um fado português
para um samba brasileiro.
Através do humor todo o poder
conferido a falhas, imperfeições e contradições é desconstruído, tendo por isso
uma função libertadora que restituí o poder ao próprio como protagonista da sua
vida.
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