Começa agora um novo ano letivo, considerado o mais normal desde o início da pandemia, sem horários desfasados, máscaras ou corredores de sentido único. No entanto, os efeitos de dois anos de pandemia, durante os quais as crianças estiveram limitadas na sua ação, expressão e socialização, não estão ultrapassados.
Um estudo do Ministério da Educação de maio concluiu que um terço dos alunos apresentava sinais de sofrimento psicológico, devendo as escolas estar muito atentas a estas manifestações para responderem de forma ajustada mas também repensarem o seu próprio modelo de funcionamento.
Um dos grandes problemas atuais que atenta contra a saúde mental
das crianças é o tempo que passam nas escolas, sentadas na sala de aula quase
de manhã até à noite e que em muitos casos ultrapassa a média de 8 horas de
trabalho de um adulto. As crianças para crescerem saudáveis precisam de tempo
para brincarem, pelo menos duas horas por dia, de tempo para elas próprias,
para explorarem o espaço público e da sua comunidade, e isso não se coaduna com
agendas assoberbadas de atividades.
Quem não brinca não aprende a pensar, não se desenvolve plenamente
do ponto de vista social, emocional e cognitivo e não é por estarem mais tempo
na escola que as crianças aprendem melhor. Quando as crianças estão na escola
quando podiam estar com os pais, isso revela que as hierarquias e as prioridades
estão desajustadas. A família é sempre muito mais importante que a escola e o bem-estar
e a felicidade das crianças depende em grande parte da presença dos pais, da
sua disponibilidade emocional e do convívio familiar.
Tornar o processo de aprendizagem uma experiência saudável e em
contextos que promovam não só a aquisição de conhecimentos mas também o
desenvolvimento integral dos alunos, nas suas diferentes dimensões, é hoje a
missão da escola em colaboração com as famílias.
Para além das notas na
escola, importa valorizar as competências que as crianças aprendem nos outros
contextos de vida e o seu desempenho, não só como alunos, mas também como
filhos, irmãos, netos e colegas.
Às vezes os pais são poucos tolerantes para com os erros das
crianças e pressionam em demasia com a exigência de terem sempre boas notas, o
que poderá torná-las ansiosas, inseguras, com medo de falhar e com a experiência
de nunca serem suficientemente boas e verdadeiramente aceites.
As crianças têm muito tempo para aprender e têm igualmente o
direito a falhar, a errar e a ter dúvidas porque é no erro que iniciam uma nova
descoberta e aprendem. Para isso, os pais têm um papel fundamental na forma
como ensinam as crianças a aceitarem os erros como parte da aprendizagem, sem
se sentirem diminuídas e na forma como promovem a sua autonomia. A excessiva proteção
dos pais, traduz-se muitas vezes numa limitação da liberdade de acção e
expressão das crianças, bem como na sua imaturidade emocional para enfrentar
desafios, resolver problemas, gerir a frustração e a dor mental.
Numa escola com mais saúde mental terá de haver necessariamente uma
maior participação das crianças no processo de aprendizagem, em que aquilo que
aprendem é feito através da própria pesquisa, exploração e perguntas, o que vai
possibilitar o desenvolvimento em simultâneo de outras competências como pensar
criticamente, resolver problemas, trabalhar em equipa e comunicar.
Uma escola saudável é um lugar acolhedor, que promove a expressão
e o desenvolvimento de talentos e interesses e onde se respeita o ritmo de
aprendizagem de cada criança, porque é sabido que não aprendem todas ao mesmo
tempo e da mesma forma.
Numa escola com mais saúde mental é cultivada a curiosidade e o
entusiasmo pelo saber e as crianças são as protagonistas do próprio processo de
aprendizagem, fomentando-se o desenvolvimento de cidadãos ativos, conscientes e
críticos, mais preparados e resilientes em relação às exigências do mundo atual
marcado pela constante mudança e incerteza.
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