Numa sociedade
onde o fazer, fazer, fazer, impera; onde há uma pressão constante por
desempenhos excelentes e uma rentabilidade máxima e onde o fazer nada, passou a
ser visto negativamente, numa urgência constante em responder às expectativas
pessoais e sociais, estão criadas as condições ótimas para o desenvolvimento de
quadros de stresse, mal-estar, depressão e insatisfação... É nesta sociedade em
que vivemos atualmente!
Parece que foi
criada uma ideia geral, que assumimos totalmente, que o valor enquanto pessoa
está diretamente ligado ao que fazemos. Mas e como é procurar sentirmo-nos com
valor enquanto pessoas, simplesmente pelo que somos? Não pelo que fazemos, nem
pelo que temos. Apenas ser! Como seria eu procurar o bem-estar geral enquanto
pessoa apenas? O que isso significa? Como é sentir isso? E se imaginarmos fazer
tudo o que desejamos fazer, como nos iríamos sentir? Totalmente realizados? E
depois disso? A ambição de atingir algo mais continua? Essa exigência de se
querer ter mais tem limites? Talvez possam parecer perguntas estranhas...
Talvez sejam. Mas tentar perceber o que estas questões fazem sentir pode ser
interessante, fica a sugestão!
A forma como as
pessoas se julgam, se comparam e se sentem julgadas pelos outros (mesmo que não
o sejam), leva a um sentimento de culpa, que vai incutindo na maioria das
pessoas a crença - ou estamos a produzir, a criar, a investir no nosso tempo de
forma clara, ou somos preguiçosos. Parece que o descanso deixou de ser bem
aceite, parece que cada vez mais as pessoas sentem que o não fazer nada é um
desperdício de tempo. Às vezes, até quando nos apercebemos que precisamos de
descanso e que um momento de não fazer nada seria tão bom, há aquela voz
crítica que nos diz que não podemos, não é suposto... Tanto que essa ideia nos
é passada, que vai sendo incorporada em nós! É passada por quem? Chefes,
empresas, media, sociedade de forma geral... Ninguém quer ser visto como
preguiçoso.
No entanto, uma pausa
durante o dia, o descanso ao final da tarde, um fim-de-semana sem olhar para o
correio eletrónico, momentos para apenas contemplar o que está à nossa volta
(que muitas vezes nem reparámos bem, mesmo ao estarem ali todos os dias), ouvir
uma música relaxante, tomar um banho quente, brincar com os gatos, dar um
passeio, fazer uma sesta, beber um chá... Cortar com o ritmo acelerado em que
muitos de nós vivemos, pode ser realmente vitalizador, reconstrutivo, gerador
de bem-estar e até mesmo produtivo!
Vários estudos
mostram que um tempo destinado e não organizado de inatividade, equilibrado com
a gestão das atividades, promove uma maior energia, foco, concentração e clareza
mental. Há a tendência de se valorizar demasiado o tempo em que estamos ativos,
mas é essencial reconhecermos a importância da inatividade também! Pela nossa
Saúde! As neurociências já demonstraram a importância dos “tempos de nada”,
indutores da sensação de bem-estar. É essencial acalmar a mente, parar de examinar
e afastar totalmente os pensamentos criadores de stresse, essas paragens
permitem uma reorganização mental, que é a base para novos insights e novas
soluções. Quantas vezes estamos a tentar encontrar uma solução há horas...e é
quando decidimos que fica para o dia seguinte e estamos relaxados que surge a
ideia, a solução? É isso! Ao conseguirmos estar mais relaxados, são anulados os
efeitos negativos das hormonas do stresse e produzidos neurotransmissores que
acentuam a sensação geral de bem-estar.
Revista Psicologia na Actualidade, Psychology Now, nº 58 Julho-Agosto-Setembro 2022.
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