Basta olhar para
trás e ver pela História e pelas experiências recentes para sabermos que as
crises sanitárias rapidamente se associam a crises económicas e sociais. A
pandemia COVID-19 deixou muitas famílias em dificuldades financeiras, em
situações de desemprego ou com diminuição dos seus rendimentos, depois veio uma
guerra que como consequência potenciou uma inflação nos preços.
Neste momento, muitos vivem preocupados com a estabilidade e com a continuidade
da sua situação profissional e com a sua capacidade de pagar habitação,
alimentação, transporte... Se a situação
de pandemia por si só foi geradora de preocupação, ansiedade e stresse, quando
temos preocupações com a nossa sustentabilidade financeira e da nossa família,
os níveis de preocupação e ansiedade aumentam.
Segundo
pesquisas conduzida pela APA – American Psychological Association, o dinheiro é
a principal fonte de stresse para a maioria das pessoas, e estudos realizados
durante esta pandemia já demonstram que a ansiedade financeira pode ser tão
elevada quanto a ansiedade relativa à saúde. Para além disso, o problema
financeiro pode agravar as situações de quem já está com problemas
psicológicos, intensificando todos os sintomas nomeadamente pensamentos
negativos em relação a si, à vida e ao futuro, bem como os quadros ansiosos,
melancólicos e de desesperança.
Desta forma podemos dizer que a saúde financeira afeta a nossa saúde mental, mas também que a saúde mental afeta a nossa saúde financeira. Pessoas com sintomas de depressão ou ansiedade por um longo período de tempo sentem maior dificuldade em gerir as suas finanças, pois a intensidade dos sentimentos de medo, ansiedade e preocupação, aumentam a impulsividade na tomada de decisões, podendo trazer consequências ainda mais negativas em várias áreas de vida.
Assim, torna-se fundamental olhar paras estas duas realidade e uni-las: literacia em saúde e literacia financeira. É importante aprender a gerir a nossa ansiedade financeira e adotar comportamentos que promovam escolhas financeiras que nos façam sentir mais tranquilos e seguros. Para fortalecer a resiliência na gestão de crises como a que vivemos, é fundamental melhorar os conhecimentos nesta área, nomeadamente desenvolver hábitos para maximizar uma boa gestão do orçamento familiar, promover o recurso responsável ao crédito e criar hábitos de precaução, sensibilizando para situações de risco que podem afetar o rendimento. Por outro lado, a literacia em saúde, apesar de ser uma conceção recente, tem vindo a ganhar uma crescente importância e destaque nos domínios da saúde pública e dos cuidados de saúde. Assim, em 1998, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu literacia em saúde como o “conjunto de competências cognitivas e sociais e a capacidade dos indivíduos para acederem à compreensão e ao uso da informação de forma a promover e manter uma boa saúde”.
Como potenciar ambas? Estando estas duas realidades intimamente ligadas, e sendo imprescindíveis no desenvolvimento de indivíduos mais conscientes de si, responsáveis e resilientes, será imperativo o desenvolvimento destas soft skills na formação educativa das nossas crianças e jovens. É fundamental que o ensino esteja sensibilizado para a importância da inclusão da literacia financeira e da literacia em saúde nos seus programas curriculares, na medida em que o desenvolvimento destas competências, é decisivo para a formação de adultos mais equilibrados e com mais condições de aceder a situações futuras de sucesso, possibilitando a construção de uma sociedade mais justa e com menos desigualdades.
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