Janeiro é
por excelência o mês que representa a renovação de um ciclo e o traçar de objetivos
para os próximos 12 meses.
No entanto,
este é um processo que muitas vezes se faz acompanhar de frustração e ansiedade
porque inevitavelmente nos confronta com os objetivos e os planos defraudados
do ano anterior e que, com frequência, transitam para o ano seguinte.
Esta
autocritica em relação ao que não foi alcançado, banalizando até as pequenas
conquistas conseguidas, acaba por fomentar a culpabilização e a comparação com
aqueles que nos rodeiam, minando a nossa autoconfiança e sentido de competência.
Por outro lado, a pressão e a exigência severa, colocada na concretização dessas metas durante o ano que agora começa, poderão igualmente gerar ansiedade e mal-estar psicológico.
Se não podemos negar a importância de fazer planos de forma realista, com consciência de quem somos e do que nos move, bem como das nossas forças e limitações, também não nos podemos esquecer que a vida é naturalmente imprevisível e que muitos fatores envolvidos não dependem de nós.
Transitar de
um diálogo interno punitivo para um outro de gentileza e autocompaixão pelas
nossas dores e dificuldades, é o primeiro passo para retomar o caminho. E aqui
a palavra caminho, como processo, no fundo como vida, poderá ganhar uma nova dimensão,
tão ou mais importante que a palavra meta.
Independentemente da meta ser alcançada ou
não, é no caminho, com todas as suas curvas e contracurvas, retas e rampas de
lançamento, que crescemos e nos construímos como pessoa e é nessa construção
que muitas vezes as próprias metas se transformam.
A
valorização de quem somos e do nosso caminho implica um exercício importante de
gratidão, muitas vezes esquecido, mas que nos permite ficar gratos por quem
temos e pelo que temos na nossa vida. É nos momentos de profundo sofrimento,
como a morte, a perda ou a doença, que valorizamos a alegria sentida nas coisas
mais simples mas significativas da vida. Honrar o ordinário e deixar de lado a
apologia do extraordinário e a cultura de escassez é o que nos permite
transitar da insuficiência e da vergonha para uma maior tolerância à
vulnerabilidade, com a qual poderemos abraçar, de forma ainda mais plena, os
desafios do novo ano.
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